quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


Tristeza no mar preto e branco no Centro
Estado de Minas -
Publicação:
19/12/2013 10:03
A Praça Sete era o cenário. O coração pulsante de Belo Horizonte esperava, mais uma vez, ser palco de mais uma festa atleticana. Não deu. O Mundial de Clubes, para muitos, terminou para o Galo ontem, com a derrota para o Raja Casablanca. Mas para outros, o time de Ronaldinho, Tardelli e Cuca ainda entra em campo no Marrocos para ser o terceiro melhor do mundo. E não é pouca coisa! Ainda há aqueles que, mesmo cabisbaixos, chorando, xingando, decepcionados, conseguem levantar a voz para gritar: “O sonho se renova em 2014”. Acreditam que se há anos o Atlético vinha brigando contra rebaixamentos e classificações intermediárias, agora o campeão da América tem a missão de defender seu título e outra chance de ser o número 1 do mundo no ano que vem.
Antes de a bola rolar, a Praça Sete fervilhou de maneira diferente. O vaivém das pessoas, de todas as tribos, classes, tipos e torcidas e intenso fluxo de carros foi envolvido pelo buzinação, gritos de “Galooo”, “Eu acredito” e atleticanos vestidos a caráter e inebriados num clima de euforia e expectativa. O lugar de manifestações e comemorações se vestiu de preto e branco. Atleticanos nervosos e agitados nos pontos de ônibus, entrando em táxis e acelerando os carros, aqueles alheios à bola e cruzeirenses disfarçados de torcedores do Bayern, como o analista de sistema Rafael Souza, de 19 anos. Ele comprou agasalho do time alemão, assim que os europeus levantaram a Liga dos Campeões, para “secar totalmente” o rival.
Saindo do trabalho, liberados ou matando serviço, a caminho de cursos, de volta para casa, os atleticanos não desgrudaram do jogo. Bastavam ver uma TV ligada no caminho para desligarem da vida e se entregarem ao sonho. Alexandre Ribeiro de Araújo, dono da Banca Brasil, em frente ao Cine Brasil há 25 anos, trabalhou com o rádio sintonizado e “coração apertado, mas acreditando sempre.” Ainda mais com o gol de falta de Ronaldinho. No fim, decepção. Muitos ficaram sem palavras, não quiseram falar nada. Escolheram o silêncio. O fato de não encarar o Bayern e não ter a chance de disputar o título mundial deixou o eletricista Victor Júnior, de 21 anos, uniformizado e enrolado na bandeira incrédulo. A paixão pelo Galo, frisou, é eterna. Mas ele definiu bem o que o atleticano está sentindo: “O coração dói.”
NA ESTAÇÃO Cerca de 400 pessoas se reuniram para assistir ao jogo em três bares na Avenida Amazonas na Praça da Estação. Quase todo mundo com as mãos cruzadas sobre a cabeça, mostrando nervosismo. No fim, quando o apito do juiz marcou o fim da partida, os mais exaltados quebraram um telefone público e chutaram as portas já fechadas de um dos bares que exibiam a disputa. Aos poucos, a maioria dos torcedores, revoltados, se dispersou. Os que ficaram choravam decepcionados. “Foi um jogo sofrido e muito difícil. Faltou raça ao Atlético”, disse o administrador de empresas Oswaldo Ferreira de Souza Júnior. Ele só ficou para ver o final da disputa porque seu amigo, o eletricista Isnard Martins, insistiu. “O jogo está apagado, difícil, mas a gente já esperava. Ainda temos esperança”, disse Martins , quando faltavam três minutos para o fim.
Sentadas aos lado das palmeiras da avenida, a estudante Jordana Oliveira e a operadora de telemarketing Cíntia Lopes não tinham palavras para definir o que sentiam. “Sou doente pelo Galo. O jogo estava na mão. Mas o Jô perdeu três gols, só quer marcar na Seleção, e o Cuca já assinou contrato com um clube chinês, não está nem aí para o time”, queixou-se Jordana. A amiga Cíntia, inconformada, estava ainda mais estressada, já que faltou ao trabalho para ver o jogo. “Acho que estou desempregada, não quis trabalhar por causa do Galo”, explicou.
A tensão da partida já era visível no primeiro tempo. Quando o Raja abriu o placar, os torcedores que estavam num bar na Rua Aarão Reis deram o primeiro sinal de desânimo. “O jogo está mais ou menos. O Atlético vai perdendo para o time da casa”, dizia o garçon Cristiano Costa da Silva. Quando Ronaldinho empatou, Bárbara Henriques, gerente financeira, estava de pé, em frente à TV. Elas tinham certeza de que o Galo ia ganhar. “Chegamos aqui às 17h. O jogo está tenso, mas o Galão vai virar”, torcia. Mas a realidade do placar, no apito final, foi outra.

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