terça-feira, 20 de maio de 2014

20/05/2014 08h00 - Atualizado em 20/05/2014 08h00

Dirigentes e especialistas apontam soluções para arbitragem brasileira
Após polêmicas nos dois últimos clássicos mineiros, GloboEsporte.com ouve Atlético-MG, Cruzeiro e Federação Mineira para apontar possíveis soluções
Por Fernando Martins Y Miguel, Léo Simonini e Marco Antônio AstoniBelo Horizonte
Virou rotina no futebol brasileiro. Sistematicamente, após os grandes jogos, um time deixa o campo reclamando da arbitragem e questionando a qualidade técnica do trio que apitou a partida. Em Minas Gerais, a situação é ainda pior do que a maioria do resto do país, tanto que, há alguns anos, os clubes exigem árbitros de outros estados nas finais do Campeonato Mineiro. A Federação Mineira de Futebol (FMF) tem um árbitro no quadro da Fifa, Ricardo Marques, um aspirante Fifa, Émerson Ferreira, e outros três no quadro da CBF, Igor Benevenuto, Renato Cardoso e Cleisson Veloso, mas nem isto é suficiente para que Atlético-MG e Cruzeiro, que quase sempre figuram nas decisões, deem um voto de confiança para a arbitragem do estado.
Nos últimos dois clássicos entre os rivais mineiros, as polêmicas relacionadas ao apito foram tema dos debates após os jogos. No segundo jogo da final do Campeonato Mineiro, dia 14 de abril, o Atlético-MG pediu um pênalti de Dedé sobre Jô, aos 43 minutos do segundo tempo, mas o gaúcho Leandro Vuaden, da Fifa, não marcou e mandou o jogo seguir. O presidente alvinegro, Alexandre Kalil, chegou a chamar o árbitro de vagabundo depois da partida. O empate por 0 a 0 deu o título estadual ao Cruzeiro.
No clássico do último domingo, pelo Campeonato Brasileiro, quem deixou o campo reclamando foi o Cruzeiro. Para o time azul, a arbitragem do paranaense Héber Roberto Lopes foi desastrosa. A Raposa reclamou de um pênalti não marcado, cometido pelo argentino Otamendi, do pênalti que gerou o segundo gol da vitória atleticana por 2 a 1, de Léo sobre Leonardo Silva e, principalmente, de um impedimento mal marcado pela bandeirinha Fernanda Colombo Uliana, num lance em que o meia Alisson, do Cruzeiro, avançou com a bola dominada e ficaria na frente do goleiro Victor, aos 41 minutos do primeiro tempo. O diretor de futebol cruzeirense Alexandre Mattos deu declarações polêmicas, sugerindo que Fernanda pose para uma revista masculina.
O GloboEsporte.com ouviu dirigentes de Atlético-MG, Cruzeiro e da Federação Mineira, além de especialistas sobre o assunto, para saber o que é possível fazer para que os problemas relacionados à arbitragem sejam minimizados num futuro próximo.
Para Valdir Barbosa, gerente de futebol do clube, é preciso criar uma espécie de intercâmbio de arbitragem entre os estados, durante os estaduais, para que o trabalho seja homogêneo em todas as competições, com os donos do apito acostumados a diferentes tipos de pressões e públicos.
- Os erros sempre vão acontecer, mas não podem ser graves e em sequência como ocorreu no domingo. É necessário que haja intercâmbio durante os campeonatos regionais. Também é importante criar um quadro que seja trabalhado nacionalmente e não só de forma específica em cada estado. Muitas vezes, falando sem preconceito, vem um árbitro do Amazonas, por exemplo, apitar um jogo por aqui. Não que ele não tenha qualidade técnica, mas é que trabalha seis meses num centro com menos jogos, sem muita torcida, com pouca pressão. Aí ele chega para apitar um grande jogo, que muitas vezes não está acostumado. Por isso, acho que deveria ter um intercâmbio maior para trabalhar de forma uniforme, com isso os árbitros ganhariam cancha. Acho que isso.
Para o diretor de futebol do clube alvinegro, existe apenas uma saída para que casos como os que ocorreram no último clássico não se repitam.
- Acho que a principal medida a se tomar é a profissionalização dos árbitros. Existem muitos interesses envolvidos no futebol, que a cada dia se torna ainda mais profissional. Então, o árbitro, que detém o poder de comandar o espetáculo, de aplicar a regra, não pode continuar no amadorismo. Acho que a tecnologia deve ser apenas uma ferramenta para a arbitragem. O principal ponto é a profissionalização do árbitro. Só assim melhoraremos o nível da arbitragem.
Federação Mineira
José Eugênio, presidente da comissão de arbitragem da Federação Mineira de Futebol, explica que. desde 2011, quando assumiu a função, várias medidas são adotadas para que a arbitragem melhore no estado.
- Treinamentos no campo de jogo toda quarta-feira, por duas horas. É um treino técnico e físico com instrutor de arbitragem da CBF, que tem curso da Fifa. É um curso de posicionamento em campo, que simula todas as situações, e também para os assistentes. Semanalmente participam cerca de 25 árbitros e auxiliares profissionais. E não adianta, futebol é repetição, sempre tem que repetir as mesmas coisas. Além disso, temos dois preparadores físicos, o Gilson Ornelas, que é instrutor também da CBF e dos árbitros Fifa, que dá os treinos três vezes por semana, e o outro é o Guido Baek, com trabalhos em dois períodos duas vezes por semana. Outro trabalho depois das rodadas é que nos reunimos para analisar os erros e acertos com vídeos, além de termos uma psicóloga do esporte, a Alessandra Monteiro. Em todos os jogos do campeonato estadual ela fica na beirada do campo para dar suporte e faz o trabalho antes, durante e depois dos jogos. No geral, a arbitragem mineira tem errado menos que os de fora. Há erros, existe no mundo inteiro, são seres humanos. Mas quando vamos falar em qualidade da arbitragem mineira temos que falar em arbitragem top de linha no Brasil, não pode falar ao contrário.
A melhoria só vem com o treinamento incansável. Tem que treinar muito, repetição, só assim eles vão colocar na cabeça, aprender e colocar em prática. Mas para isso eles precisam de recursos, que existem, mas não são alocados. Existe recurso para tudo, mas o necessário para a arbitragem não é colocado.
Márcio Rezende Freitas
Opinião de um ex-árbitro
Márcio Rezende Freitas, ex-árbitro e que atualmente é comentarista de arbitragem da TV Globo Minas, também aponta a repetição como a melhor maneira para que os erros sejam minimizados. A questão da profissionalização também é abordada por ele, que não vê esforço para que a situação seja resolvida.
- A melhoria só vem com o treinamento incansável. Tem que treinar muito, repetição, só assim eles vão colocar na cabeça, aprender e colocar em prática. Mas para isso eles precisam de recursos, que existem, mas não são alocados. Existe recurso para tudo, mas o necessário para a arbitragem não é colocado. Vai ficar sempre um buraco entre o necessário e o que chega. Quanto à questão da profissionalização, ela está aprovada, mas é como cabeça de bacalhau, ninguém vê. É preciso trabalhar no sentido de regulamentar, mas não há interesse das pessoas que militam no futebol como um todo para que isso aconteça. Cada federação arcaria com os custos de seus árbitros e os árbitros Fifa ficaram a cargo da CBF.
Por fim, ele cita o que mudou desde que abandonou o apito dentro de campo. E vê na tecnologia uma vilã e uma arma a favor dos profissionais de hoje em dia.
- Nós bancávamos tudo. Não havia o apoio de ensino e logístico que há hoje, como cursos e treinamentos dentro do estado. As pré-temporadas eram feitas fora, em pouquíssimos estados, algo que dificultava para a maioria dos árbitros do Brasil. Outra diferença é que na minha época havia mais coragem por parte dos árbitros, já que hoje vemos muita arbitragem politicamente correta. O árbitro apita hoje já pensando na próxima escala, querendo agradar a todos, e isso nunca acontece porque sempre vai desagradar alguém. A tecnologia hoje também trabalha contra, algo que na nossa época não existia, mas ela também é uma ferramenta que pode ajudar no trabalho deles, algo que não tínhamos.

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