segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Com pulso firme e sem mágica, Alexandre Kalil resgata a ambição do Atlético-MG 26/09/09 - 03h15 - Atualizado em 26/09/09 - 10h15

Aposta em Tardelli foi um tiro certeiro
Pelo Twitter, comentários sobre jogos, anúncios de reforços e 'desabafo' sobre a torcida atleticana

Alexandre Kalil durante entrevista coletiva na Cidade do Galo


Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, presidente do Galo avalia seu primeiro ano de administração







Richard Souza Rio de Janeiro
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O pavio, segundo ele, está mais comprido aos 50 anos. Talvez seja a maneira de compensar a teimosia assumida. Prestes a concluir o primeiro ano do mandato de presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil faz um balanço da gestão, que vai até 2011. Em alta no comando, pesa a favor do homem forte do Galo o fato de o time estar entre os líderes desta edição do Campeonato Brasileiro desde o princípio. Trocou o técnico após o primeiro semestre que considerou desastroso, contratou jogadores, segurou o destaque do time e, sobretudo, tenta recuperar a saúde financeira e a ambição do clube.
De Belo Horizonte, o dirigente conversou com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM, por telefone. Confirmou a fama de twitteiro e o estilo direto com que costuma opinar. É do tipo que prefere ficar vermelho hoje para não ficar amarelo pela vida toda. Confira a íntegra do bate-papo: GLOBOESPORTE.COM - O senhor assumiu o Atlético-MG em 31 de outubro do ano passado. Na posse, pediu a ajuda de Deus para reconstruir o clube. Prometeu trabalho, vassoura e organização. Está satisfeito com o que fez até agora? Acha que está no caminho certo?
Alexandre Kalil - Acho que o que eu prometi foi cumprido. Eu acho que está vindo a ajuda divina também e estou satisfeito, sim. Estou satisfeito com o que tem sido feito aqui, porque o tempo é muito curto. Uma das prioridades era contornar a crise financeira do Galo. Qual é o atual estágio das finanças do clube? O Atlético vai terminar o ano superavitário. Claro que o serviço da dívida faz com que esse relatório, esse balanço, não apareça assim. A folha salarial do Atlético é menor que a do São Paulo, é menor que a do Corinthians, que a do Cruzeiro. É menor que a de vários clubes. O importante sobre a folha salarial é que ela é paga no primeiro dia útil do mês. Há um ano, quando eu entrei aqui, o Atlético estava com quatro meses de salários atrasados, inclusive dos funcionários de salário mínimo. Este ano, além de colocar em dia, nós não devemos um tostão de prêmio, nem de salário, nem de direito de imagem, de nada. E já pagamos, para 250 funcionários, o 13º. A solução era dar um choque de gestão imediata no clube, com investimentos no futebol e redução de custos?
O que acontece é o seguinte: nós temos que ter a consciência de que não tem mágica, não tem genialidade. Eu não sei o que é choque de gestão. Eu sei o que é redução de gastos, de coisas inúteis. Eu sei o que é gastar bem, focado."
Acho essa palavra muito chique, muito bacana. Eu não sei se isso é choque de gestão. Mandar quem ganha muito e não faz nada embora, mandar 50 jogadores embora, que não fizeram falta nenhuma. Controlar as compras, controlar os gastos, fazer uma organização com pouca gente mandando. O que acontece é o seguinte: nós temos que ter a consciência de que não tem mágica, não tem genialidade. Eu não sei o que é choque de gestão. Eu sei o que é redução de gastos, de coisas inúteis. Eu sei o que é gastar bem, focado. Acho que é isso que eu fiz. Agora, nós trabalhamos dentro do orçamento, gastamos menos do que recebemos, fizemos um time competitivo. Foi prometido e foi feito. O clube contratou reforços importantes, como Diego Tardelli, Carini, Correa, Rentería e Ricardinho. E tudo isso sem um patrocinador, por exemplo. Existe algum parceiro ou tem contratado com recursos próprios?
O Atlético não tem ninguém, absolutamente ninguém. O Atlético não tem mecenas. O Atlético vive das suas pernas, das suas arrecadações. Não tem ninguém colocando dinheiro aqui dentro. O Galo faz uma campanha muito positiva no Brasileiro. O senhor acredita que soube realizar a mudança do comando técnico na hora certa, quando demitiu Emerson Leão, depois da perda do título do Campeonato Mineiro, para a chegada de Celso Roth?
Depois que tem o resultado é muito fácil falar, né? O momento foi delicado. O presidente de um clube, de um clube da grandeza e da pressão que a gente recebe, tem que ter coragem para tomar a decisão que pensa estar certa e acha que está certa. Agora deu certo, né? Na hora eu achei que era e não costumo ficar escutando muito o que a torcida acha, então nesse ponto eu sou meio teimoso. Se considera um homem de pavio curto? Não. Ele aumentou. A idade vai aumentando o pavio (risos). Mas ainda assim não abandona o estilo enérgico e direto.
A minha vida é assim. Não faço nada diferente no Atlético do que eu faço na minha vida. Eu acho que assim fica mais fácil. É o velho provérbio: vamos ficar vermelhos de uma vez para não ficarmos amarelos a vida toda. E acha que a comissão técnica e o grupo de jogadores conseguiram compreender essa forma de gestão? Eu acho que sim. Os jogadores eu trouxe, todos. Poucos estavam aqui. Os que estavam me conheciam. Acho que funciona com os jogadores, com a comissão, com os profissionais, com os funcionários. Eu tenho os meus deveres e os meus direitos. Como cumpro todos os meus deveres, exijo os meus direitos também. O que o motivou a aderir à febre do Twitter?
Acho que é uma libertação do dirigente de futebol. A partir de agora, eu falo o que eu quero, do jeito que eu quero, como quero, sem precisar pedir favor a um jornalista qualquer. O meu é o mais seguido de Minas Gerais, tem quase o triplo do segundo colocado. Então, é um canal direto para a imprensa, para a torcida. É uma ferramenta importante. É difícil lidar com os pedidos, reclamações e comentários da torcida ou canal ajuda a perceber melhor o que ela deseja? Houve um momento em que o senhor chegou a chamar os torcedores de chatos, via Twitter, por conta de uma possível saída do Diego Tardelli.
Foi, foi. Eu me dou muito bem com isso. Não tem problema. Eles me conhecem, sabem como é o meu jeito, como eu me comporto. Foi uma brincadeira e a torcida entendeu bem. São pessoas que não se conhecem e mandam uma opinião. Se todo mundo que nem se conhece manda a mesma coisa, cabe ao presidente prestar atenção no que está sendo falado. Não é nada para dirigir o Atlético via Twitter, mas é mais uma opinião. Por falar em Tardelli, ele foi novamente convocado para a seleção brasileira (e o Rentería para a Colômbia, interrompe) e briga por um lugar na Copa do ano que vem. O Atlético-MG conseguiu recuperar este jogador, que sempre foi tratado como um grande talento e não vingava? O ambiente ajuda, a cidade ajuda, tudo ajuda. É uma oportunidade que ele queria e precisava na vida dele. Ele está muito feliz, me disse isso. Pediu realmente para não ser vendido, a torcida também pediu. Eu também não queria vendê-lo e disse que não iria vendê-lo. Quando todo mundo quer a mesma coisa, ela tem que ser feita porque é a certa. Como este sucesso dele reflete no clube?
Acho que é um motivo de orgulho e tristeza. Orgulho por ser atleticano. Tristeza porque um amigo me telefonou e disse que a torcida do Atlético é assim: pede jogador de nível de seleção e quando é convocado acha ruim (risos). O preço por ter jogadores de nível de seleção é que eles são convocados. É grande a chance de perder o jogador na próxima janela? Provavelmente. Até o fim de 2011 tem contrato. Eu só tinha a promessa de segurar nessa janela que se passou (até 31 de agosto). A minha promessa com a torcida acaba aí. E quais são as novas promessas?
A torcida do Atlético estava vivendo de promessas. Ano passado prometeram até o Pelé e trouxeram um time de envergonhar o clube. O que eu prometo é o que eu prometi na minha eleição, que prometi na minha campanha: tratar do Atlético, cuidar dele com carinho, com respeito, com honestidade. É isso o que eu prometo. Melhorar cada vez mais o nosso time, tentar organizar, passar um pente mais fino. Ir apurando as coisas, arrumando o clube. O trabalho de três anos vai ser o mesmo que foi feito este ano.

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