sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Indícios de irregularidades (26/09)

Técnico Marcelo Oliveira, hoje efetivado no Alvinegro, recebia do clube R$ 3 mil para comandar time alagoano, conforme contrato firmado em 10 de abril do ano passado

Jaeci Carvalho - Estado de Minas
Paulo Galvão - Estado de Minas


O promotor Eduardo Nepomuceno, da Promotoria de Defesa do Meio-Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Estadual, encontrou indícios de irregularidades nas parcerias firmadas pelo Atlético com o Democrata-GV e o CRB-AL. Ambas foram firmadas na gestão de Ziza Valadares, que renunciou à presidência do clube semana passada.
Segundo ele, o contrato com o clube de Governador Valadares, por exemplo, determina que o dinheiro para pagamentos de salários dos jogadores cedidos saísse dos cofres do Galo para o parceiro, que faria os repasses aos atletas. Pelo que foi constatado, porém, o Galo estava pagando diretamente aos jogadores. Desta forma, estaria caracterizada a irregularidade. “Veja bem, por enquanto achamos indícios de que algo não está correto. Ou há uma cláusula no contrato indicando que o clube pode pagar diretamente ou a irregularidade estará comprovada, já que, pelo que observei até aqui, os dirigentes atleticanos alegam que fazem o pagamento diretamente aos atletas. Se o contrato não reza isso, claro que alguma coisa errada está acontecendo. Estamos apurando tudo com muito critério, pois sabemos se tratar de um grande patrimônio nacional”, disse o promotor. Se a irregularidade for confirmada, o Ministério Público encaminhará denúncia à Justiça, que tomará as medidas cabíveis. “Pode ser uma irregularidade passível de correção ou um ilícito. Nesse caso, vamos oferecer denúncia”, afirmou Nepomuceno.
O Estado de Minas teve acesso aos contratos do Atlético com Democrata e CRB. Com o time do Leste mineiro, o que chama a atenção são os aumentos de valores. No primeiro documento firmado entre as duas partes, datado de 1º de dezembro de 2006, fica estabelecido que o clube da capital pagaria à Pantera R$ 240 mil, em quatro parcelas de R$ 60 mil, “pela cessão dos direitos de participação no proveito econômico auferido em eventual cessão temporária ou definitiva dos atletas inscritos pelo Democrata (...)”, que fica responsável pelo pagamento de salários e encargos dos atletas cedidos. Exatamente três meses depois, foi feito o Primeiro Termo Aditivo à Promessa de Compromisso e Protocolo de Intenções e o valor a ser repassado saltou para R$ 324 mil. No Segundo Aditivo, de 1º de junho de 2007, o aumento é ainda maior, batendo em R$ 1,02 milhão. Já com a assinatura do Terceiro Aditivo, de 16 de agosto de 2007, fica estabelecido que o repasse chega a R$ 1,19 milhão. Em nota oficial, a Pantera afirmou que “todos os valores financeiros envolvidos na parceria, o Atlético repassou diretamente aos jogadores e comissão técnica que trabalhavam no Democrata. O Atlético também depositou todos os encargos oriundos dos pagamentos efetuados aos mesmos”.
PARCELA EXTRA Já no contrato com o time alagoano, firmado em 10 de abril de 2007, o Galo se compromete a pagar os salários dos atletas cedidos até o limite de R$ 60 mil mensais, cabendo ao parceiro financiar outros custos, como alimentação e material esportivo, além de pagar R$ 3 mil ao técnico, no caso, Marcelo Oliveira. O volante Serginho também esteve no clube alagoano. Nesse caso, também foram feitos termos aditivos, permitindo majoração dos valores, como estabelecido em 30 de novembro de 2007: “Excepcionalmente, a exclusivo critério do Atlético, o referido valor poderá chegar a R$ R$ 65 mil nos meses de outubro e novembro”. O Segundo Termo Aditivo, de 26 de dezembro de 2007, prevê ainda que, “no mês de janeiro de 2008, será devida pelo Atlético ao CRB uma parcela extraordinária no importe de R$ 27 mil”, mas foi suprimido o pagamento de salário a treinador. Já no contrato da parceria para este ano, ficou estabelecido que o clube de Belo Horizonte deveria repassar aos alagoanos até R$ 112 mil por mês.
“Temos de ver como esses valores estão contabilizados no Atlético. Os aumentos, por si só, são uma anormalidade”, disse o promotor. Enquanto isso, a comissão que está ajudando o presidente do Conselho Deliberativo, João Baptista Ardizoni, a gerir o clube tenta acertar os últimos detalhes para pagar os salários dos funcionários, o que pode ocorrer hoje ou segunda-feira.

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