
Técnico Celso Roth viu o Atlético-MG cair de rendimento na reta final do Campeonato Brasileiro
Luiza Oliveira
Em São Paulo
Luiza Oliveira
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A fama de cavalo paraguaio persegue Celso Roth. Reconhecido por bons trabalhos, o treinador foi obrigado a conviver com as críticas, muitas delas pesadas, por falhar na reta final. Mas no alto de seus 52 anos esbanja confiança e prefere ver a questão de um outro ponto de vista: se considera vítima de trabalhos 'excessivamente bons', que geraram expectativas ambiciosas demais em cima de times medianos.
Em sua visão, as campanhas de Grêmio e Atlético-MG nos Brasileiros dos dois últimos anos são exemplos disso. No time gaúcho, a perda da vantagem de 11 pontos para o São Paulo foi reflexo de um momento político turbulento e se ficou marcada é porque um time ainda em formação surpreendeu. No Atlético, a história se repetiu. A demissão no final do ano, mesmo com derrotas no últimos cinco jogos, foi fruto do otimismo exacerbado sobre uma equipe limitada tecnicamente.
Mas da passagem por Minas Gerais ficou não só a frustração de mais uma vez sentir o gosto do quase, mas principalmente a decepção com o presidente Alexandre Kalil. A relação próxima ficou abalada ao ter sido informado por um diretor sobre a demissão, o que gerou uma situação 'desconfortável'. Desde então nunca mais se falaram.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Roth fala sobre a sua saída do clube, as propostas para 2010, como é ser chamado de cavalo paraguaio, porque seus times falham na hora H e ainda alfineta Andrade e Vanderlei Luxemburgo.
UOL Esporte: A temporada começou e você não está empregado. O que tem feito?Roth: Estou tentando descansar, aproveitar as férias em Porto Alegre. Voltar ou não é da circunstância do futebol. A gente aprende a conviver com isso. Quando estamos trabalhando, não pensamos em outra coisa. Quando há uma parada, tem de se aproveitar o ambiente com a família. As coisas acontecem quando têm que acontecer.
UOL Esporte: Por que não voltou a trabalhar?Roth: Tive propostas do mundo árabe, mas nada dentro do que quero, e no mercado interno tem que dar um tempo. Os estaduais estão começando, demora um pouco para todo mundo se ajeitar. Quero ficar no Brasil, onde a figura do técnico está em um patamar interessantíssimo. O mercado está muito aquecido, teve a valorização do Real e a crise lá fora. Tive convites interessantes, todos de Série A, mas não dentro do que planejei, os valores não me agradaram.
UOL Esporte: O Andrade renovou com o Flamengo, mas houve especulações de que você poderia assumir. Foi procurado?Roth: Seria antiético falar, mas li na imprensa. O time foi campeão com méritos, comandando pelo Andrade, mas fiquei feliz por ser lembrado depois de passar por lá como passei, em um processo de renovação da equipe, com jogadores da base. Não fomos felizes, mas ser lembrado quatro anos depois é uma grande satisfação.
UOL Esporte: No ano passado o Atlético surpreendeu em boa parte do Campeonato Brasileiro, mas pecou na reta final. Ficou a sensação de um bom trabalho ou frustração?Roth: Ninguém esperava e equilibramos o time, mas qualidade é imprescindível. Não adianta ter esquema tático sem qualidade. Quando precisamos dela, erramos e ficou um sentimento de frustração. Tivemos um bom rendimento, sabendo que faltava muito para chegar a um padrão e infelizmente não conseguimos, mas deixamos uma base.
ALTOS E BAIXOS DO TÉCNICO CELSO ROTH
2001 - Palmeiras: Credenciado ao rebaixamento, liderou boa parte do Brasileiro. Na reta final, uma má sequência culminou na demissão do treinador. Não se classificou entre os oito primeiros para o mata-mata. Caiu nas semi da Libertadores diante do Boca Juniors.
2007 - Vasco: A expectativa da campanha gerou temores em São Januário, mas brigou pelo título e chegou a ser terceiro colocado na competição nacional. Terminou o torneio em 10º lugar.
2008 - Grêmio: A equipe em formação ainda no início do torneio liderou por 17 rodadas e chegou a abrir 11 pontos para o São Paulo, campeão naquele ano. Terminou com o vice-campeonato.
2009 - Atlético-MG: Desacreditado e candidato a cair, o alvinegro surpreendeu, foi líder por oito rodadas e ainda esteve no G-4 por 24. Mas escorregou na reta final, perdeu os últimos cinco jogos e terminou na sétima posição.
UOL Esporte: Você acha que errou em algo? Teria feito algo diferente?Roth: Acho que fiz mais do que o melhor, o time jogava no limite. Paguei o preço por fazer um grande trabalho, organizar uma equipe, colocar as coisas no lugar. A situação do Atlético era lutar para não cair e criamos uma expectativa por título. O objetivo de formar uma equipe deu resultado e teve uma vítima. Fui vítima de um trabalho que superou expectativas. A outra boa campanha do Atlético foi comigo em 2003. Não estava nos planos brigar com toda força e ganhar um título. Estava previsto para 2010.
UOL Esporte: Quando soube da demissão, o Kalil estava viajando e você foi informado por um diretor. Como se sentiu com a situação?Roth: Foi uma situação desagradável. Sempre tivemos um relacionamento franco e aberto, e no momento da minha saída, quando perdemos para o Corinthians, fui comunicado pelo assessor dele Rodolfo Gropen. Isso me deixou um pouco desconfortável. O Kalil veio a Porto Alegre me contratar, colocou seus planos e desejos na gestão do Atlético. Planejamos muito juntos e ele não agiu com a razão, e sim com a emoção. O dirigente é um torcedor, age dessa maneira. Ele não fez como quando veio me contratar, sequer foi ao jogo. Poderia ter dito: 'Não estamos satisfeitos, obrigado, não queremos mais'.
UOL Esporte: Você sempre teve boa relação com o Kalil, inclusive ele fez questão da sua volta. Depois dessa passagem isso muda?Roth: Não sei. Continuo o mesmo, mas não tivemos contato depois do jogo do Palmeiras na penúltima rodada. Não tenho restrição ao Kalil. Ele tem seus motivos para tomar as decisões. Não tenho mágoa. O treinador e a comissão são profissionais, se você coloca uma possibilidade e não atinge, tem que agir profissionalmente, sem abalo.
UOL Esporte: Você deu uma declaração polêmica dizendo que o Atlético seria campeão e isso não se concretizou...Roth: O torcedor do Atlético dizia isso. Dificilmente eu falaria, mas sentia que o Atlético tinha aspectos positivos. Havia uma boa integração, a vontade dos jogadores de chegar, a felicidade de estarem juntos, a estrutura, a direção cumprindo com seus deveres. Foi um somatório para dizer aquilo e gerou polêmica, mas era o que eu sentia até a última rodada.
UOL Esporte: Se seu trabalho tivesse uma continuidade em 2010 seria diferente?Roth: Chegar em 7º no Brasileiro é um desafio mesmo com a base formada, mas o Vanderlei (Luxemburgo) assume em uma situação muito melhor que eu assumi e que o Leão assumiu antes de mim. Pegamos o que estava sendo feito e colocamos nossa maneira de trabalhar. Agora esses jogadores estão bem encaminhados. O Vanderlei, com sua qualidade e experiência, tem tudo para dar sequência. Certamente o Atlético hoje é melhor que o do início do ano passado.
UOL Esporte: Você pegou o Grêmio desacreditado e levou ao vice, o Atlético sem perspectiva e brigou pelo título. Mas é criticado por falhar na reta final. Como encara isso?Roth: Temos uma cultura imediatista e simplória no país. Quem ganha é o melhor, quem não ganha é ruim. É assim que funciona, não interessa o trabalho. A cultura é essa e assim a gente é obrigado a trabalhar, ler, ouvir. Felizmente, ou infelizmente, pego equipes em situações problemáticas. Teus colegas dizem 'não chegou de novo', mas não vêem as circunstâncias. Com todo respeito ao Andrade, que foi meu auxiliar no Flamengo, mas ele assumiu no final de julho. Não se leva em consideração sua trajetória ou o trabalho, só o final. E não é só de mim que falam. O Vanderlei já está sendo questionado, não está mais no eixo Rio-SP.
UOL Esporte: Por que Grêmio e Atlético caíram na reta final?Roth: Cada um teve a sua circunstância. O Grêmio perdeu o campeonato por situações externas, eleições. E o Atlético chegou num momento em que não teve força técnica. Para ganhar o campeonato não é só técnica, tática, é um somatório. Fora de campo, tem que estar bem estruturado. No momento mais importante, acredito faltando 11 rodadas, o Grêmio se envolveu de uma maneira muito séria com as eleições e deixou passar detalhes. Por mais que os jogadores não tenham a ver, se envolvem. Todos têm internet e vêem como está o clube. Isso causou dificuldade e se refletiu em campo. Claro que o São Paulo também teve méritos.
UOL Esporte: E o Atlético?Roth: Chegamos ao limite, o jogo determinante foi contra o Flamengo no Mineirão. Tivemos erros técnicos, perdemos, não fomos capazes quando mais precisávamos. Erramos e não chegamos onde queríamos, internamente o Atlético sentiu, os jogadores sentiram, a diretoria, a comissão. Não tiro a culpa de ninguém.
Em sua visão, as campanhas de Grêmio e Atlético-MG nos Brasileiros dos dois últimos anos são exemplos disso. No time gaúcho, a perda da vantagem de 11 pontos para o São Paulo foi reflexo de um momento político turbulento e se ficou marcada é porque um time ainda em formação surpreendeu. No Atlético, a história se repetiu. A demissão no final do ano, mesmo com derrotas no últimos cinco jogos, foi fruto do otimismo exacerbado sobre uma equipe limitada tecnicamente.
Mas da passagem por Minas Gerais ficou não só a frustração de mais uma vez sentir o gosto do quase, mas principalmente a decepção com o presidente Alexandre Kalil. A relação próxima ficou abalada ao ter sido informado por um diretor sobre a demissão, o que gerou uma situação 'desconfortável'. Desde então nunca mais se falaram.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Roth fala sobre a sua saída do clube, as propostas para 2010, como é ser chamado de cavalo paraguaio, porque seus times falham na hora H e ainda alfineta Andrade e Vanderlei Luxemburgo.
UOL Esporte: A temporada começou e você não está empregado. O que tem feito?Roth: Estou tentando descansar, aproveitar as férias em Porto Alegre. Voltar ou não é da circunstância do futebol. A gente aprende a conviver com isso. Quando estamos trabalhando, não pensamos em outra coisa. Quando há uma parada, tem de se aproveitar o ambiente com a família. As coisas acontecem quando têm que acontecer.
UOL Esporte: Por que não voltou a trabalhar?Roth: Tive propostas do mundo árabe, mas nada dentro do que quero, e no mercado interno tem que dar um tempo. Os estaduais estão começando, demora um pouco para todo mundo se ajeitar. Quero ficar no Brasil, onde a figura do técnico está em um patamar interessantíssimo. O mercado está muito aquecido, teve a valorização do Real e a crise lá fora. Tive convites interessantes, todos de Série A, mas não dentro do que planejei, os valores não me agradaram.
UOL Esporte: O Andrade renovou com o Flamengo, mas houve especulações de que você poderia assumir. Foi procurado?Roth: Seria antiético falar, mas li na imprensa. O time foi campeão com méritos, comandando pelo Andrade, mas fiquei feliz por ser lembrado depois de passar por lá como passei, em um processo de renovação da equipe, com jogadores da base. Não fomos felizes, mas ser lembrado quatro anos depois é uma grande satisfação.
UOL Esporte: No ano passado o Atlético surpreendeu em boa parte do Campeonato Brasileiro, mas pecou na reta final. Ficou a sensação de um bom trabalho ou frustração?Roth: Ninguém esperava e equilibramos o time, mas qualidade é imprescindível. Não adianta ter esquema tático sem qualidade. Quando precisamos dela, erramos e ficou um sentimento de frustração. Tivemos um bom rendimento, sabendo que faltava muito para chegar a um padrão e infelizmente não conseguimos, mas deixamos uma base.
ALTOS E BAIXOS DO TÉCNICO CELSO ROTH
2001 - Palmeiras: Credenciado ao rebaixamento, liderou boa parte do Brasileiro. Na reta final, uma má sequência culminou na demissão do treinador. Não se classificou entre os oito primeiros para o mata-mata. Caiu nas semi da Libertadores diante do Boca Juniors.
2007 - Vasco: A expectativa da campanha gerou temores em São Januário, mas brigou pelo título e chegou a ser terceiro colocado na competição nacional. Terminou o torneio em 10º lugar.
2008 - Grêmio: A equipe em formação ainda no início do torneio liderou por 17 rodadas e chegou a abrir 11 pontos para o São Paulo, campeão naquele ano. Terminou com o vice-campeonato.
2009 - Atlético-MG: Desacreditado e candidato a cair, o alvinegro surpreendeu, foi líder por oito rodadas e ainda esteve no G-4 por 24. Mas escorregou na reta final, perdeu os últimos cinco jogos e terminou na sétima posição.
UOL Esporte: Você acha que errou em algo? Teria feito algo diferente?Roth: Acho que fiz mais do que o melhor, o time jogava no limite. Paguei o preço por fazer um grande trabalho, organizar uma equipe, colocar as coisas no lugar. A situação do Atlético era lutar para não cair e criamos uma expectativa por título. O objetivo de formar uma equipe deu resultado e teve uma vítima. Fui vítima de um trabalho que superou expectativas. A outra boa campanha do Atlético foi comigo em 2003. Não estava nos planos brigar com toda força e ganhar um título. Estava previsto para 2010.
UOL Esporte: Quando soube da demissão, o Kalil estava viajando e você foi informado por um diretor. Como se sentiu com a situação?Roth: Foi uma situação desagradável. Sempre tivemos um relacionamento franco e aberto, e no momento da minha saída, quando perdemos para o Corinthians, fui comunicado pelo assessor dele Rodolfo Gropen. Isso me deixou um pouco desconfortável. O Kalil veio a Porto Alegre me contratar, colocou seus planos e desejos na gestão do Atlético. Planejamos muito juntos e ele não agiu com a razão, e sim com a emoção. O dirigente é um torcedor, age dessa maneira. Ele não fez como quando veio me contratar, sequer foi ao jogo. Poderia ter dito: 'Não estamos satisfeitos, obrigado, não queremos mais'.
UOL Esporte: Você sempre teve boa relação com o Kalil, inclusive ele fez questão da sua volta. Depois dessa passagem isso muda?Roth: Não sei. Continuo o mesmo, mas não tivemos contato depois do jogo do Palmeiras na penúltima rodada. Não tenho restrição ao Kalil. Ele tem seus motivos para tomar as decisões. Não tenho mágoa. O treinador e a comissão são profissionais, se você coloca uma possibilidade e não atinge, tem que agir profissionalmente, sem abalo.
UOL Esporte: Você deu uma declaração polêmica dizendo que o Atlético seria campeão e isso não se concretizou...Roth: O torcedor do Atlético dizia isso. Dificilmente eu falaria, mas sentia que o Atlético tinha aspectos positivos. Havia uma boa integração, a vontade dos jogadores de chegar, a felicidade de estarem juntos, a estrutura, a direção cumprindo com seus deveres. Foi um somatório para dizer aquilo e gerou polêmica, mas era o que eu sentia até a última rodada.
UOL Esporte: Se seu trabalho tivesse uma continuidade em 2010 seria diferente?Roth: Chegar em 7º no Brasileiro é um desafio mesmo com a base formada, mas o Vanderlei (Luxemburgo) assume em uma situação muito melhor que eu assumi e que o Leão assumiu antes de mim. Pegamos o que estava sendo feito e colocamos nossa maneira de trabalhar. Agora esses jogadores estão bem encaminhados. O Vanderlei, com sua qualidade e experiência, tem tudo para dar sequência. Certamente o Atlético hoje é melhor que o do início do ano passado.
UOL Esporte: Você pegou o Grêmio desacreditado e levou ao vice, o Atlético sem perspectiva e brigou pelo título. Mas é criticado por falhar na reta final. Como encara isso?Roth: Temos uma cultura imediatista e simplória no país. Quem ganha é o melhor, quem não ganha é ruim. É assim que funciona, não interessa o trabalho. A cultura é essa e assim a gente é obrigado a trabalhar, ler, ouvir. Felizmente, ou infelizmente, pego equipes em situações problemáticas. Teus colegas dizem 'não chegou de novo', mas não vêem as circunstâncias. Com todo respeito ao Andrade, que foi meu auxiliar no Flamengo, mas ele assumiu no final de julho. Não se leva em consideração sua trajetória ou o trabalho, só o final. E não é só de mim que falam. O Vanderlei já está sendo questionado, não está mais no eixo Rio-SP.
UOL Esporte: Por que Grêmio e Atlético caíram na reta final?Roth: Cada um teve a sua circunstância. O Grêmio perdeu o campeonato por situações externas, eleições. E o Atlético chegou num momento em que não teve força técnica. Para ganhar o campeonato não é só técnica, tática, é um somatório. Fora de campo, tem que estar bem estruturado. No momento mais importante, acredito faltando 11 rodadas, o Grêmio se envolveu de uma maneira muito séria com as eleições e deixou passar detalhes. Por mais que os jogadores não tenham a ver, se envolvem. Todos têm internet e vêem como está o clube. Isso causou dificuldade e se refletiu em campo. Claro que o São Paulo também teve méritos.
UOL Esporte: E o Atlético?Roth: Chegamos ao limite, o jogo determinante foi contra o Flamengo no Mineirão. Tivemos erros técnicos, perdemos, não fomos capazes quando mais precisávamos. Erramos e não chegamos onde queríamos, internamente o Atlético sentiu, os jogadores sentiram, a diretoria, a comissão. Não tiro a culpa de ninguém.
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