terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quatro anos após renúncia, Ziza segue distante do Galo e descarta volta ao clube
Thiago Madureira - Superesportes

Publicação:25/09/2012 08:00
Atualização:25/09/2012 15:14
Ziza Valadares foi protagonista de um dos momentos políticos mais conturbados da história do Atlético. Em pleno ano do centenário, pressionado por opositores e por grande parte da torcida - insatisfeita com o desempenho do time -, ele renunciou ao cargo de presidente. A principal alegação foi a série de ameaças à família.
Desde então, Ziza distanciou-se do futebol e evitou falar publicamente sobre o assunto. Quatro anos depois da saída do Atlético, completados na semana passada, ele encerrou o período sabático e concedeu uma entrevista exclusiva ao Superesportes.
Radicado no Rio de Janeiro, onde é diretor de comunicação da Light, ele é enfático ao dizer que não voltará ao futebol: “Não é possível. Continuo acompanhando, sou torcedor do Atlético e nunca vou deixar de ser. Mas voltar para dirigir, eu não quero mais”, revela Ziza, que regressa à capital mineira aos fins de semana para ficar com a família.
Direção de futebol: "Resgatei o Atlético da Segunda Divisão"
Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 2005, o Atlético passou por um processo de reformulação. Como principal medida, o então presidente Ricardo Guimarães nomeou Ziza Valadares diretor de futebol.
“Eu era diretor de transportes do estado, e fui convidado. Na época, o Atlético estava com seis meses de salários atrasados. Só aceitei assumir o cargo com a regularização de pagamentos aos atletas e funcionários do clube”, conta.
À frente do futebol, Ziza contratou jogadores em excesso - foram 35 só em 2006. De tantos, encontrou peças importantes, como o zagueiro Marcos, o meio-campo Marcinho e os atacantes Roni e Marinho. Com a chegada do técnico Levir Culpi, substituto de Lori Sandri, o time se organizou em campo e conquistou o título da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
Assim, o caminho estava sedimentado para Ziza assumir a presidência do clube em 2007. “Tentaram colocar alguns candidatos, mas ninguém aceitou. A insistência e unidade em torno do meu nome me fizeram aceitar”, recorda.
Presidência: "Administrativamente, obtive conquistas importantes"
 Logo no ano de estreia de Ziza como principal mandatário, o Atlético quebrou um jejum de sete temporadas e conquistou o Campeonato Mineiro - com direito a goleada por 4 a 0 sobre o Cruzeiro, no primeiro jogo da final, que é lembrado pelo atleticanos pelo “gol retrovisor” – Fábio ficou de costas para o campo e não viu o chute de Vanderlei para o gol.
Na época, Ziza, empolgado, brincou com o goleiro. Hoje, ele se arrepende. “Além de um grande jogador, Fábio é uma boa pessoa. O Cruzeiro deve muito a ele”, desculpa-se, no momento em que Fábio passa por reprovação de parte dos cruzeirenses.
Dentre as principais medidas administrativas, ele destaca o investimento no centro de treinamentos e a renegociação de dívidas trabalhistas. “Fizemos uma grande negociação com a Justiça do Trabalho. Pagamos uma grande quantia. Para se ter ideia, o Velloso tinha um passivo de R$ 6 milhões; o Ramon de R$ 4 milhões. Conseguimos regularizar isso e deixar uma vida tranquila para o Atlético tocar”, frisa.
“Reformulamos o centro de treinamento que estava um tanto quanto abandonado. Tivemos que restabelecer todo o hotel para os profissionais. Criamos toda estrutura e alojamento para a base, com 12 apartamentos. Investimos em torno de R$ 5 milhões”, calcula.
Por outro lado, pesaram sobre o ex-dirigente acusações do Ministério Público sobre possíveis irregularidades em contratos de parcerias com o CRB e Democrata-GV e em negociações de jogadores. Porém, nada foi comprovado.
Em campo, os resultados foram discretos. Em 2007, o Atlético foi eliminado nas quartas de finais da Copa do Brasil para o Botafogo – em jogo polêmico, pelo erro de arbitragem de Carlos Eugênio Simon, que não marcou um pênalti para o Atlético – e terminou na oitava posição do Campeonato Brasileiro.
Em 2008, ano do centenário, os reforços de peso, esperados pela torcida, não chegaram. A contratação de maior impacto foi a do veterano Petkovic. “Caminhamos com o Atlético dentro da possibilidade que tínhamos. Não havia possibilidade de fazer grandes investimentos”, defende-se Ziza.
O desempenho do time decepcionou os torcedores. Na final do Campeonato Mineiro, sofreu derrota vexatória para o Cruzeiro, por 5 a 0. Para piorar, voltou a ser eliminado pelo Botafogo, nas quartas de finais, da Copa do Brasil, e caiu também na primeira fase da Copa Sul-Americana. No Campeonato Brasileiro, chegou a frequentar a parte de baixo da tabela, despertando o então recente trauma do rebaixamento.
Relação com a Galoucura: "Torcida organizada só causa transtorno ao clube"
O ano que deveria ser de festa tornou-se uma interminável ressaca para Ziza. Sua maior dor de cabeça era a relação conturbada com a principal facção de torcida organizada do Atlético, a Galoucura.
O ex-mandatário cortou as principais regalias da organizada. “Eu proibi a Galoucura de entrar no centro de treinamentos porque eles foram lá ameaçar jogadores, quase agrediram alguns. Botei pra fora e cortei o apoio. Recebiam 150 ingressos e revendiam. Passei a não dar entradas e a não pagar as viagens que eles faziam. Eles recebiam o dinheiro para pagar os gastos e ainda cobravam dos integrantes”, dispara.
A reação foi implacável. A Galoucura tornou-se a maior opositora de Ziza. Organizou protestos pela cidade, tendo a saída do então presidente como principal reivindicação.
As manifestações que eram pacíficas, contudo, deixaram de ser. Em uma ação truculenta, um grupo vestido com a camisa da Galoucura invadiu a sede de Lourdes, na madrugada de 28 de agosto de 2008, e quebrou a mesa da secretaria da presidência. Em outra ocasião, Ziza encontrou, na garagem de sua casa, uma carta anônima com ameaças a ele e a seus familiares. O autor exigia a renúncia. Ele não se abalou, até a situação ficar insustentável.
“Foram na minha casa, picharam muro, soltaram bomba, um bando de vagabundos. Mas eles estão bem guardados hoje”, diz, em referência a prisão de parte da cúpula da Galoucura. A pressão e ameaças a familiares fizeram Ziza renunciar.
“Mesmo tendo sofrido ameaças, não me arrependo. Fui feliz no Atlético, pude dar minha contribuição. Trouxe o Atlético da Segunda para a Primeira Divisão. Fomos campeões mineiro, quebrando jejum de sete anos. Regularizamos a situação financeira. Levamos a Seleção Brasileira para o centro de treinamentos”, enumera o orgulhoso ex-dirigente.
Momento atual: "A paixão move o Atlético"
Ex-jogador do time juvenil do Atlético na década de 1960, Ziza, mesmo morando no Rio de Janeiro, acompanha o Galo como um torcedor dedicado e está feliz com os resultados. “O Atlético está bem. Tivemos uma vergonha no ano passado na derrota de 6 a 1 para o Cruzeiro. Mas está bem, disputando nas cabeças. O fundamental é que a torcida está feliz”.
No fim da entrevista, ele deixa um recado para os atleticanos: “Que continue torcendo como sempre torceu, porque é a paixão que move o Atlético”, encerra Ziza Valadares.

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