terça-feira, 27 de novembro de 2012

Esperança de mudar a história

Antônio Melane - Estado de Minas
Publicação:27/11/2012 08:34
O Atlético voltará à Copa Libertadores em 2013, 13 anos depois da última de suas quatro participações na competição – as anteriores foram em 1972, 1978 e 1981. Dos 12 maiores clubes do Brasil, apenas o Botafogo está há mais tempo sem disputá-la: desde 1996.
Para o ano que vem, o Galo aposta na experiência de atletas como o goleiro Victor, os zagueiros Leonardo Silva e Réver, o lateral Júnior César, o volante Pierre, o armador Ronaldinho Gaúcho e os atacantes Guilherme e Jô, todos eles com experiência na competição, embora nenhum deles jamais a tenha conquistado. Com um forte time nas mãos, Cuca espera compensar com sobras a frustração de 2011, quando o Cruzeiro, por ele dirigido, fez a melhor campanha na fase de grupos, mas caiu na segunda fase, em casa, para o Once Caldas, o pior dos 16 classificados.
Os antecessores de Cuca, Ronaldinho Gaúcho e cia jamais conseguiram destaque na Libertadores, esbarrando na inexperiência, em adversários poderosos ou em arbitragens prejudiciais.
A lembrança mais dolorosa é a de 1981. Atlético e Flamengo terminaram a primeira fase empatados e tiveram de disputar jogo extra. No Serra Dourada lotado, o que prometia ser uma eletrizante decisão durou não mais do que 37 minutos. Tempo suficiente para que o árbitro José Roberto Wright, em noite desequilibrada, expulsasse cinco jogadores da equipe mineira: Reinaldo, Éder, Chicão, Palhinha e Osmar. Declarado vencedor e classificado pela Confederação Sul-Americana de Futebol, o rubro-negro de Zico arrancaria para o título.
ANTECEDENTE Curiosamente, não foi a primeira vez que o Galo perdeu pontos na Libertadores por ter ficado com seis jogadores em campo. Isso já havia ocorrido em 1972, na estreia alvinegra na competição. Houve um tumulto no empate por 2 a 2 com o Olímpia, em Assunção, ao fim do qual foram expulsos Ronaldo, Grapete, Dario, Lola e Oldair. Os mineiros caíram na primeira fase, com o São Paulo se classificando no grupo.
Na segunda Libertadores que disputou, o Atlético passou bem pela primeira fase, dando o troco no São Paulo, mas sucumbiu diante da experiência dos argentinos Boca Juniors e River Plate no triangular semifinal. O Boca avançou à decisão e se sagrou bicampeão.
O Galo retornou à competição em 2000 e passou facilmente pela primeira fase. Na segunda, eliminou o xará paranaense nos pênaltis e se classificou às quartas de final. Nelas, acabou superado pelo Corinthians. “Na verdade, faltou espírito de competição, experiência mesmo, porque tecnicamente não éramos inferiores”, lembra o ex-atacante Guilherme, hoje vivendo em Marília (SP).
RETROSPECTO GERAL
33 jogos
11 vitórias
13 Empates
9 derrotas
45 gols a favor
38 gols contra
1972
Time base
Mazurkiewicz (Renato); Zé Maria, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo (Guará), Dario, Lola (Beto) e Romeu (Tião)
Técnico: Telê Santana
Dadá e a dupla expulsão
“Era outra competição, sem TV, sem exames antidopings. Os adversários chegavam na gente bufando. O pior é que os árbitros estavam sempre favorecendo equipes tradicionais ou aquelas que tinham o mando de campo. Eu falo que naquela época os ‘mãos grandes’ estavam em ação mesmo. O árbitro que apitou o jogo contra o Olímpia lá foi um ladrão. Pior do que o (José Roberto) Wright faria com a gente no Serra Dourada anos depois, contra o Flamengo. Os dois gols paraguaios foram em impedimentos absurdos. Num deles, o Grapete recebeu falta, estava caindo e demorou a cobrar. Um paraguaio pegou a bola, rolou para um companheiro impedido fazer o gol. Nós ficamos olhando, e o juiz marcou o centro do campo. Vejam bem: o árbitro me expulsou no primeiro tempo. O Gregório (massagista), esperto, falou: ‘Dario, ele expulsou você com a camisa 9. Troca pela 14 e entra no jogo. Foi o que fiz. Ele me expulsou de novo, mas cheguei a jogar mais uns 15 minutos. Pena que não haja uma imagem para que vocês tenham ideia de como era. Infelizmente, o Atlético não foi bem. Faltou experiência, brigar como eles.”
Dario
1978
Time base
João Leite; Alves (Miranda), Luizinho, Osmar Barão e Hilton Brunis (Romero); Cerezo, Ângelo e Paulo Isidoro; Marinho, Marcelo (Jorge Campos) e Ziza
Técnicos: Barbatana e Mussula
Rivais e clima fortes
“Tínhamos um bom time, mas alguns jogadores se machucaram e não estavam em boa forma. Eu, por exemplo, tive uma contusão na mão e só fui preparado para voltar na Libertadores. Não estava em plena forma e enfrentamos times fortíssimos: o Palestino tinha o Figueroa na zaga; o River Plate era um timaço, com Passarella na defesa; o Boca tinha Gatti no gol. Mas fizemos bons jogos. O Boca, que era o campeão, ficou assustado com a gente. Tanto que no jogo lá na Bombonera entramos e ficamos 30 minutos esperando pelo adversário em campo. Eles puseram uns meninos para entrar com a gente e os garotos ficaram dando carrinho na bola, atrapalhando nosso aquecimento. Quando o jogo começou, estávamos muitos irritados. Mas aquele era o clima de Libertadores. Se hoje é difícil derrubá-los lá, com certeza no meu tempo era muito mais.”
João Leite
1981
Time base
João Leite; Miranda, Osmar, Luizinho e Jorge Valença; Chicão, Cerezo e Palhinha; Vaguinho, Reinaldo e Éder
Técnicos: Pepe e Carlos Alberto Silva
Fla e Wright no caminho
“Os jogos eram muito mais difíceis devido à rivalidade entre os países. Nem tanto pela qualidade das equipes. Como todos os brasileiros comentam, não tínhamos espírito de Libertadores para concorrer com igualdade. Então, Atlético e Flamengo fizeram dois timaços, sem reforços, depois do sucesso no Campeonato Brasileiro de 1980. Mas o Galo foi visivelmente prejudicado contra o Fla. Não se discute que o interesse era fazer do adversário finalista, o que foi alcançado. Também não se pode negar que o nosso rival tinha um timaço. E nós perdemos a chance aqui no Mineirão, quando fizemos 2 a 0 e não conseguimos segurar. Se a gente sai com aquela vantagem de dois gols para o jogo no Maracanã, o Fla não iria aguentar, porque também respeitava muito a nossa equipe. Foi 2 a 2 aqui e lá. E no jogo-extra foi aquela palhaçada encomendada do (José Roberto) Wright. Falar disso hoje só é bom para relembrar a história, nada mais.”
Reinaldo
2000
Time base
Velloso; Bruno, Célio Silva, Gilberto Silva e Vítor; Cleison, Gallo, Lincoln e Ramon (Irênio); Guilherme e Marques
Técnico: Márcio Araújo
Time forte para no Timão
“O grupo acreditava que daria para chegar ao título, porque tínhamos um time bem preparado e experiente. Talvez com a melhor formação dos últimos tempos: Velloso no gol; Gilberto Silva e Célio Silva na zaga; Gallo e Ramon Menezes no meio; Guilherme e eu na frente. Tudo ajustadinho. A torcida também esperava que seria o nosso momento da grande conquista. Mas encontramos o Corinthians e não conseguimos a vantagem de que precisávamos no Mineirão. Em casa é preciso fazer o resultado. Em São Paulo ficou melhor para o Corinthians, mas mesmo lá tivemos bons momentos e poderíamos ter pelo menos empatado. Lembro que as arbitragens também não eram boas, muito favoráveis aos times da casa. Foram detalhes que não permitiram ao Atlético chegar às semifinais. Mas no futebol a história não nega: quem vence normalmente é porque tem melhor equipe, e justiça seja feita: o Corinthians tinha um muito poderoso. Se a gente passa por ele, na certa estaria na final.”
Marques

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