domingo, 26 de junho de 2011

Brasileiros reprovam verba pública em estádios da Copa




Trabalho coordenado pela Sport + Markt apontou como brasileiros enxergam as obras; R$ 5,7 bilhões serão gastos nas arenas
Leo Burlá
Publicada em 23/06/2011 às 07:00
Rio de Janeiro (RJ)
Pesquisa realizada pela Sport+Markt, empresa especializada em consultoria esportiva, indicou que 44,7% dos brasileiros é contra o uso de dinheiro público nos estádios da Copa de 2014, enquanto 25,4% disseram ser a favor. Os 29,9% restantes disseram não tem opinião formada. A amostra foi realizada em todos os estados do Brasil e escutou 8.221 mil pessoas a partir de 16 anos, entre as classes A e D.
Assim que o Brasil ganhou o direito de sediar o Mundial de 2014, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, garantiu que os investimentos seriam oriundos da iniciativa privada. O cenário atual, contudo, aponta para um outro caminho: dados da Controladoria Geral da União (CGU) indicam que perto de R$ 5,7 bilhões serão empregados nas obras e reformas das 12 arenas, o que representa cerca de 70% do montante dos custos totais das intervenções. Esta conta, no entanto, não está fechada. O Maracanã, estádio da final da Copa, teve um acréscimo de quase R$ 300 milhões em relação ao que foi licitado.
Cesar Gualdani, sócio-diretor da Sport+Markt, interpretou os resultados da pesquisa, como uma soma de fatores. Para Gualdani, os números devem-se a uma tomada maior de consciência política dos brasileiros, além de um trauma com experiências que envolveram dinheiro público. Para o especialista, o Pan do Rio de Janeiro, por exemplo, ajuda a explicar porque os fluminenses aparecem como o segundo povo mais resistente (atrás apenas dos gaúchos) ao uso de verba pública dentre todos os estados que receberão investimentos para a Copa do Mundo.
- Um dado relevante é o que mostra que pessoas de lugares que não receberão a Copa são muito desfavoráveis também, pois elas têm a plena consciência de que a conta também será repartida entre elas. Os números dos investimentosemestádios são assustadores, e muitos que foram ouvidos também raciocinaram com base na ideia de que este dinheiro poderia ser investido em necessidades básicas da população como creches e hospitais públicos – analisou Gualdani.
COM A PALAVRA
Chico Alencar - Deputado Federal (PSOL-RJ)
"Não deixa de ser um resultado surpreendente no chamado País do Futebol. Creio que há uma série de pontos que ajudam a explicar isso. Parece que mais pessoas têm consciência das prioridades no uso do dinheiro público, ainda mais em um país desigual como o Brasil. A população sabe também que os gestores dos recursos públicos, em geral, agem de maneira ilícita e gerenciam mal estes recursos.
Já que a Copa do Mundo é cada vez mais um empreendimento mercantil, que os gastos fossem assumidos em sua maior parte pelas grandes empresas que patrocinam o evento. Por ser um país de carências evidentes, o Brasil não deveria aceitar tantas imposições da Fifa. A Copa irá durar um mês, mas a vida do povo brasileiro não é tão curta assim."
COM A PALAVRA
Henrique Fontana - Deputado Federal (PT-RS)
"Preferencialmente, o mínimo de recursos públicos deveriam ser empregados nas obras e reformas dos estádios da Copa do Mundo de 2014. Um valor reduzido que se fizer necessário ou uma redução na carga tributária sobre a obra, aí me parece algo razoável. Pela envergadura da arrecadação que de uma Copa do Mundo renderá ao governo, retirar parte da carga tributária de alguns materiais não é o problema. Se os estádios não forem feitos, o governo não arrecadará nada. Acho que esta é uma ponderação que deve ser feita.
As pessoas têm uma visão até compreensível de que há muitas demandas em necessidades básicas da população. Isto explica também os por quês da resistência do uso de verba pública em estádios, mas uma melhor aceitação em investimentos em obras de mobilidade."

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