sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Maratona de jogos provoca explosão de lesões no Brasileiro Publicada em 8/10/2010 às 8:48

Problemas musculares atormentam clubes na reta final do torneio

A falta de organização do futebol brasileiro explica boa parte das dezenas de lesões que tomam conta da Série A do Brasileirão. Hoje, são 56 jogadores nos departamentos médicos dos 12 principais clubes do país – quase o dobro em relação ao mesmo período do ano passado. A maratona de jogos imposta pelo bagunçado calendário nacional vem provocando uma explosão de problemas musculares.
Na quinta-feira, os clubes do Brasileirão chegaram à 14 rodada seguida sem uma semana completa de descanso. Foram 14 partidas disputadas em 49 dias – em média, um jogo a cada 84h. A sequência foi provocada pela pausa de quase 40 dias no campeonato durante a Copa do Mundo, o que espremeu o restante do calendário.
Com dois ou até três compromissos por semana, os jogadores estão sensivelmente mais sujeitos a lesões, principalmente musculares, já que não se consegue fazer o trabalho adequado de condicionamento físico com os atletas.
– O mais afetado é sempre a musculatura. É o elemento mais vulnerável. E também todas as estruturas do aparelho locomotor, como articulações e cartilagem. Elas sofrem com o esforço repetitivo – diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros Neto, que trabalhou durante 25 anos no São Paulo.
Um estudo publicado em abril deste ano pela revista “The American Journal of Sports Medicine” acompanhou 32 jogadores de clubes de ponta da Europa durante duas temporadas. A análise do desempenho dos atletas revelou que o risco de lesão aumenta 625% quando se disputam duas partidas por semana, em vez de uma.
– Há lesões causadas por trauma que não há como evitar, já que o futebol é um esporte de contato. Em relação às musculares, há como reduzir o risco. Mas isso depende muito de fortalecimento e trabalho preventivo. Aqui, não é possível fazer isso. O atleta ficaria ainda mais sobrecarregado – explica José Sanchez, médico do São Paulo.
Em vez dos trabalhos de reforço muscular, as equipes médicas dos clubes praticamente se resumem a reabilitar os jogadores.
– Você precisa de 48h a 72h para recuperar a condição física do jogador. Depois disso, é que se faria um trabalho de fortalecimento. Mas daí vem o jogo seguinte e um novo desgaste. Com isso, a recuperação vai ficando ainda mais difícil – afirma Ronaldo Torres, preparador físico do Fluminense.
Confira bate-bola exclusivo com Rafael Sobis, atacante do Internacional que se recupera de lesão muscular:
LANCENET!: Você voltou há pouco do Oriente Médio. A mudança de calendário fez muita diferença, tendo de jogar a cada três dias?
RAFAEL SOBIS: É algo que qualquer jogador que volta do exterior vai sentir. Aqui no Brasil, são muitos jogos. Basta ver que quase todos que voltam passam por dificuldades. Às vezes, sofrem com lesão. E comigo não foi diferente. É preciso um tempo para se readaptar.
LNET!: Quanto tempo você considera ideal entre uma partida e outra? Quantas vezes seguidas você acha aceitável jogar toda quarta e domingo?
Não tem um jeito que dá para dizer que é o correto, mas jogar sempre dia de semana e fim de semana é muito complicado. A sequência aqui é muito grande. Lógico que o ideal é sempre ter um bom tempo para treinamentos, mas essa não é a realidade. Na Europa, quando há muitos jogos, pelo menos as viagens não são longas. Aqui, você atravessa o país e isso desgasta muito.
LNET!: É possível jogar em alto nível durante 14 rodadas com partidas quarta e domingo?
É muito complicado. Basta ver que todos os times estão sofrendo com lesões. O que acontece no futebol brasileiro é desumano com os atletas. Por isso, muitas equipes perdem jogadores importantes. Isso pode ser ruim para a competição, inclusive.
LNET!: É preciso mudar urgentemente o calendário brasileiro?
Acho que precisa se pensar uma maneira para não ter tantos jogos em sequência. Neste ano, teve a Copa, que dificultou ainda mais, mas mesmo assim não justifica essa quantidade de jogos.

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