terça-feira, 11 de fevereiro de 2014


Entrevista: "No quinto jogo chegaremos aonde queremos", garante Paulo Autuori
Novidade do Galo em 2014, treinador tem a chance de recorde na Libertadores
Roger Dias - Estado de Minas
Publicação:
11/02/2014 08:24
Atualização:
11/02/2014 08:33
Os holofotes na América do Sul estão voltados para o Atlético em sua estreia na Libertadores diante do Zamora, hoje, às 22h15, em Barinas (VEN). Atual campeão, o Galo disputará a principal competição do continente com praticamente a mesma base, mas com uma novidade significativa no banco de reservas: Paulo Autuori, que pode ser o primeiro técnico brasileiro a obter o terceiro título, depois de vencer com o Cruzeiro em 1997 e o São Paulo em 2005. Mas os trabalhos ruins nos últimos times que dirigiu reduzem seu prestígio com a torcida, que tem cobrado melhor desempenho nas partidas. Ele evita comparações com Cuca, mas deve repetir a equipe do antecessor. Ele falou ao Estado de Minas sobre as expectativas para a estreia.
O Galo disputará sua sexta Libertadores como o status de campeão e novo comando técnico. Você acredita que ele esteja no nível ideal de preparação?
A equipe ainda está muito longe do que esperamos. Mas é um grupo muito experiente, acima de tudo. É impossível estar no nível ideal em 15 a 20 dias de trabalho. O Atlético já tinha um planejamento todo feito e apenas concordei e achei que foi elaborado da melhor forma. Poderíamos ficar só treinando e escalar nossos melhores jogadores na estreia da Libertadores, como muitos clubes optaram e tiveram dificuldades, mas decidimos que eles recuperassem a forma física jogando. Acredito que no quinto jogo chegaremos aonde queremos, o que me dá maior possibilidade de poder exigir mais ainda da parte tática.
Se o time for bi, você será o técnico brasileiro com mais títulos (três), superando Lula, Telê Santana e Felipão. Qual o segredo para a competição?
Não me permito pensar que possa conquistar a Libertadores sozinho. O título é para o clube. Não quero ser melhor do que ninguém, minha luta é comigo mesmo, não com os outros. É legal estar envolvido em todo o esforço de ganhar uma Libertadores para o Atlético. Isso é mais importante do que qualquer coisa. Não acredito em receita para ganhar uma competição desse nível. Vejo que se tem de ser competitivo. É preciso aliar qualidade individual e coletiva ao espírito de sacrifício e capacidade de sofrimento. Vamos jogar em estádios não tão bons e é preciso ter sensibilidade para amenizar as dificuldades. Sempre trabalhei com bons times e jogadores, essa é a estratégia para vencer.
Ao lado do Cruzeiro, o Galo é apontado como favorito ao título. Como administrar bem isso sem cair na acomodação?
O favoritismo existe por dois aspectos: tradição e momento. O Atlético é o favorito pelo que fez na campanha passada. Foi o melhor geral da primeira fase e teve o direito de decidir sempre em casa. Não é fácil conseguir isso. Nosso grupo é um dos mais difíceis e há novas forças surgindo. Antes tínhamos apenas Boca Juniors, River Plate, Independiente e Estudiantes; hoje temos Atlético Rafaela, Lanús, Arsenal... As coisas mudam. Viver só de tradição é complicado, é preciso continuar mostrando nas quatro linhas.
Qual é a maior dificuldade para o time mostrar bom futebol em 2014?
Dificuldades sempre existem, para mim e para todos os treinadores. A principal é a impossibilidade de todos poderem se preparar para competir. Mas não posso trazer isso apenas para o meu lado. No Brasil quase nenhum clube teve tempo para trabalhar, mas não podemos justificar os maus resultados por causa do calendário, porque a realidade é esta. O clube fez o planejamento certo de dar férias de 30 dias aos jogadores, porque o descanso é importante. O restante a gente aprimora com os treinamentos.
A ausência de Ronaldinho Gaúcho nos primeiros jogos também pode ser usada como justificativa?
O Ronaldo traz o peso e impõe respeito ao adversário sempre. Mas é muito simples falar isso agora, porque tira a visibilidade das partidas ruins que fizemos. O time deverá ser diferente, como treinamos no dia a dia. Tivemos atuação para esquecer diante do Tombense, mas espero que as coisas melhorem com a volta do Ronaldo e do Réver.
Como tem sido o convívio diário com Ronaldinho? É difícil dirigir ídolos da torcida, como ele, Rogério Ceni e Juninho Pernambucano?
O trabalho se torna fácil porque os ídolos são fundamentais. Eles não são ídolos por acaso, e sim porque têm uma história. E todos temos de respeitar esse legado. Muitas vezes, os técnicos aparecem mais do que deveriam e não respeitam os ídolos. Não tenho dificuldade nenhuma em trabalhar com o Ronaldo. É uma figura dócil, muito legal, e está sendo um grande prazer.
Depois dos fracassos no Vasco e no São Paulo no ano passado, você já é questionado no Atlético. Como tem lidado com as críticas da torcida logo no início do trabalho?
É o tipo de coisa com que não me preocupo. Cobranças são situações com que temos de saber conviver na vida. Sabemos como é o futebol. Com o tempo que tenho de vida, 57 anos, e de futebol, 39, é preciso administrar bem os problemas. E, como sempre falo, isso não se responde com palavras, e sim com ações. Cabe a nós agirmos e fazermos com que os resultados venham da forma como o torcedor espera. Isso é natural. O mais lindo é cada um poder se manifestar da maneira que deseja. Essa é a liberdade de expressão, que muita vezes ouvimos, da qual falamos e muitas vezes não permitimos que aconteça.
Em sua apresentação, você disse não concordar com o protagonismo dos treinadores, em vez da torcida e dos atletas...
É um conceito que defendo desde o primeiro dia que comecei a trabalhar com futebol. Hoje há um protagonismo muito grande e exagerado dos técnicos, não só no Brasil, mas em outros países também. Nós temos nossa importância, temos de assumir isso, mas o foco sempre será de jogadores e torcedores. Antigamente íamos ao campo para ver a torcida gritar e aplaudir. São eles que garantem a beleza e a magia do futebol. Qualquer outro que queira ganhar espaço só tende a prejudicar o espetáculo.
Cuca era conhecido como um treinador apegado à fé. Você também se pega à espiritualidade para conseguir conquistas no futebol?
Tenho a minha maneira de viver. Fortalecer o espírito é uma das coisas que trabalho todos os dias. Mas isso é pessoal. Não tenho de fazer com que as pessoas saibam e comentem sobre isso. São coisas que não costumo falar.
QUEM É ELE
Paulo Autuori de Melo
» Nascimento: 25/8/56, no Rio de Janeiro
» Clubes: Vitória de Guimarães-POR (1986/1987, 1999/1991 e 2000), Nacional-POR (1987/1989), Marítimo (1991/1995), Botafogo (1995, 1998 e 2001), Benfica (1996/1997), Cruzeiro (1997, 1999/2000 e 2007), Flamengo (1997/1998), Internacional (1999), Santos (1999), Alianza-PER (2001), Sporting Cristal-PER (2002), São Paulo (2005 e 2013), Kashima Antlers-JAP (2006), Al-Rayyan-CAT (2007/2009 e 2009/2011), Grêmio (2009), Vasco (2013) e Atlético (2014)
» Seleções: Peru (2003/2005), Olímpica do Catar (2011/2012) e Catar (2012/2013)
» Títulos: Brasileiro 1995, Libertadores 1997 e 2005, Mundial de Clubes 2005, Mineiro 1997, Peruano 2001 e 2002 e Copa do Emir do Catar 2010 e 2011

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