domingo, 26 de junho de 2011

Exclusivo! Dudu fala sobre a carreira e os planos de ser campeão pelo Galo


Trajetória de Dudu tem mais capítulos no exterior, mas agora ele quer vencer no Brasil (Foto: Gil Leonardi)
Prestes a fazer sua estreia como titular do Atlético, Dudu Cearense concede entrevista ao L!NET e fala um pouco sobre as experiências vividas no exterior e o retorno ao Brasil
Felipe Ribeiro e Thiago Fernandes
Publicada em 24/06/2011 às 08:00
Belo Horizonte
Dudu Cearense é, por definição própria, um cidadão do mundo. Ele nasceu em Fortaleza, tem residência fixa em Salvador, já morou no Japão, na França, na Rússia, na Grécia e hoje está em Belo Horizonte, se adaptando ao jeito mineiro para ajudar o Atlético encerrar um jejum de 40 anos sem título do Brasileirão.
Os sete anos no exterior deram a Dudu experiências de vida no lado pessoal e profissional. Como homem, conheceu culturas e povos, aprendeu idiomas e deu mais valor à família e aos amigos. Como jogador, ganhou maturidade para não ficar acomodado com a titularidade, nem rebelde com o banco.
Na volta ao Brasil, foram necessários dois meses e meio de preparação na Cidade do Galo. O longo período não fez com que Dudu perdesse a paciência ou pedisse para ir embora por não estar jogando. Pelo contrário, o atleta faz questão de agradecer pelo planejamento feito pelo clube mineiro.
Com toda a programação cumprida, o camisa 8 se diz pronto para contribuir de forma mais efetiva. Neste sábado, contra o Flamengo ele fará a sua estreia como titular e espera superar as expectativas do torcedor, da diretoria, da comissão técnica e dele mesmo.
Em entrevista exclusiva concedida nesta quinta-feira ao LANCE!NET, Dudu falou sobre sua trajetória, contou experiências de vida no exterior, destacou as ambições do Atlético e agradeceu o carinho dos torcedores.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Como começou o sonho de ser jogador?
Se eu contar, você chora (risos). Eu tinha um time de bairro em Fortaleza, jogava como meia e chegamos à final de um campeonato. O pessoal do Vitória viu e me chamou para um teste. Fui de Fortaleza a Salvador de ônibus, um dia de viagem e com R$ 10 no bolso. No teste, perguntaram se tinha alguém que poderia jogar de volante e eu topei. Fiz três gols (risos). Com 17 anos fui chamado para completar um treino do profissional e pensei comigo: “Vou dar carrinho até no vento!” Me destaquei e Mário Sérgio pediu para que eu fosse incorporado ao elenco.
Depois você rodou o mundo. Muita história?
Eu até brinco que sou um cidadão do mundo (risos). O Japão é fantástico e o povo adora brasileiro. Eu adoro tecnologia e lá isso é demais. Em 2004 já tinha vídeo chamada, sistema 3G, tudo isso que agora está chegando ao Brasil. Gostei demais da França e voltei lá a passeio nas folgas. Adoro Paris. Já a Rússia foi o momento em que cresci como homem. É um país complicado, o povo é nariz em pé demais, você precisa até de visto para ir a Moscou e existe muito racismo. Não sou negro, mas mesmo moreno, sofri preconceito. Imaginem para o Vágner Love? Quando cheguei à Grécia, vi o mar e percebi que tinha me livrado daquele frio miserável de Moscou, foi bom demais. Foram ótimos anos lá, mas era a hora de voltar ao Brasil e ganhar visibilidade no Atlético.
O que achou da estrutura do Atlético, que é muito elogiada no Brasil?
O centro de treinamento do Atlético não é o melhor do país à toa. Quando estava assinando com o Atlético, eu já sabia. Então, eu pensei que viria para me reestruturar como jogador. Se você perguntar a qualquer jogador do Atlético se ele quer sair, ele vai pensar duas vezes. Lá fora não tem isso. O Atlético tem estrutura de time grande da Europa, como Milan, Inter de Milão, Real Madrid, Barcelona... Poucos clubes do Brasil têm uma estrutura como a do Atlético. O presidente montou uma base e agora vai lutar por conquistas.
Está à vontade no Atlético? O grupo é bom?
Eu estou muito à vontade. Sou um cara muito tranquilo, já enturmei com todo mundo. Nosso grupo é excelente, sempre me deixou à vontade. Agradeço ao grupo, aos torcedores, diretoria, à comissão, aos roupeiros, a todo mundo pela receptividade que tiveram comigo desde o primeiro dia. Todos sempre fizeram eu me sentir muito bem e me deram muito apoio.
Qual a sensação de estar de novo no Brasil, após tanto tempo?
Está sendo maravilhoso. Estou vivendo em meu país, posso falar o português, meu treinador é brasileiro, estou em grande clube, tenho uma torcida maravilhosa me apoiando e temos aquela resenha dentro do vestiário com os companheiros, que lá fora não existe.
Apesar da experiência, você é novo. Ainda tem muito a mostrar ?
Eu ainda tenho muitos sonhos e objetivos. Eu sou um cara que não gosta de ficar acomodado. Sempre gosto de estar no topo. Quero retornar à Seleção, jogar uma Copa do Mundo. Além disso, quero ajudar o time a se tornar maior do que é.
Seu futebol mudou muito nestas sete temporadas fora?
Como o futebol europeu é muito rápido, isso me ajudou quando voltei para o Brasil. Joguei contra Arsenal, Tottenham... Isso faz perder o medo e me sinto mais confiante. Quando cheguei aqui, foram 40 dias de sofrimento. Na primeira semana, eu queria voltar para a Grécia (risos). Não estava aguentando, porque o treino aqui é pesado. Mas falo com meus companheiros para que aproveitem tudo isso, porque lá fora não nos preparam assim.
É por isso que jogador brasileiro chega lá fora jogando e quando volta precisa de readaptação?
Isso mesmo! O Jô, que saiu do Corinthians e foi para o CSKA, atropelou no primeiro ano lá. Chegou na Rússia muito acima da média fisicamente. Quem sai daqui treinando dois turnos por dia e jogando no mesmo ritmo chega lá e acha fácil.
Na parte tática você mudou muito também?
Bastante. No Brasil, eu tenho muito mais espaço. No jogo lá fora, os dois times jogam os tempos da mesma maneira. Aqui é diferente. Se o primeiro tempo é apertado, o segundo tempo pode abrir. O ritmo é muito forte. Se você tentar acompanhar, acaba cansando rápido. Aqui, nós jogamos com um 4-2-2-2. Lá eles utilizam duas linhas de quatro e um atacante falso, que joga como meia. O volantes têm que desempenhar a função de meia também. Então, nós marcávamos e criávamos.
Qual é melhor para o seu futebol: o Brasil ou a Europa?
Aqui é muito melhor. Eu falo para os meus amigos aproveitarem que estão aqui, porque aqui nós fazemos trabalho técnico, fundamentos, que lá fora não são feitos. Quando queremos fazer um trabalho de aperfeiçoamento após o treino, eles falam que já fizemos o suficiente e não precisamos continuar trabalhando. Aqui nós podemos fazer dez, quinze minutinhos de finalização após o treino. Além disso, a condição física daqui é muito maior do que lá fora.
Hoje você está readaptado?
Hoje eu me sinto preparado. Claro que o melhor desempenho virá com o ritmo de jogo, mas o trabalho feito pela comissão técnica foi muito bem feito e me sinto bem.
Dorival tentou preparar Diego Souza, assim como foi com você, mas ele quis sair. Você teve mais paciência e entendeu a situação?
Passei por momentos assim lá fora. Em algumas vezes, passei até por treinadores que me sacanearam. Então, é preciso esperar e ter paciência. Imagina se eu apelasse por ficar fora de dois, três jogos? Seria ruim se fosse um ano sem jogar. Faltou paciência ao Diego Souza. Temos de ser humildes e reconhecer quando estamos mal para trabalhar mais. Agradeço muito ao Dorival e à comissão técnica que me fizeram esperar e pelo trabalho de readaptação. Ganhei com isso.
Mas com Dorival ninguém tem cadeira cativa. O que acha disso?
Importantíssimo. Assim ninguém acomoda. A disputa na equipe tem de ser sadia, não podemos perder o respeito. Para ele, o mais importante é o grupo, não é o jogador que tem mais nome. Ele valoriza quem dá resultado.
Você prefere jogar mais recuado ou mais à frente?
Para mim, tanto faz. Já joguei de primeiro, segundo e terceiro volante. Posso ficar mais na marcação ou chegar mais à frente para finalizar. Fica a critério do Dorival Júnior.
Você jogou com o Daniel Carvalho na Rússia e estão juntos de novo. O que falar desse jogador?
Convivi com Daniel três anos e meio. Para mim, ele é diferenciado. Só depende dele querer. Tem de saber o que ele quer. Agora, ele está querendo, está bem mais dedicado. Pelo que ele passou, aprendeu. Ele ainda não está como naquela época (risos). Mas sempre tem algo diferente. Ele chegará ao auge, mas com trabalho. Futebol é isso. Você tem de matar um leão por dia.
Já deu para sentir a pressão de jogar pelo Atlético?
O Atlético é um gigante adormecido. A partir do momento que ganhar algum título de expressão, será como uma avalanche. Já percebi que o Atlético tem um ponto forte, que é a sua fantástica torcida. O primeiro passo é esquecer esse jejum. Não podemos perder a positividade, a confiança. Aqui é o Atlético e a pressão vai existir. Quando for campeão, a pressão será maior. Não pode perder a positividade.
Você tem ideia do que pode representar um título brasileiro?
Ser campeão brasileiro com a camisa do Atlético, seria um marco na minha vida. Eu levaria para o resto da vida. Espero que isso aconteça. Vou lutar e dar meu máximo. O primeiro objetivo é brigar por vaga na Libertadores, e isso acontecendo, também estaremos próximos do título. Se a gente levar esse título, Minas Gerais vai parar.
Está vendo algum bicho-papão nesse Brasileirão?
O campeonato está muito equilibrado. O São Paulo vem muito bem, mas aqui, por exemplo, eles jogaram fechadinhos. Não é menosprezando o time deles. Mas eles fizeram o que tinham de fazer e saíram com a vitória. Hoje em dia não tem um time muito diferenciado. Nós estamos no mesmo nível dos primeiros colocados ou talvez até melhor. Se tivéssemos feito todos os gols perdidos, estaríamos entre os primeiros do campeonato.
A Sul-Americana não começou, mas dará vaga na Libertadores. Vocês não podem se esquecer dessa competição, não é?
Qualquer competição é importantíssima, qualquer título é muito bem-vindo. É como se fosse um filho. Quando nasce o primeiro filho é muito difícil, o segundo já é melhor e o terceiro melhor ainda. Mas tudo vai ficando mais fácil. Se vencer a Copa Sul-Americana será maravilhoso. Ela nos daria uma vaga na Libertadores, mas seria importante um título só pelo prazer de gritar: "É campeão". Além disso, nos daria confiança e também daria confiança para os torcedores, que apoiariam ainda mais os jogadores. Isso melhora o astral de todos.
Qual recado você deixa para o torcedor atleticano?
A torcida faz a diferença. E os atleticanos podem ter certeza de que o grupo está unido com o objetivo de dar alegrias. Vamos lutar por eles e pelos nossos familiares.

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