quinta-feira, 21 de julho de 2011

Amor maior que a mágoa

Mesmo se dizendo desamparado pelo Atlético quando de sua suspensão, Campos não perdeu a admiração pelo clube, que o levou à Seleção Brasileira. Sonho é voltar a atuar no futebol
Renan Damasceno - Estado de Minas
Publicação:21/07/2011 07:00
Aos 58 anos, Campos mora em Pedro Leopoldo e divide seu tempo entre o escritório imobiliário, próximo à rodoviária, e a atividade de olheiro, na esperança de encontrar um novo Campos ou Dirceu Lopes nos campos de terra batida da cidade. Há 12 anos, tem em Marlene Lopes de Andrade seu porto seguro. “É minha companheira, que me incentiva a voltar ao futebol, talvez como treinador.” Seu hobby é brincar com o neto Rayan Andrade Campelo Ferrante, que mora em Brasília, e passa as férias em Minas. Joga futebol e se orgulha de, há pouco tempo, “ter vencido um time de meninos de 16 ou 17 anos”. Guarda mágoas de não ter recebido apoio do Atlético na acusação de doping, mas garante que jamais deixou de amar o clube. Desistiu de ir aos jogos do time, quando um torcedor mais novo ordenou “sai da frente, coroa” e outro duvidou: “Você é o Campos? Conta outra!”
INÍCIO
Nasci numa fazenda chamada Modelo, perto de Pedro Leopoldo. Era filho mais novo de oito irmãos, e meu pai não queria que eu fosse jogador de futebol. Para ele, era atividade de vagabundo. Anos mais tarde, ele montou uma loja de colchões e eu deixava o trabalho para jogar. Quando eu chegava em casa, apanhava até não poder mais. Aos 14 anos, não tinha ninguém para completar o time do Pedro Leopoldo para jogar contra uma equipe do Mercado Central, de Belo Horizonte. Eu sempre fui atrevido e pedi para entrar. O treinador gostou e me indicou para procurar a base do Atlético. O Barbatana (ex-treinador da base e do profissional, responsável por lançar, entre outros, Reinaldo), gostou de mim. Aí tive minha oportunidade.
ATLÉTICO
Sempre fui atleticano e amei o clube, mas na época em que fui acusado de doping, ninguém me defendeu. Eu mesmo que tive de procurar advogado. O time não me defendeu, nem aposentadoria me ofereceu. Fui um goleador e acho que mereço mais consideração. Mas não deixo de gostar do clube, tanto que voltei ao Atlético após cumprir suspensão e fui campeão Mineiro em 1976.
SELEÇÃO
A punição acabou com meu sonho de disputar a Copa do Mundo na Alemanha. Eu tinha chances de defender o Brasil. Em 1975, o treinador da Seleção era o Oswaldo Brandão, e o Telê, meu técnico no Atlético, era seu auxiliar. Fui convocado para jogar a Copa América, e marquei dois gols, contra Peru e Venezuela.
DESCONFIANÇA
Depois da suspensão, muitas pessoas perderam a confiança em mim. Era um tabu, nunca tinha acontecido antes e até alguns jogadores adversários passaram a me olhar diferente em campo. Depois que sai do Atlético, passei por 23 clubes. Chegava para resolver a parada, para livrar do rebaixamento. Tive alguns bons contratos, com o Santos e América, mas nunca mais foi a mesma coisa. Encerrei a carreira em 1984, no São José-SP.
INJUSTIÇA
A minha esposa procurou o Valed Perry há uns dez anos, no Rio, e ele a recebeu muito bem. Falou que fizeram uma injustiça comigo. Disse que deram um chute na minha cara, literalmente, e depois não fizeram nada para me ajudar. O que me deixa feliz é que minha família soube que eu não tinha nada com isso. Se isso fosse verdade, eu seria um drogado hoje, o que nunca fui.

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