sábado, 29 de outubro de 2011

Daniel Carvalho:´´Vivi minha pior fase no Atlético-MG


Daniel Carvalho vive boa fase pelo Atlético-MG (Foto: Gil Leonardi)
Em entrevista exclusiva ao LANCE!NET, o meia-atacante Daniel Carvalho comenta os altos e baixos que teve em sua carreira
Thiago Fernandes
Publicada em 29/10/2011 às 08:13
Belo Horizonte (MG)
Altos e baixos marcaram a carreira de Daniel Carvalho. O jogador sempre teve problemas de oscilação, desde a época em que saiu do Internacional, com apenas 20 anos de idade, e foi para o CSKA Moscou (RUS).
A passagem do jogador pelo Atlético-MG, não tem sido diferente. O meia-atacante chegou ao clube mineiro no meio do ano passado, sofreu com as oscilações, alternou entre o banco de reservas e a titularidade e, agora, finalmente, se firmou na equipe alvinegra.
Em conversa com o LANCE!NET, na Cidade do Galo, o jogador comentou os bons e maus momentos que passou em sua trajetória como atleta. Daniel Carvalho revelou o motivo de seu retorno ao futebol brasileiro e ainda apontou o período que trabalhou ao lado de Dorival Júnior como o pior de sua carreira.
LANCE!NET: Você começou como revelação do Internacional e foi para a Rússia. Aquele foi o auge de sua carreira?
Daniel Carvalho: Profissionalmente, foi. Até porque na época em que eu cheguei no CSKA Moscou, tinha muito tempo que eles não ganhavam nada. Em dois anos, eles ganharam oito títulos. Individualmente falando, eu fui melhorando no clube. No primeiro ano, eu cheguei e tive um pouco de dificuldade para me adaptar. No segundo ano, praticamente ninguém me conhecia, mas eu joguei muito bem e fui o primeiro estrangeiro a ganhar o título de melhor jogador do Campeonato Russo. Então, eu tive grandes momentos na Rússia.
L!NET: E a Seleção...
Daniel Carvalho: Eu somei convocações pela Seleção Brasileira enquanto eu estava na Rússia. Eu estava muito bem. Aconteceram nove convocações e eu estava em todas elas. Eu cheguei a ser titular, inclusive, em alguns jogos. Naquela partida contra a Argentina, que nós ganhamos de 3 a 1, lá na Inglaterra, eu era titular. Mas depois eu operei e fiquei oito meses parado. Depois da cirurgia, desandou tudo. Eu tive bastante dificuldades para recuperar o bom futebol. Mas eu também não foquei em Seleção Brasileira na época. Minha intenção era voltar a jogar e tentar brilhar pelo clube.
L!NET: Essa lesão atrapalhou sua carreira?
Daniel Carvalho: Atrapalhou um pouco. Depois da lesão, eu fiquei oito meses parado e eu nunca mais fui aquele jogador que eu era. Mas, hoje, graças a Deus, eu estou recuperando de novo. Depois, eu ainda tive alguns bons momentos, mas essa lesão me prejudicou bastante na carreira. Lesão no joelho é sempre um pouco complicada. Eu ainda tenho alguns sintomas dessa cirurgia. Tenho um pouco de dificuldades, que é normal e natural, mas nada que me impeça de jogar futebol.
L!NET: Como foi aquela volta ao Internacional?
Daniel Carvalho: Eu tive uma volta de cinco meses ao Internacional. Se pegarmos vários jogadores que retornaram por pouco tempo, seis meses ou até mesmo um ano, eles sempre têm dificuldades de readaptação. Eu posso citar o Rafael Sóbis, que voltou para o Inter na mesma época que eu. Ele não conseguiu ter o mesmo desempenho da época em que o Inter ganhou a Libertadores. O Vágner Love também sofreu com isso. Quando ele voltou ao Palmeiras, demorou um tempo para se readaptar. Na época que eu voltei para o Inter, eu tinha que ficar 20 dias trabalhando em separado, aprimorando o físico, já que eu não estava jogando na Rússia. Mas em seis dias, eu já estava jogando uma partida oficial, como titular. Acabei me empolgando de aceitar jogar acima do peso e isso acabou me prejudicando. Na época, eu não me arrependi. Eu queria jogar e ajudar, então aceitei esse desafio de jogar acima do peso. Se pudesse voltar no tempo, ficaria de fora, não aceitaria jogar.
L!NET: E a passagem pelo futebol do Qatar?
Daniel Carvalho: Foi uma boa passagem, mas jogar no Qatar é mais para fim de carreira. Quando passei por lá, tinha 27 anos. Era um gurizão, novo. Lá, eles treinam apenas às 19h30, não concentram, o jogador chega duas horas antes da partida para jogar, tem 200, 300 pessoas assistindo ao jogo... Então, profissionalmente, é complicado almejar alguma coisa no Qatar. Mas é claro que financeiramente acaba pesando. Foi isso que me levou para lá. Na época, era uma proposta boa, financeiramente falando. Pelo fato de eu saber que não tinha mais prazer de jogar pelo CSKA, aceitei esse desafio. Tive bons momentos lá, mas não era o que eu queria até o final da minha carreira. Queria mais pressão, coisas novas. Por isso, decidi retornar ao futebol brasileiro.
L!NET: Você se arrependeu de jogar no Qatar?
Daniel Carvalho: Não, porque o dinheiro está na conta (risos). O dinheiro do meu filho está garantido. É o dinheiro que eu vou guardar para poder dar uma boa vida ao meu filho no futuro. Nós, principalmente os jogadores de futebol, não podemos rasgar dinheiro. Se temos uma proposta boa, temos de pensar. Na época em que eu fui para o Qatar, o que me movia mesmo era o dinheiro, até porque profissionalmente eu não vinha jogando no CSKA. Então, foi uma proposta que, financeiramente, me seduziu. Por isso, acabei aceitando.
L!NET: Depois de passar pelo Qatar, você chegou ao Atlético. Por que escolheu o clube mineiro?
Daniel Carvalho: Tinha alguns outros clubes do Brasil interessados em meu futebol. Eu tinha contrato a cumprir no CSKA, mas eu não queria voltar para a Rússia. Então, eu decidi rescindir meu contrato com o CSKA. Eu tirei dinheiro do meu bolso e paguei a rescisão. Na época em que eu vim para o Atlético, eu tinha interesse em trabalhar com o (Vanderlei) Luxemburgo. Esse foi um dos motivos que me fez fechar com o Atlético. Lembro que estava acertando os últimos detalhes do contrato com o presidente (Alexandre Kalil) e alguns clubes me ligaram, oferecendo o dobro, mas sem saber o que eu receberia. Foi até engraçado, porque o Kalil respondeu: "Quer receber o dobro, vai. Mas aqui eu te dou garantia que você vai receber em dia" (risos). Eu também não estava pensando no dinheiro. Vim para o Atlético pelo prazer de jogar com o Vanderlei. Sabia que o Atlético também tem uma torcida fanática. Foi isso que pesou na minha escolha.
L!NET: Você disse que sonhava em trabalhar com o Luxemburgo, que é um vencedor. Mas por que aquele time não deu certo?
Daniel Carvalho: É complicado dizer. Na teoria, tínhamos um baita elenco, mas na prática, não deu certo. É complicado achar um motivo. Este ano, temos as mesmas dificuldades. Esperamos que, no ano que vem, se eu permanecer, é claro, possamos fazer tudo diferente do que fizemos nesses últimos anos. O torcedor já comparece na briga contra o rebaixamento. Imagina se estivermos disputando o título. Será uma loucura. Tenho o sonho de jogar pelo Atlético e brigar pelas primeiras posições do Brasileiro.
L!NET: Tem contrato até maio de 2012. A vontade é permanecer, alguém já te procurou para resolver esta questão?
Daniel Carvalho: A partir de novembro, eu tenho direito de acertar pré-contrato com outra equipe, porque faltará seis meses para o meu contrato terminar. Mas é claro que a minha vontade é permanecer aqui no Atlético. Isso, infelizmente, não cabe a mim, cabe ao presidente decidir isso. Não só ele, como diretoria e comissão técnica. Eu pretendo entrar de férias em dezembro com a minha situação definida. Se possível, com uma renovação. Se não existir nenhum interesse da diretoria, eu sigo meu rumo. É claro que não vou acertar nenhum pré-contrato, mas sou novo. Não posso parar por agora. Então, tenho de esperar. Se tiverem interesse, eles vão me procurar.
L!NET: O Luxemburgo não deu certo no Atlético. Na sequência, o Galo fechou com o Dorival, que não te aproveitou muito na equipe. Teve algum problema com o treinador?
Daniel Carvalho: Não tive problemas com o Dorival. Se pensar por esse lado, ele teria problema comigo, com o Diego Souza, com o Réver, que estava no banco pouco antes de ele sair do clube. Eu acho que, quando o time não vence, tem de ter mudanças. Isso é normal e natural no futebol. Ele sempre procurou, da forma dele, a equipe ideal, uma equipe melhor. Sempre tinha de sobrar para um ou outro jogador. Teve uma época em que eu fui escolhido, como já aconteceu com o Réver e o Diego Souza, na época em que ele foi liberado para defender o Vasco. Ele sempre tentava achar o time ideal, mas não encaixou. Como pessoa, não tenho que falar nada dele. Sem dúvidas, mesmo eu passando um momento ruim com ele, só posso dizer que foi uma das melhores pessoas que trabalhei.
L!NET: Esse foi o pior momento de sua carreira?
Daniel Carvalho: Acho que foi. No Atlético, vivi o meu pior momento, principalmente, pelas lesões do ano passado, em que acabei me machucando muitas vezes. Mas também por esse ano, que sofri muita cobrança. Sempre falavam e questionavam: "O Daniel está acima do peso, ele se lesionou...". Então, acho que profissionalmente, foi o pior momento que passei. Agora, graças a Deus, está bem diferente.
L!NET: As críticas sobre o seu peso te incomodam?
Daniel Carvalho: Não me incomodam hoje. Já me incomodou bastante, mas hoje não ligo para isso mais. Até gosto quando as pessoas me chamam de gordinho, porque acabo me diferenciando dos outros em campo (risos). Acabo aparecendo mais. Hoje, eu levo na boa. Se a pessoa me chamar de gordo, não tem problema. Eu sei que estou correspondendo dentro de campo e ajudando o Atlético. Sei que não estou deixando de marcar, de ajudar no ataque, por causa do meu peso. Estou me sentindo muito bem. Então, se quiser me chamar de gordo, não tem problema. Não fico chateado, mas já fiquei muitas vezes.
L!NET: Depois do Dorival veio o Cuca. Ele chegou e quase te demitiu, mas você pediu uma segunda chance e correspondeu...
Daniel Carvalho: Quando o Cuca chegou, eu estava gripado, estava com dor de garganta, febre... Então, nos primeiros quatro dias do trabalho do Cuca, eu quase não aparecia no clube. Eu vinha aqui, ia ao médico e voltava para casa. Quando eu me recuperei, eu vim falar com ele, porque não tinha me apresentado ainda, devido a doença. Eu me coloquei à disposição e disse que queria ajudar. Até porque na semana anterior, ainda no trabalho com o Dorival, o (diretor de futebol Eduardo) Maluf tinha me comunicado que o Dorival não queria mais contar comigo. Quando o Dorival foi demitido, o Maluf me disse que era vida nova, que estava chegando um novo treinador e que eu começaria do zero. Até então, eu achava que estava no grupo. Mas quando eu fui falar com o Cuca, ele me disse que o presidente não contava comigo. Eu fui até o Kalil, pedi uma segunda chance. Ele até brincou: "Você vai querer comprar essa briga?". Eu aceitei e, graças a Deus, consegui dar a volta por cima e estou bem aqui no Atlético.
L!NET: Qual foi a importância da sua família, em especial do seu filho, nos seus momentos difíceis?
Daniel Carvalho: A minha família sempre esteve comigo. Nessa época, eu estava passando por um momento delicado. Estava me separando da minha esposa, meu filho, inclusive, está em Porto Alegre. Mas, no momento da separação, eu disse que era até para eu me focar um pouco mais no meu trabalho. Mas a minha família sempre esteve do meu lado, me ajudando muito. Sou grato a eles por isso.

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