quarta-feira, 20 de novembro de 2013

NO AUGE


Pai conta histórias de superação de Jô, a caminho dos mundiais com Galo e Brasil
Aos 15 anos, atacante teve proposta do Man United e depois perdeu o irmão, seu melhor amigo; no Atlético, alcançou o auge, quer o Mundial e pensa em comprar casa em BH
Rodrigo Fonseca - Superesportes
Thiago de Castro - Superesportes
Publicação:20/11/2013 08:11
Atualização:20/11/2013 14:40
Pai coruja. A definição é clichê. Mas pode ser muito bem empregada para Francisco Dario de Assis Silva, que aos 58 anos está próximo de ver o seu filho ter a oportunidade de conquistar o mundo em duas oportunidades. Jô disputará o Mundial de Clubes pelo Atlético, em dezembro, e está firme na briga por vaga na lista de Felipão para defender o Brasil na Copa de 2014.
O “bicampeonato mundial” está na mira da família Assis Silva. Seu Dario, como o pai de Jô é mais conhecido, vê as oportunidades de títulos como mais uma recompensa pelo apoio dado ao filho, com conselhos, conversas e momentos de superação.
“Vamos rezar bastante para dar certo no Mundial do Galo, que é muito importante. Ele está muito focado, com a cabeça no lugar. O desejo dele é primeiro ganhar o Mundial pelo Atlético. E a Seleção, ano que vem, é pedir para Deus para ser convocado. O grupo é muito concorrido, mas vontade não falta”, afirma Seu Dario, que contou ao Superesportes histórias da vida e da carreira de Jô.
Jô goleiro, assédio do United e perda do irmão
Jô faz sucesso como atacante. Com 1,89 metro como adulto, ele já chamava a atenção pela altura quando criança. E o goleador alvinegro recebeu um empurrão do avô materno para virar goleiro. O incentivo logo foi barrado por Seu Dario.
“Meu sogro, hoje já falecido, foi goleiro. Sabe como avô é. Queria comprar roupa de goleiro para ele. Acabou que deu uma luva e o Jô até era bom goleiro, quando moleque. Mas eu falei com ele, fui atacante, joguei na frente, que não dava. Meus amigos falavam para botar ele pra frente, que goleiro não ganha dinheiro não (risos). Atacante perde quatro gols lá na frente, faz um, e vira herói. Goleiro toma um frango e pronto, acabou”, conta.
Seu Dario também foi jogador. Defendeu o Corinthians e a Portuguesa, mas rodou por clubes do interior paulista na maior parte da carreira. Pai de quatro filhos, sendo dois homens, nutriu o desejo de ver os garotos Jean e Jô como profissionais.
“A minha aposta era no irmão dele, Jean. O Jô era menor. Eu já trabalhava como taxista e não tinha muito tempo de acompanhar o Jô. Via mais o Jean. Mas o pessoal da minha rua falava do Jô, que era muito bom de bola, canhoto. Um dia eu cheguei cedo e tive a chance de ver. Todo mundo falava para levá-lo para fazer um teste. Acabou que foi aprovado no Corinthians. Fez quatro gols. Só que falaram que João, para atacante, não dava. Aí apelidaram de Jô”.
Aos 15 anos, Jô demonstrava grande potencial e já chamava a atenção de clubes do exterior. O atacante defendeu o Manchester City em 2008, 2010 e 2011. Mas ainda adolescente, ele recebeu uma proposta para jogar no rival United. O Corinthians apostou na sua permanência:
“O Corinthians cobriu o valor que iam pagar. Era para fazer estágio no Manchester United. Iam pagar ajuda de custo até a sua formação profissional. Um rapaz inglês chamado Johnny veio aqui, almoçou comigo e com a mãe dele. Ele se interessou e queria levar de qualquer jeito. O Corinthians falou que não. Cobriu, me deu R$ 100 mil de luvas, colocou o salário para R$ 7,5 mil. Ele ganhava R$ 1 mil. Ele continuou bem. No profissional fez outro contrato, passou para R$ 17 mil”.
Em um momento de alegria por ter Jô desejado na Europa, a família Assis Silva acabou o ano de 2002 triste. O irmão Jean, que havia acabado de se profissionalizar com Carlos Alberto Parreira no Corinthians, sofreu um acidente de trânsito e faleceu.
“Os dois se davam muito bem. Jô era muito ligado a ele. Chegaram até a treinar juntos. Jean sofreu um problema de púbis. Para recuperar, estava no time b do Corinthians. O Jô, no juvenil, às vezes treinava contra o Jean. Hoje o Jô coloca as mãos para cima, quando faz gol, quando vai entrar em campo, lembrando o Jean. Infelizmente a vida da gente é assim”, conta Seu Dario, emocionado.
Profissional aos 16, Europa e Inter
Aos 15, Jô era cobiçado pelo Manchester United. Aos 16, o atacante fez a sua estreia pelo profissional do Corinthians. “O técnico era o Geninho, que precisava de jogadores da base para usar em um coletivo. Os juniores estavam concentrados para um jogo e o Jô, do juvenil, foi chamado. Fez um bom treino, com gol e foi aprovado. No dia seguinte, já estava no elenco. Sábado teve jogo contra o Guarani, ele saiu do banco e entrou no segundo tempo”, recorda.
Crescer na carreira tão cedo tinha o seu preço. A pressão era grande. “Quando subiu para o profissional, o Corinthians não estava muito bem. Teve um jogo que tomaram de seis do Juventude. Comentei com Andrés (Sanchez) na época. Jô entrou no jogo, ficou abatido, a torcida cobrou os jogadores. Sabe como é a Gaviões, né? Falei até para ele continuar no juniores para amadurecer um pouco mais. Andrés falou para deixar ele lá no profissional, que ele não era culpado. Culpados eram os medalhões. Aos poucos, ele foi amadurecendo. E deu tudo certo”, lembra Seu Dario.
Após ganhar rodagem no Corinthians, Jô começou a se destacar e participou da campanha do título brasileiro de 2005. No ano seguinte, foi vendido para o CSKA, da Rússia. Foi uma decisão difícil de ser tomada, mas que o futuro mostrou positiva.
Na Europa, Jô defendeu CSKA, City, Everton e Galatasaray; depois voltou para o Inter, no Brasil
“Chegou a proposta da Rússia. Alguns jornalistas e conhecidos falaram que não era uma boa, porque não ia se adaptar, ia atrapalhar a carreira dele. Mas nos reunimos em família. Sentamos todos e achamos que era uma boa oportunidade. Nossa situação financeira não era boa ainda. E a oferta era interessante. Foi aí que nos tranquilizamos. Jô fez alguns investimentos em imóveis que ele tem até hoje. E dentro de campo foi muito bem. Ficou badalado no CSKA e chegou até à Seleção. A ajuda que os brasileiros deram foi importante também. O Vágner Love, Dudu Cearense e Daniel Carvalho”, afirma o pai do centroavante.
Com o sucesso do CSKA, quis o destino que Jô finalmente se mudasse para Manchester. Agora, para defender o City, novo milionário. Alguns bons momentos, com gols, foram conquistados. Mas ele também foi emprestado para Everton e Galatasaray, da Turquia. “Teve alguns probleminhas extracampo. Não preciso mentir para vocês. Mas era menino e não pensou direito. Acabou que tudo foi resolvido”, ressalta Seu Dario.
Em 2011, Jô fez as malas e resolveu voltar para o Brasil. O Internacional comprou os seus direitos. No Sul, o atacante se viu na reserva de Leandro Damião. Com poucas oportunidades, recém-separado, acabou tendo deslizes.
“Quando ele veio para o Internacional, chegou um pouco deslumbrado, após seis anos fora do Brasil. Demorou para se acertar no Inter. Vocês sabem o que aconteceu. Não conseguia jogar. O Damião era xodó da torcida e ele não tinha tanta oportunidade. Isso não justifica. Mas o Fernandão tentou prejudicá-lo também”.
Apesar dos deslizes de Jô, Seu Dario não esconde a mágoa com o tratamento dado pelo então técnico do Inter, Fernandão, ao seu filho. “O que aconteceu no Rio de Janeiro foi tudo mentira. Na noite que ele saiu, ele pediu para o Fernandão e que ia dormir na casa que ele tem no Rio. O voo do Inter era no outro dia, à tarde. O Fernandão falou que poderia ir, sem problema nenhum. Era só voltar na hora do almoço. O Jô chegou no horário certinho. Ele falou para mim. Ele chegou pra mim, chorou na minha frente e falou: 'pai, não fiz nada errado'. O Fernandão você já viu como é. Não é à toa que saiu do jeito que foi do Inter. Brigou com todos os jogadores. Atrasou a vida dos jogadores. Mas o meu, foi ótimo. Ele adiantou a vida do meu filho. Veio para o Atlético, que o aceitou de braços abertos. E hoje a primeira pele dele é o Atlético”.
Atlético: a “primeira pele” de Jô
A superação aconteceu a partir de maio de 2012. Logo no primeiro treinamento na Cidade do Galo, Jô marcou quatro gols e mostrou a sua vontade de deixar o passado no passado. O momento era de escrever uma nova história.
“Dou muito conselho, converso muito. Ligo sempre para ele depois dos jogos. Mas os filhos têm que andar com as próprias pernas. É um garoto de juízo, ajuda a família, um menino muito bom. Sempre falo que a disciplina está em primeiro lugar no futebol e cobro dele. E no Atlético, ele está muito feliz, ninguém acreditava que ele voltaria à Seleção. A gente agradece sempre muito ao Cuca, ao Felipão, ao Eduardo Maluf, os amigos dele. São pessoas que o ajudam muito”, relata Seu Dario.
Jô está em alta no Atlético, com título e artilharia da Copa Libertadores, além do retorno à Seleção Brasileira. A consequência disso é chamar a atenção novamente do futebol europeu. A diretoria alvinegra já se antecipou ao mercado para aumentar o salário, a multa e o contrato do atacante. Uma proposta irrecusável pode aparecer. Mas o foco é no presente, em Belo Horizonte.
“A gente sabe. É normal do futebol ter essas conversas, falar de sondagens, interesses. Mas o Jô está muito focado no Mundial. E ele gosta muito de morar em Belo Horizonte. Hoje a casa dele é alugada. Ele me falou outro dia que estava até pensando em comprar uma casa”, revela Seu Dario.

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