sexta-feira, 6 de novembro de 2009

'O torcedor pode e deve sonhar' (06/11)

Jaeci Carvalho - Estado de Minas
Ele caiu como uma luva no meio-campo do Atlético. Vestiu a camisa, conquistou a torcida com suas roubadas de bola, seus lançamentos e gols e hoje é o dono da posição. Depois de amargar temperaturas abaixo de zero, nos três anos em que passou na Ucrânia, Carlos Rodrigo Correa, ou simplesmente Correa, vive outro clima, outros ares, e está prestes a escrever o nome na história do clube, caso seja campeão brasileiro. Avisa, porém, que serão cinco decisões, a começar pelo Flamengo, domingo, às 16h, no Mineirão. “Peço ao fantástico torcedor do Galo muita calma, pois teremos 90 minutos e mais os acréscimos para tentar vencer essa parada, que será duríssima. A euforia a gente deixa para o torcedor.” Nascido em Limeira e com 28 anos, ele jogou em vários times brasileiros e no Dínamo, de Kiev, mas foi no Palmeiras que se destacou, tendo a maior gratidão pelo clube. “Foram 192 jogos pelo time paulista, o que não é comum hoje em dia. Tenho orgulho de ter aparecido para o Brasil lá, mas hoje me sinto muito feliz no Atlético, uma casa organizada, com crédito e com um grupo maravilhoso. O torcedor pode acreditar na gente.” Nesta entrevista, realizada no Mineirão, palco da partida de domingo, Correa fala da carreira, da fase no Galo e do sonho do título.
COMEÇO Minha carreira começou no Ituano. Depois dei uma rodada boa por alguns times do interior até chegar ao Palmeiras, que me revelou para o Brasil e para o mundo. Eu sempre sonhei em ser jogador de futebol ou piloto de Fórmula 1, pois sou apaixonado pelo esporte. Felizmente, me dei bem no futebol, pois o sonho de criança se realizou. Tive o privilégio de disputar a Liga dos Campeões da Europa, pelo Dínamo, de Kiev, e de me tornar um cidadão do mundo.
FRIO Recebi uma excelente proposta para jogar na Ucrânia e não hesitei. O frio e a língua não foram empecilho nenhum, já que eu estava determinado a vencer no exterior. Foram três anos de muito trabalho, solidão em um país diferente, mas nada que tenha me desmotivado. Na Ucrânia, vivíamos eu, meu filho, minha mulher e meus sogros. A gente, que joga bola, está sempre com o grupo, enquanto a família fica sozinha, por isso foi importante a presença de meus sogros lá. Confesso, porém, que estava doido para voltar ao Brasil e o Atlético é uma vitrine, principalmente neste momento. O jogador tem de saber que quando sai daqui não vai encontrar o Brasil lá fora. Tem de se preparar para as dificuldades, que são muitas.
ATLÉTICO Surgiu a chance de voltar ao Brasil e havia alguns clubes interessados, entre eles o Atlético. Conversei com o Leandro Almeida, que foi para o Dínamo, e ele me falou da organização do clube, dos salários em dia e da fantástica torcida. Era tudo o que eu queria. Os jogadores sabem tudo o que ocorre nos clubes e ninguém quer atuar onde não se paga em dia e não há organização. A diretoria do Galo é muito séria e tudo o que é tratado é cumprido, até de forma antecipada. O resultado só poderia ser essa campanha maravilhosa.
GRUPO É muito forte, unido e sem vaidades. Cada um se doa pelo outro e aí está o segredo. Claro que tivemos uma queda, como todas as equipes, mas em 95% da competição ficamos no G4 e isso é fruto de um grande trabalho. Mas queremos mais. O Galo já provou que pode e não vamos permitir fracassos nesta reta final. Com todo o respeito ao Flamengo, domingo, vamos para a vitória. Não prometo títulos, pois há outras equipes na disputa, mas temos todas as condições de ganhá-lo. Acho que a força do grupo mostrou ao Brasil até onde podemos chegar e, para mim, esse máximo é o título.
TORCIDA É de arrepiar quando a gente entra em campo e vê o torcedor gritando o nosso nome e cantando o hino do clube. Poucas vezes vivi uma situação assim e é comovente. Acho até estranho estar aqui no Mineirão vazio, pois estou acostumado com mais de 50 mil pessoas, por jogo, me incentivando. Acho que essa empatia torcida-time é que está nos levando rumo ao título. O torcedor pode e deve sonhar sim, mas nós temos de trabalhar para tornar esse sonho realidade. Acho difícil sermos batidos com mais de 60 mil vozes gritando.
BH Apesar de não ter muito tempo para sair, pois concentramos e jogamos muito, deu para perceber que é uma cidade boa, grande, capital e tem tudo o que a gente quer. O trânsito aqui ainda não está caótico, como em São Paulo, e a receptividade do torcedor é muito grande. Eu me adaptei facilmente e gostaria de viver aqui por muito mais tempo. No trabalho a gente tem de estar feliz e vivo um momento muito importante na minha vida pessoal e profissional. Esta cidade me encanta.
GOLS Tenho treinado as cobranças de faltas pois hoje os jogos são decididos em grande parte com as jogadas de bola parada. Se tiver uma chance, espero fazer o gol, porém, isso não é o mais importante. Minha função é marcar e dar passes para os atacantes. Tenho visão de jogo e facilidade para fazer os lançamentos e, lá na frente, nosso poderio de fogo é grande. O importante é a confiança que o torcedor tem na gente. Ele vai a campo sabendo que os jogadores vão dar o sangue pela vitória.
ÁRBITRO Se ele não aparecer em campo, melhor. Este é o papel do árbitro. Não nos cabe escolher ou apontar este ou aquele. Acho que o Leonardo Gaciba é um bom árbitro, e, como eu disse, que ele apareça o mínimo possível e dirija o clássico com o Flamengo com tranquilidade.
NÍVEL O futebol de hoje é muito mais competição do que técnica, não há como fugir dessa realidade. Mas isso não implica dizer que a competição é fraca. Ao contrário, temos seis equipes na disputa do título. Isso só acontece no Brasil, onde a competição começa e você tem pelo menos 10 times em condições de chegar ao título. Dar espetáculo é muito bom, mas o que o torcedor quer e nós também é ganhar.
FRASE“Vai pra cima deles, Galoooo.”

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