Por que a curta permanência de Jóbson no Galo não surpreende ninguém? Entre a chegada ao clube e o pedido para sair, o atacante foi visto mais na noite de BH do que em campo
Paulo Galvão - Estado de Minas
Publicação:03/04/2011 16:26
O futebol é repleto de histórias de glórias, nas quais garotos superam todas as adversidades, driblam o próprio destino, para triunfar com a bola no pé. Mas também existe o outro lado, em que os louros da vitória e o glamour dão lugar a decisões erradas, muitas vezes provocadas por falta de estrutura familiar, pelas más companhias ou por ouvir pessoas inescrupulosas. Esta história, que trata justamente do segundo lado, tem como personagem alguém que começou a traçar trajetória vitoriosa, mas, ao que parece, tem preferido abandoná-la para se embrenhar em um mundo no qual, no lugar do brilho dos holofotes, estão as trevas: Jóbson.
Paraense de Conceição do Araguaia, revelado pelo Brasiliense, o atacante se destacou no Botafogo depois de rápida passagem pela Coreia do Sul. Bastou um bom Campeonato Brasileiro pelo time carioca para despertar o interesse do Cruzeiro, com o qual chegou a acertar contrato. E aí a história começou a mudar. Os exames antidoping depois dos jogos contra Coritiba e Palmeiras deram resultado positivo e levaram o jogador a ser suspenso por dois anos. O clube celeste desistiu de contratá-lo, sob a alegação de que precisava de alguém para jogar imediatamente, pois o time disputaria a Pré-Libertadores do ano passado.
Jóbson, com ar compungido, confessou ter feito uso de cocaína e crack, declarou-se arrependido e saiu de circulação. Foi para Conceição do Araguaia. Depois de conseguir a redução da pena para seis meses, no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), assinou novo contrato com o Botafogo, por cinco anos, mas não conseguiu mostrar a habilidade e a velocidade de antes. Além disso, no segundo semestre de 2010, cometeu diversos atos de indisciplina, como chegar atrasado aos treinamentos ou nem comparecer.
Conhecido pelo bom trato com os jogadores, bem ao estilo paizão, Joel Santana resistiu o quanto pôde, mas também perdeu a paciência com o atacante. Na virada do ano, o Botafogo preferiu emprestá-lo ao Atlético, que assumiu o risco e acertou com o reforço até o fim de 2011. Antes mesmo de apresentá-lo, porém, o Galo tomou conhecimento de que a Corte Arbitral do Esporte (CAS), na Suíça, decidira reabrir o caso, ou seja, o clube mineiro correria o risco de perder o jogador durante a temporada.
Apesar disso, ou até para provar que havia superado o problema, Jóbson começou o ano se dedicando aos treinamentos e ganhou de início a confiança de Dorival Júnior. O técnico, por sinal, havia decidido a contratação juntamente com o diretor de futebol Eduardo Maluf e o presidente Alexandre Kalil. Para os três, mais do que investir em uma promessa, tratava-se de uma tentativa de ajuda a um ser humano.
EXCESSOS Mas os problemas não demoraram a surgir. O atraso a um treino custou ao atacante não só a condição de titular, mas também espaço no banco de reservas. Suas cinco partidas sem jogar coincidiram com a explosão de informações de que estava explorando avidamente a noite belo-horizontina. Ele foi visto em bares pela madrugada consumindo bebida alcoólica. Quando voltou ao time, entrou no intervalo da goleada por 8 a 1 sobre o Iape-MA, em Sete Lagoas, fez dois gols e participou de outros.
Para tentar desacreditar quem garantia tê-lo visto em diversas casas noturnas, algumas vezes no mesmo dia, ou em busca de paz, fato é que o jogador decidiu passar a folga do carnaval em um retiro espiritual em sua distante terra natal, a 1,2 mil quilômetros da capital mineira, em companhia da mãe, da mulher e do filho. Em entrevista pouco antes da viagem, contundido, deixara escapar que “infelizmente” não iria aproveitar a folia de Momo, optando por se resguardar. “Senti necessidade de me aproximar de Deus e estou tendo as melhores experiências da minha vida desde então. Não quero provar nada a ninguém, meu compromisso é com Deus. Quero paz”, afirmou à imprensa de Conceição do Araguaia.
Mas bastou retornar do Pará para que o frenético ritmo noturno fosse retomado, como atestaram não apenas frequentadores, mas também gerentes e garçons de bares e boates de BH. Para tentar mantê-lo na linha, a diretoria do Atlético teria até posto em seu encalço dois detetives, o que de pouco adiantou.
Queixas e desistência
Ao mesmo tempo em que aproveitava o momento livre, Jóbson dava sinais de insatisfação por não ser titular. A amigos, teria desabafado: “Não fui banco do Loco Abreu no Botafogo, vou ser banco desses caras aqui no Atlético?”.
Mais pelo que fez nas partidas em que entrou e pelos treinos do que pelas reclamações, acabou recuperando a posição de titular na vitória por 2 a 1 sobre o Villa Nova, há 15 dias. Também começou jogando no 1 a 1 com o Uberaba, mas já não se sentia à vontade para permanecer no clube e procurou a diretoria com o pedido para retornar ao Botafogo, 82 dias depois de ter chegado ao clube.
A atitude pegou todos no Galo de surpresa. Enquanto Eduardo Maluf afirmou que o atacante estava abandonando quem mais queria ajudá-lo, Dorival Júnior buscou entender todo o processo. “Foi uma situação interessante, porque ele vinha sendo titular da equipe, começando a ter a sequência que desejávamos. Acreditávamos muito nele, como acreditamos. Houve alguma situação que para ele talvez não tenha sido confortável. Pegou-nos totalmente de surpresa. Temos de respeitar o que o atleta definiu. Que seja feliz na carreira, o Atlético seguirá sua vida.”
Passados cinco dias da oficialização da saída de Jóbson do Galo, seu futuro continua indefinido. Independentemente de ir defender outro clube, é grande o temor sobre o que ele planeja para si: alcançar, por meio do futebol, a glória que premiou o esforço de tantos meninos para superar a pobreza ou entrar para o rol dos que ficaram pelo caminho ao desperdiçar o imenso talento em hábitos incompatíveis com um atleta – isso quando não encontraram pela frente um fim trágico
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