sexta-feira, 18 de março de 2011

Construído para Copa de 50, estádio traz boas lembranças a moradores do Horto 18/03/2011 - 07h01


Moradores antigos, que acompanharam construção do estádio, esperam anisosos pelofim da reforma

Hermínia Araújo coleciona notícias sobre as obras do Independência
Guyanne Araújo
Em Belo Horizonte
O Estádio Raimundo Sampaio foi construído no final da década de 40 para sediar a primeira Copa do Mundo no Brasil em 1950. Seu projeto inicial era para comportar 45 mil torcedores, mas como o orçamento era curto e o Mundial foi se aproximando, ele teve de ser alterado. Inaugurado em 25 de junho de 1950, o Independência recebeu a partida entre Iugoslávia e Suíça, onde os balcãs venceram por 3 a 0.
A segunda partida da Copa do Mundo de 1950 no Independência foi entre Estados Unidos e Inglaterra e é conhecida como uma das maiores zebras das histórias dos Mundiais, já que os norte-americanos derrotaram os ingleses por 1 a 0. A terceira e última partida pela Copa foi entre Uruguai que enfrentou a Bolívia e goleou por 8 a 0. A seleção uruguaia acabaria campeã mundial, derrotando na final o Brasil, no Maracanã.
Hermínia de Araújo, vizinha de frente ao estádio, se lembra da construção do Estádio Raimundo Sampaio, o Independência. “O campo deixou muitas histórias boas para gente. Foi um tempo bom que não volta mais” contou saudosista e acrescenta: “Antes era brejo e tinha uma mina de água. Mas também servia como cemitério de animais, todo o animal que morria, a vizinhança enterrava ali. Meu tio mesmo enterrou dois cavalos no campo”.
Ela lembra que quando estava sendo feita a terraplanagem e os caminhões ficavam jogando terra ela com suas amigas iam brincar no local. “No dia da minha primeira comunhão estava de vestido branco e na volta da igreja, pulamos no meio da terra vermelha. O vestido ficou cor de rosa e até perdi minha vela lá. Quando cheguei em casa apanhei tanto que tenho pavor de roupa branca até hoje”, lembrou Hermínia, aos risos. Ela relembra que antes do campo, as crianças brincavam de caçar rã para poder jogar na brasa. “Era o nosso divertimento, muito gostoso, era nosso campo de brincar”, revela.
Uma história inusitada que Hermínia se lembra já é na época dos jogos na década de 50“A partida era entre Cruzeiro e Atlético. Um dos torcedores do Cruzeiro enfartou e faleceu no local. Em um outro momento, um torcedor do Atlético desmaiou. O rapaz do rabecão achou que ele também tivesse morrido, colocou o corpo dentro do carro e voltou a assistir a partida. Um tempo depois ele começou a gritar lá dentro e conseguiu abrir a porta. Saiu correndo e as pessoas se assustaram”, conta a moradora.
Inicialmente, o estádio pertencia ao Governo, mas depois da construção do Mineirão, ele foi passado ao já extinto clube Sete de Setembro, por isso o apelido de Independência. Já seu nome oficial se deve a uma homenagem ao presidente do clube, Raimundo Sampaio.
José Álvares de Freitas, que também mora na região desde que nasceu, há 66 anos, é outro que também se lembra da construção do estádio. “Me lembro que com seis anos brincava lá no aterro”, conta. Um fato que marcou muito o morador aconteceu em 58, quando o Brasil foi campeão mundial na Suécia. “No mesmo dia, um domingo, que o Brasil venceu a Suécia por 5 a 2 o Atlético venceu o Cruzeiro pelo mesmo resultado. Isso marcou muito”, disse.
Freitas conta que a relação que as pessoas tinham com o estádio sempre foi boa. Tinha festa, celebrações religiosas e até sorteio de lojas comerciais. Outras duas partidas marcaram também sua história e a história do estádio. “Me lembro da partida entre Atlético e Chacaritas, da Argentina, que todos os jogadores foram expulsos e de uma outra entre Atlético e Villa Nova que só teve um jogador que não foi expulso, o Jael”, revela. Em 1951, José destaca a conquista do campeonato mineiro do Villa Nova, que venceu o Atlético por 1 a 0.
O ex-jogador Waldir Lellis, 71 anos, mais conhecido como ‘Amarelinho’, conta que quando o estádio foi construído ele morava com sua família na Avenida Silviano Brandão. Na época da Copa de 50 o então menino de 10 anos ia para a frente do estádio para olhar os carros parados na rua e quando os portões se abriam 20 minutos antes do término do jogo ele corria para dentro para assistir o resto da partida. “Vi muitos jogadores famosos”, vibrou.
O ex-jogador começou sua carreira no clube Sete de Setembro pelo juniores e em 1958 foi para a Seleção Mineira juvenil, que era até 20 anos, e de lá para o América. “Joguei no juvenil do América e fui bi-campeão. Em 61 joguei profissionalmente até 63. Tive uma carreira curta porque comecei a fazer cursos e fui trabalhar em outro meio”, relatou.
Hoje, Amarelinho preside a Associação dos ex-atletas do América e conta que está com grande expectativa para o termino da reforma. “Acredito que vai criar oportunidades e trazer benefícios. O novo local vai ter um Memorial do América, sala de eventos, comércio”, destacou.

Nenhum comentário: