Preços baixos, canais de venda falhos e falta de ações diminuem receitas no Brasil. Calendário é entrave
LANCEPRESS!
Publicada em 29/12/2011 às 07:00
Rio de Janeiro (RJ)
O bom momento econômico experimentado pelos clubes brasileiro poderia ser melhor. Um rápido balanço do ano de 2012 mostra que, se por um lado expandiram suas receitas com direitos de transmissão, por outro ainda engatinham na exploração de estádios e bilheterias.
Nas últimas sete temporadas, as receitas com ingressos cresceram, mas abaixo de seu potencial. De 2005 para cá, os ganhos saltaram de R$ 55,4 milhões para R$ 117,7 milhões. Para especialistas, os preços dos ingressos são um problema. Segundo estudo elaborado pela consultoria BDO RCS, os valores ainda estão “muito baixos” comparados aos europeus.
Em 2005, o preço médio dos ingressos no Brasileirão era de R$ 9,23. Neste acho, chegou a R$ 20,79 – um aumento de 225%.
Mesmo distantes dos praticados na Europa – um ingresso para ver o Barcelona no Espanhol custa pelo menos R$ 83 –, os valores ainda são frequentes alvos de críticas por parte da torcida. O que, por outro lado, não impede sua presença nos estádios.
Distante do título e com o segundo tíquete médio mais caro do campeonato (R$ 27,72), o São Paulo teve a terceira melhor média de público (21.485 por jogo). Foi o segundo em faturamento com bilheteria: R$ 8,4 milhões líquidos.
O Atlético-MG fez o oposto. Apesar de ter o tíquete médio mais baixo (R$ 6,67), ficou em 11 no ranking de público (14.100 por jogo) e foi lanterna em receitas (R$ 600 mil líquidos).
– Reduzir o preço não traz muito mais torcedores. O torcedor quer é ver o time. Se for de R$ 10 para R$ 20, não vai ser decisivo. Decisivo é locomoção, conforto, acesso fácil – diz o diretor de marketing do São Paulo, Rogê David.
Timão na frente
Campeão de público – 29.329 pessoas por jogo – e receita – R$ 13 milhões líquidos – no Brasileiro deste ano, o Corinthians virou referência no assunto. A receita alvinegra é simples: facilitar a compra de ingressos sem surpresas em relação a preços.
Ao contrário de outros clubes, o Corinthians determinou um valor fixo para as entradas. Independentemente da relevância da partida em questão, os preços não sofreram qualquer alteração.
A medida, na visão do clube, permite certa distância entre venda de ingressos e desempenho da equipe. Também possibilita um preço médio mais alto para os ingressos, já que o torcedor pode se planejar para toda a temporada.
– Tem clube que, quando precisa da torcida, joga o preço lá embaixo – explica o diretor de arrecadação Lúcio Branco.
O Corinthians também deu facilidades na compra e no acesso ao Pacaembu. O clube decidiu assumir a gerência da venda de ingressos. Ao invés de firmar parceria com outra empresa, contratou uma tecnologia e passou a ter controle sobre todo o processo.
A iniciativa rendeu economia de até 4,5% sobre o valor total das receitas de bilheteria. O clube conseguiu ainda identificar problemas até então desconhecidos, já que estavam ao alcance apenas da empresa terceirizada.
– Corrigimos, por exemplo, o número de bilheteiros. Ainda que eu saiba que poderia trabalhar com 15 em um jogo, contrato 25, porque assim atendemos melhor nosso torcedor – afirma Branco.
A boa média de público também é assegurada pela antecedência na disponibilização dos ingressos para venda. Hoje, por exemplo, já é possível adquirir entradas para a Libertadores.
Internet na mira
Um dos problemas dos clubes na busca por público é a baixa eficiência de seus canais de venda. Neste aspecto, o Corinthians também se destaca: é um dos que mais bem utilizam a internet para comercializar entradas. Neste ano, a média foi de 40%.
– O Corinthians tem boa venda pela internet. Alguns clubes apresentam dificuldades, mas não deveriam, pois a internet já é um ambiente consolidado de negócios – diz Amir Sommoggi, diretor da consultoria BDO RCS.
Um dos mitos que envolve a venda de ingressos pela internet diz respeito ao alcance do canal. Segundo Lúcio Branco, diretor de arrecadação do Corinthians, a abrangência é quase total:
– Isso é lenda. O nosso maior volume de vendas nesse segmento ainda é para o preço popular.
Outro com bom desempenho nas vendas on-line, o São Paulo espera comercializar 100% de suas entradas pela internet já em 2012. Hoje, a taxa é de 60%, segundo o diretor de marketing Rogê David.
– Estamos renovando o contrato com a empresa que presta esse serviço, já prevendo a instalação das catracas para o cartão com chip. Esperamos alcançar 100% no primeiro trimestre – diz David.
Calendário atrapalha
Na Europa e nas ligas americanas, a praxe na venda de ingressos é vendê-los em pacotes para todo o ano. No entanto, o mesmo parece inviável no Brasil devido à ausência do conceito de temporada.
Lá fora, os torcedores compram os chamados carnês com a segurança de que suas equipes dificilmente passarão por profundas mudanças ao longo das competições. Janelas de transferências são curtas e pouco movimentadas no meio das temporadas.
Por aqui, acontece o oposto. No meio do ano, meses depois do início do Nacional, os clubes locais costumam passar por uma “devassa”. O período marca a principal janela de contratações da Europa, em que é comum a busca por jogadores brasileiros.
Uma mudança do quadro seria possível apenas com a adequação do calendário brasileiro ao Europeu. Assim, as janelas aconteceriam paralelamente, sem risco de perdas no meio da temporada.
O modelo europeu determina ainda que todas as competições são disputadas do início ao fim da temporada. Desta forma, há maior possibilidade de haver interesse do torcedor durante todo o ano.
COMO FUNCIONA LÁ FORA...
Europa. No futebol europeu, os carnês são vendidos meses antes do início de cada temporada. A procura é grande, mas é possível comprar entradas avulsas ao longo da temporada. Clubes como Manchester United operam seus estádios em capacidade máxima durante praticamente todo o ano.
Estados Unidos. Nas ligas americanas, a busca por carnês é ainda mais intensa. Somente em raras oportunidades as grandes franquias não vendem todos os seus carnês. Em setembro deste ano, por exemplo, durante o auge da greve dos jogadores da NBA, cinco equipes já não tinham mais ingressos para a temporada disponíveis.
Até tu? Mesmo ainda em afirmação, a Liga Americana de Futebol já consegue vender carnês com facilidade. Pela segunda temporada seguida, o Portland Timbers conseguiu vender todos os seus.
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