domingo, 11 de dezembro de 2011

Que vença a paz


Estado de Minas -
Publicação:04/12/2011 08:40
Atualização:04/12/2011 08:57
Ao programar clássicos estaduais para a última rodada do Campeonato Brasileiro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deu eco aos que apregoavam se tratar da maneira mais eficiente de driblar a possibilidade de marmelada nos jogos que poderiam definir o campeão, os classificados às competições continentais e os rebaixados. Ignorou solenemente, contudo, o potencial explosivo das rivalidades regionais. Ainda mais quando, nos casos de Minas Gerais e Paraná, ficou conflagrada uma situação sui generis no futebol brasileiro: um time poderá ser rebaixado no confronto direto com o seu maior adversário.
Como não houve a devida providência da cartolagem em vislumbrar a inédita tensão, infelizmente temos hoje cenário montado para uma possível tragédia. Pelo histórico recente de brigas e até crimes, é concreto o risco de conflitos entre torcedores. As provocações, tradicionais em circunstâncias normais, serão amplificadas na extensão e no tom. Como evitar, por exemplo, que o atleticano comemore ao ver seu time mandar o arquirrival para a Série B? Logo ele, que foi tão tripudiado em 2005? E como reagirão os aflitos cruzeirenses à humilhação de ver todo um processo de declínio iniciado há meses ser implacavelmente confirmado pelo maior de todos os adversários? As mesmas perguntas poderiam ser feitas ao torcedor do Coritiba e ao do ameaçado Atlético-PR, igualmente em lados opostos desse tiro sem misericórdia.
Quem vai dar conta de cada boteco ou recanto onde se reunirão o provocador e o provocado, o algoz e a vítima? Não será certamente a CBF, que jamais colocou o torcedor em primeiro lugar. Nem os responsáveis pela segurança pública terão condições de garantir a integridade de todos os cidadãos, até mesmo dos que não se envolvem com o futebol. Por isso, antes de apresentar o noticiário do clássico de hoje, o Estado de Minas faz um apelo aos torcedores dos dois maiores clubes mineiros: em primeiro lugar, a convivência pacífica. Porque o esporte jamais pode ser utilizado como estopim para a violência. O que acontece dentro de campo não deve interferir no que acontece dentro da vida.
Aos diferentes grupos de torcedores, vale o aviso: a cada ano, grandes times alternam êxitos e fracassos. Basta lembrar que as duas torcidas candidatas a comemorar o quinto título brasileiro amargaram recentemente o dissabor de ver sua equipe na Série B: o Corinthians em 2008, o Vasco em 2009. Tanto um quanto o outro retornaram revigorados, deram a volta por cima e estão a 90 minutos da glória. Que os exemplos permaneçam na cabeça de cada torcedor cruzeirense na Arena do Jacaré e de cada atleticano diante da televisão.
Por fim, nunca é demais reforçar. A brincadeira, quando desprovida de agressividade, faz parte do contexto do mais popular dos esportes. Mas os excessos na provocação funcionam como gatilho para cenas extremas de violência. Aí, o clássico deixará de ser assunto exclusivo das páginas esportivas para invadir também o noticiário policial. Não é o que queremos como torcedores – nem o que merecemos como cidadãos.
Irresponsavelmente, a CBF decidiu colocar o futebol acima da vida. Montou uma bomba-relógio que, agora, só a sensatez coletiva é capaz de desarmar. Sim, sabemos que o destino do time celeste em 2012 está nos pés dos jogadores. Mas o bem-estar de todos, cruzeirenses e atleticanos, está em nossas mãos.

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