sábado, 24 de outubro de 2009

"Vim para ser campeão" (22/10)


Jaeci Carvalho - Estado de Minas

Se um grande time começa por um grande goleiro, o Atlético está muito bem servido. Depois de a torcida sofrer com goleiros inexpressivos e deficientes, a diretoria resolveu apostar num grande nome, contratando o uruguaio Héctor Fabian Carini Hernandez, que em tão pouco tempo já se transforma em ídolo da torcida, assim como foi Mazurkiewicz, também uruguaio e um símbolo para ele. “Era fantástico. Só o vi por vídeos, mas me espelhei nele.” Aos 29 anos, Carini, que defendeu Danúbio (do Uruguai), Juventus, Standard Liège (da Bélgica), Inter de Milão e Múrcia, sonha com o título brasileiro, com a Copa de 2010 e em se tornar um dos ícones do novo Galo. “Estou feliz aqui. Gostaria de ter vindo há oito meses, mas o presidente do Múrcia não me liberou. Com esse grupo e essa fantástica torcida, temos a grande chance de escrever nosso nome na história do clube.” Nesta entrevista, feita na Praça do Papa, Carini fala de sua história, das conquistas e de seus objetivos em Belo Horizonte, especialmente, no Atlético.
HISTÓRIA
Estudei até o fim do segundo grau e sonhava em ser carpinteiro, como meu avô. Mas o futebol era a minha grande paixão e, depois de atuar na linha, fazendo gols, um dia o goleiro do time faltou e eu, como mais alto, fui para debaixo das traves e nunca mais saí. Sou de família humilde, com um irmão e uma irmã, que vivem em Montevidéu, de onde saí para construir minha carreira. Comecei no Danúbio e de lá alcei voos mais altos, ficando 10 anos na Europa.
EUROPA
Cheguei à Itália jovem, aos 19 anos, e senti muito por causa do idioma. Do frio eu gosto, mas, nos primeiros três meses, tinha dificuldades por não entender o que meus companheiros diziam. Para minha sorte tinha amigos uruguaios na Juventus, como Paolo Montero e O’Neil. Fui me adaptando e acabei vencendo por lá. Atuei no Standard Liège, voltei à Inter e fui para o Múrcia. Foi uma experiência importante, que me ajudou a chegar aos 29 anos mais maduro, consciente da vida e do que é o futebol.
BELO HORIZONTE
Conheço pouco, mas deu para perceber que é uma cidade linda, com gente acolhedora, fácil de se adaptar. Por enquanto, estou em um hotel, mas em janeiro, na volta das férias, vou alugar um apartamento, em Lourdes, e trazer minha mulher. Pensamos em filhos em breve, já que estamos juntos há sete anos. Tenho certeza de que ela vai adorar aqui. Só tenho uma queixa: o trânsito. Porém, esse é um problema das grandes metrópoles.
ÍDOLO
O Mazurkiewicz, que foi meu ídolo, tem uma história no Atlético e, se eu puder fazer um pouco do que ele fez, já me sentirei feliz. O Rodolfo Rodrigues é outro que me impressionou. O grupo aqui é maravilhoso e tem me deixado à vontade. Só sinto dificuldades no idioma. Quando o Jonílson e o Carlos Alberto conversam rápido, não entendo nada (risos). Não penso em outra coisa a não ser nos oito jogos que poderão nos dar o título.
GALO
Conhecia a história do Atlético e sonhei em vir para cá no começo do ano. O Kalil (Alexandre, presidente) fez o possível para me trazer, mas o presidente do Múrcia não quis me liberar. Eu estava na reserva e queria sair. Felizmente, tudo deu certo e hoje estou feliz. A torcida é fantástica, empurra a gente. Estamos concentrados na busca do título. Os uruguaios sempre fizeram história aqui, que o digam Mazurkiewicz e Cincunegui. Se eu puder fazer um pouco do que eles fizeram, me sentirei realizado. Tirando os grandes clubes da Europa, o Atlético não deve nada a nenhum outro em termos de estrutura. O nosso CT é de primeiríssimo mundo. Em estrutura, o Galo pode se considerar um grande campeão. Vamos, então, buscar esse título tão importante. Meu companheiro de quarto nas concentrações é o Benítez, mas já estive com outros jogadores para aprimorar o português.
BRASILEIRO
É muito difícil e equilibrado. Aqui há sete ou oito equipes em condições de ganhar o título. Mesmo em casa, os jogos são difíceis. Confesso, porém, que vendo de fora imaginava um campeonato bem técnico, com belas jogadas, mas percebo que é de pegada, de contato e de muita marcação. Lembra o Campeonato Uruguaio.
SELEÇÃO
Meu primeiro objetivo é mostrar ao torcedor do Galo o meu valor e lutar até o fim pelo título. Foi isso o que me motivou a vir. Claro que gostaria de disputar a Copa da África, caso o Uruguai chegue lá. Acredito que possa ser chamado, mas quero deixar a Seleção para depois. Estive em 2002, mas, assim como Argentina e França, saímos na primeira fase. O momento é de concentração nos jogos restantes do Brasileiro e de “secar” os concorrentes. Fazendo a nossa parte, temos todas as chances de chegar.
FAVORITOS
Acredito muito no Atlético. Apontaria também o Palmeiras, o São Paulo e o Flamengo. Mas quero deixar claro que acredito muito no nosso grupo e não será surpresa para nós se formos campeões. Acho que todos passaram a acreditar mais na gente.
POLÍTICA
Da política brasileira não entendo nada e da uruguaia, muito pouco, pois fiquei 10 anos na Europa. Mas sei que o povo uruguaio não está feliz, com exceção dos que têm dinheiro. Teremos eleições em novembro e espero que assuma um presidente que olhe pelo povo. Infelizmente, o mundo todo passa por problemas.
VIDA
Consegui fazer a minha vida na Europa. Sou um cara simples, muito caseiro, e que ajuda a família. Guardo o que ganho e, quando parar de jogar, vou pensar em outra profissão. Pretendo jogar até os 37 anos, mas posso aumentar e atuar até os 42, quem sabe? (risos) Eu não me naturalizaria para jogar por outra seleção, caso pudesse. Nasci no Uruguai e tenho de jogar pela minha equipe. Não condeno quem o faz, por não ter oportunidade em sua seleção, mas eu não gostaria. Tenho orgulho de ser uruguaio.
MENSAGEM
Que a torcida do Galo nos apoie o tempo todo, que acredite no nosso trabalho e que possa vibrar com os gols e com as possíveis conquistas. Temos time e grupo e estamos concentrados em busca do título. O torcedor, que é o nosso 12º jogador, pode acreditar que, se depender de mim, vou procurar fechar o gol e garantir nossas vitórias. Estou feliz e jogo de preto, como meu ídolo, Mazurkiewicz. Ele, com certeza, me trará bons fluidos.

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