Paulo Galvão - Estado de Minas
A dívida de cerca de R$ 21 milhões com a empresa WRV, que terá de ser quitada por determinação da Justiça, não é a única “bomba” a cair sobre o Atlético esta semana. Ontem, o Ministério Público Estadual anunciou que está investigando a atual administração do clube, o que pode, até, culminar com o afastamento dos dirigentes.
Segundo o promotor Eduardo Nepomuceno, responsável pelos procedimentos, chegaram denúncias ao órgão contra a atual diretoria e a principal irregularidade apontada foi nas parcerias firmadas com o CRB-AL e o Democrata-GV, ambas no ano passado, que seriam lesivas ao clube. Além disso, estão sob suspeitas as negociações de jogadores, inclusive pelas comissões pagas a intermediários, e algumas medidas administrativas.
“O clube, como entidade de desporto onde se pratica o futebol, patrimônio cultural da Nação, exige atenção do Ministério Público, no sentido de cobrar moralidade, transparência e honestidade. Então, foi instaurado o inquérito civil público para apurar eventuais irregularidades na gestão do atual presidente do Clube Atlético Mineiro”, disse Nepomuceno, que não revelou os autores das denúncias.
O promotor não fixa prazo para o fim das investigações, mas espera que isso ocorra o mais rápido possível. Para tanto, já começou a ouvir depoimentos de pessoas que julga importantes, além de ter requisitado documentos ao Atlético. O próprio presidente Ziza Valadares será convocado para depor, em data ainda a ser marcada.
“Se ficar comprovado o caráter nocivo das ações do presidente, ele poderá ser afastado. Mas ainda é cedo para falar nisso”, disse o representante do Ministério Público.
Além das denúncias oferecidas, as próprias atitudes do presidente atleticano levantaram suspeitas. “A insistência com que o presidente convoca a imprensa para falar da dívida do clube é anormal. Cada vez que faz isso, ele está depreciando a própria marca, um dos maiores patrimônios do Atlético.” Segundo apurou a reportagem do Estado de Minas, existe a acusação de que o clube teria gasto até R$ 4 milhões com as parcerias. Ziza Valadares não confirma o valor, mas garante que não se opõe às investigações.
“Não só sou a favor, como parabenizo o Ministério Público pela iniciativa. Tanto que, tão logo fui comunicado, enviei para eles os documentos solicitados”, argumentou o mandatário alvinegro, sem deixar de cobrar do órgão. “Só espero que o Ministério Público também seja ágil assim para investigar os que invadiram e depredaram a sede do Atlético e também ameaçaram a mim e a minha família.”
Ele admite ser questionado sobre a eficácia das parcerias, tanto técnica quanto financeiramente. Porém, garante que não há como levantar suspeita quanto à idoneidade dos contratos.
Em outras ocasiões, o presidente defendeu as parcerias, citando exemplos como o do armador Wanderson, que estava no Democrata-GV quando foi negociado por US$ 400 mil com o futebol mexicano. Também lembrou que atletas como o volante Serginho, atualmente titular do Galo, poderia ter sido dispensado se não fosse emprestado ao parceiro, o mesmo ocorrendo com o zagueiro reserva Welton Felipe.
Mesmo considerando que a iniciativa foi positiva, ele optou por terminar as parcerias no primeiro semestre. À época, disse que elas haviam cumprido o papel e seriam reformuladas.
Além das formais, com CRB e Democrata, o Galo também fez parcerias informais. A principal delas foi com o Uberlândia, a quem emprestou atletas.
VICE PENSA EM RENÚNCIA
A investigação do Ministério Público chega em um momento de crise política e técnica no Atlético. O Conselho Deliberativo foi convocado para reunião extraordinária em 2 de outubro, para votar novo estatuto. A principal proposta é diminuir o poder do presidente, que passaria a dividir responsabilidades com um único vice-presidente. E, ontem, mais um vice-presidente demonstrou insatisfação com a administração de Ziza Valadares. Segundo o engenheiro Gil César Moreira de Abreu, Ziza não consulta seus imediatos e, por isso, pensa em renunciar ao cargo de vice e deixar o clube.
“Fiquei muito honrado de lembrarem de mim, mas não pedi cargo nenhum a ninguém, não pleiteei nada. Estou radicado em Lagoa Santa e não tenho mais condições de assumir compromisso financeiro pelo Atlético”, afirma Gil César, ao revelar que teve apenas uma reunião com Ziza até hoje. “Sobre a administração dele, desconheço, porque nosso único contato para falar sobre o Atlético foi há dois anos, me parece. Não tenho nada para falar, por exemplo, da situação financeira do clube, pois nunca nos foi falado (com os vice-presidentes) nada sobre isso”, conta Gil César. (Com Daniel Seabra, do Aqui)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário