Paulo Galvão - Estado de Minas
Era para ser um ano de muita festa, principalmente dentro de campo, com time competitivo e muitas conquistas. Porém são cada vez mais raros os motivos para o Atlético comemorar seus 100 anos. Depois de fracassar em três competições – Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana – e ter de lutar contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o clube enfrenta também grave crise política, que culminou ontem com a renúncia do presidente Ziza Valadares.
Para agravar o drama alvinegro, ainda não se sabe quem o sucederá, deixando o clube acéfalo. Dos quatro vice-presidentes, dois já anunciaram que não pretendem assumir o cargo: Gil César Moreira de Abreu e Ronaldo Vasconcellos alegam motivos pessoais e profissionais, deixando claro que continuam à disposição para colaborar no que for preciso.
O primeiro vice-presidente, Renato Salvador, ainda não se pronunciou oficialmente, mas, segundo o próprio Ziza, o acompanhará na renúncia. Em busca de uma saída para a crise, o presidente do Conselho Deliberativo, João Baptista Ardizoni, se reúne hoje com os quatro vices para tratar do assunto. Se nenhum deles voltar atrás, Ardizoni se torna o maior mandatário até que sejam realizadas eleições. Ele teria 60 dias para convocá-las, mas, para isso, ainda precisa dirimir dúvidas, como se seria até o fim da gestão de Ziza, até dezembro de 2009, ou por três anos, como estipula o estatuto.
Também se decidirá nos próximos dias a manutenção ou não da reunião extraordinária do Conselho Deliberativo convocada para 2 de outubro. Na ocasião, está marcada a votação de novo estatuto, que trocaria quatro vice-presidências por apenas uma, cujo ocupante comandaria o clube ao lado do presidente.
FRACASSO
A renúncia pôs fim à passagem de quase três anos de Ziza no Atlético. Ele assumiu o cargo de diretor de futebol em dezembro de 2005, logo depois do rebaixamento do time à Série B do Brasileiro. No ano seguinte, depois de turbulências no primeiro semestre, a equipe engrenou e foi campeã da Segunda Divisão.
Fortalecido pela campanha vitoriosa, ele foi o candidato da situação na eleição para suceder Ricardo Guimarães, tendo 88,1% dos votos dos conselheiros. Sua administração não poderia ter começado melhor: em 2007, o Galo reconquistou o título mineiro, depois de sete anos. De quebra, goleou o rival Cruzeiro por 4 a 0 na primeira partida da decisão.
A ida do técnico Levir Culpi para o Japão, porém, tirou força do time, que fracassou na Copa do Brasil e só se firmou no Brasileiro nas 10 últimas rodadas, terminando em oitavo lugar. Para este ano, as prometidas festas se restringiram a um amistoso com o Peñarol e a bailes em salões de Belo Horizonte. Em campo, houve só tristeza, como o troco do arqui-rival (5 a 0) no primeiro jogo decisivo do Estadual. A sempre fiel torcida acabou abandonando o time. Tem ido em pequeno número aos jogos.
Para completar o quadro, esta semana o clube teve as estruturas abaladas por duas bombas: a decisão da Justiça de obrigá-lo a pagar R$ 21 milhões à empresa WRV, referentes a empréstimo contraído em 2000, para renovar os contratos do zagueiro Cláudio Caçapa e do atacante Guilherme; e a abertura de investigação, pelo Ministério Público Estadual, sobre a atual gestão alvinegra.
Enfrentando ainda a ira de parte da torcida, a interminável escassez de recursos e a oposição crescente até de companheiros de administração, Ziza deixa a presidência de maneira melancólica. E atirando: “Há um movimento orquestrado, dentro do Conselho Deliberativo, e tem a ousadia de mandar carta me ameaçando. Eu me preocupo com as torcidas organizadas, que entram na sede para quebrar o patrimônio do Atlético, para me ameaçar. Mas continuo sem medo. Só não posso aceitar ameaças à minha família. Então, resolvi sair, para que aqueles que se acham em condições venham administrar o Atlético. Que os doidos varridos venham e assumam o clube, que estou deixando em muito melhores condições do que recebi”.
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