segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O segredo do sucesso
postado em 30/11/2014 11:00 / atualizado em 30/11/2014 09:56
Paulo Galvão /Estado de Minas , Roger Dias /Estado de Minas
Alexandre Guzanshe e Rodrigo Clemente/EM/D.A PressComo na última temporada, o ano de 2014 termina de forma mágica para o futebol mineiro. De um lado, o Atlético, campeão da Recopa Sul-Americana e da Copa do Brasil, títulos inéditos na galeria do clube. De outro, o Cruzeiro com o merecido bicampeonato nacional, conquistado com duas rodadas de antecipação. O momento é de festa, euforia e orgulho para as duas torcidas. Belo Horizonte se tornou a capital do futebol brasileiro. A estratégia que deu certo em 2013 voltou a surtir efeito agora: times bem montados dentro de campo e diretorias que garantem o respaldo ao assegurar estruturas de primeiro mundo. Enquanto os arquirrivais brilham e ensinam lições, aos adversários de todo o país resta aplaudir. O desafio agora é manter o embalo, com campanha de destaque na Copa Libertadores de 2015, em que participarão juntos pelo segundo ano consecutivo. Motivos para deixar os torcedores otimistas não faltam. E são eles que o Estado de Minas mostra nesta reportagem.
INFRAESTRUTURA
Tanto Galo quanto Raposa possuem centros de treinamentos de primeira linha, oferecendo o que há de mais moderno para que os jogadores rendam o máximo. São os mais avançados equipamentos para prevenção de lesões e tratamentos de atletas; espaços para musculação, fisioterapia e fisiologia; além de hotéis de categoria cinco estrelas. A Cidade do Galo só saiu do papel depois da venda do volante Gilberto Silva ao Arsenal em 2002, que rendeu cerca de US$ 7 milhões ao caixa do clube. A Toca da Raposa II não fica atrás, construída para substituir a Toca I, erguida nos anos 1960 e que se tornou referência para os demais clubes brasileiros. A estrutura é tão boa que durante a Copa do Mundo a Argentina se concentrou no CT atleticano e o Chile usou as instalações celestes.
FORÇA DA TORCIDA/ESTÁDIO
Apesar de mandarem seus jogos em estádios distintos, os rivais mostram praticamente a mesma força como mandantes. Isso gera respeito – e até algum temor – nos adversários, que acabam arriscando menos. A simbiose entre Atlético e o Independência voltou a fazer a diferença em 2014. Em 30 partidas no Horto, o time sofreu apenas duas derrotas, tendo 75,5% de aproveitamento. Mas a equipe também tem construído uma relação de vitórias com o Mineirão, onde obteve as classificações épicas na Copa do Brasil diante de Corinthians e Flamengo e levantou as taças da Recopa e do torneio nacional. O Mineirão foi também um grande trunfo dos cruzeirenses este ano – sofreu apenas duas derrotas para o alvinegro e uma para o Corinthians lá. Foram 25 triunfos, além de cinco empates, com 80,8% de aproveitamento, números determinantes para a conquista do tetracampeonato brasileiro. Além da parte técnica, atuar no estádio permite à Raposa incrementar seu orçamento: só no jogo final da Copa do Brasil, entraram nos cofres azuis cerca de R$ 5,6 milhões.
GRUPOS DE QUALIDADE
Atlético e Cruzeiro conseguiram bons resultados graças à qualidade de seus jogadores e, sobretudo, a um futebol coletivo, no qual a vontade compensou os momentos em que a técnica não foi suficiente. No Galo, a saída de Ronaldinho Gaúcho em agosto acabou não tendo impacto negativo. Pelo contrário – a partir daí, a equipe passou a não depender mais da qualidade do camisa 10 e sim de uma união de forças, mesclando a experiência de jogadores como Victor, Leonardo Silva, Diego Tardelli e Dátolo com a juventude de Luan, Douglas Santos, Jemerson e Carlos. O técnico Levir Culpi resgatou o estilo de jogo da equipe baseado em toques rápidos e trocas de posições e inovou ao escalar apenas um volante. No Cruzeiro, o segredo foi a manutenção do futebol envolvente que encanta o Brasil desde o ano passado. O 4-2-3-1 implantado pelo técnico Marcelo Oliveira se mostrou eficiente, principalmente nos jogos em que os armadores (sobretudo Everton Ribeiro e Ricardo Goulart) estiveram inteiros fisicamente, voltando para marcar e levando o time ao ataque em velocidade.
COMANDO
O bom desempenho dos mineiros passa fundamentalmente pelas mãos dos treinadores Levir Culpi e Marcelo Oliveira. Com estilos parecidos, com a discrição como carro-chefe, eles conseguiram extrair o melhor de cada atleta. Em sua volta ao Galo, Levir aplicou conceitos usados em sete anos no futebol japonês, sendo um dos mais bem-sucedidos acabar com a concentração em jogos em BH, considerado fundamental na conquista da Copa do Brasil. A disciplina também deu o tom e quem saiu da linha foi limado do grupo, casos do lateral Emerson Conceição e dos atacantes Jô e André, dispensados por indisciplina grave depois de um jogo em Curitiba. Na Toca II, Marcelo costuma conversar bastante com os jogadores antes, durante e depois das atividades. A intenção é tentar entender o que cada um pensa, se há algum problema particular atrapalhando, e até como os atletas preferem atuar. Na base do diálogo, além de ter o controle de tudo, ele consegue fazer com que os comandados acolham suas orientações. Desde o ano passado, foram poucas as vezes em que vieram a público casos de indisciplina ou reclamações por causa de reserva, o que seria normal em um grupo com alguns jogadores experientes e donos de currículo vencedor.
ADMINISTRAÇÃO
Os arquirrivais têm também em comum a organização administrativa. Estruturado financeiramente desde os anos 1990, depois de um período de vacas magras, o Cruzeiro mantém as contas em dia. Com o impulso do programa de sócio-torcedor e incremento de outras receitas com patrocínios, a gestão do presidente Gilvan de Pinho Tavares acabou com a necessidade de se vender um jogador por ano para fechar o balanço, marca da administração anterior. Já o Atlético precisou driblar problemas financeiros e atraso de salários na temporada, justificado pelo clube pela retenção, pela Fazenda Nacional, do dinheiro da venda do armador Bernard ao futebol ucraniano. Com orçamento menor para 2015, um dos desafios do próximo presidente do clube, Daniel Nepomuceno, será conseguir um equilíbrio maior nas finanças e ainda assim manter um projeto vencedor.

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