quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Simon desabafa: 'Não serei punido, nem ficarei fora da Copa do Mundo'


Juiz gaúcho não teme campanha do Flamengo para difamá-lo. E garante que trabalhará na próxima rodada do Campeonato Brasileiro


André Durão /GLOBOESPORTE.COM


Apito na mão e terno da Fifa no corpo, o árbitro Carlos Eugênio Simon passou por uma sabatina nesta terça-feira. Na Granja Comary, em Teresópolis, onde participa de um seminário para árbitros brasileiros filiados à Fifa até esta sexta-feira, ele não se negou a responder as 20 perguntas abaixo. Por uma hora, defendeu-se das acusações de juiz decadente e de espírito caseiro.Além disso, o gaúcho garantiu que não ficará fora da Copa do Mundo como querem os dirigentes do Flamengo depois de ele ter ignorado pênalti claro de Leo Fortunato em cima de Diego Tardelli, no jogo Cruzeiro x Flamengo, no último domingo, pelo Brasileirão.Simon revela que, em conversa com o presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Sérgio Corrêa, ficou decidido que não haverá punição. Ele afirma que não teme agressão nem ação judicial por parte dos torcedores. E ainda sugere algumas modificações na arbitragem, como, por exemplo, o fim do sorteio e a utilização do ponto eletrônico.Pênalti não marcado Continuo com a mesma impressão do campo. Não houve pênalti. Aos 46 minutos do segundo tempo, o atleta do Flamengo (Diego Tardelli) entrou na grande área, pisou na bola e caiu. O jogador do Cruzeiro (Leo Fortunato) deu um tranco, não pegou na bola e nem no atacante rubro-negro. Posteriormente, os dois caíram juntos. Se você tirar o jogador do time mineiro da jogada, o outro atleta vai cair sozinho. Vi o lance na TV quando cheguei na Granja Comary, e estou convicto de que não errei.Sérgio Corrêa Tive uma conversa franca, aberta e honesta com o Sérgio Corrêa. Ele ponderou que houve a penalidade. Só que tem alguns membros da comissão que concordaram com a minha marcação. No mínimo, é um lance polêmico.Reação da diretoria do Flamengo Não tomei conhecimento do teor da carta que o Flamengo vai enviar à Fifa. Sou um cara bem tranqüilo. Tenho 25 anos de arbitragem. Estou no quadro da maior entidade do futebol desde 1997. Já apitei várias decisões, inclusive uma Copa do Brasil em que o Flamengo foi campeão em cima do Vasco, em 2006. A escala dos árbritos saiu na segunda-feira (17/11) e ninguém reclamou. Não é a primeira vez que sou contestado. No entanto, estou com 43 anos. E treino diariamente forte em dois períodos. Perfeição só com o velho lá de cima. Sou presidente de uma entidade (Sindicato dos Árbitros do Rio Grande do Sul), com 96% dos votos.Já apitei partidas em Cáli e Medelin, onde as pessoas matam à toa. Não estou preocupado com a minha segurança. Minha esposa e meus quatro filhos ficam espantados com as repercussões. Mas sei que não há problema.Surpresa com a atitude do Kleber Leite Não. O Kleber Leite está defendendo os interesses dele. Estou acostumado a trabalhar em grandes jogos. Apitei em duas Copas do Mundo e numa Olimpíada. Fiz várias finais intercontinentais e do Campeonato Brasileiro. Estou calejado. Respeito o Flamengo. Trata-se de um extraordinário clube, com uma enorme história e uma torcida maravilhosa. Se o Kleber Leite me ligar, podemos conversar numa boa. Não guardo rancor. Ele é um grande dirigente, que fez muito pelo futebol brasileiro. O mesmo serve para o técnico Caio Junior. Apito desde 1984 e não tenho problema com ninguém.Ameaça de perder a vaga na Copa do Mundo Em hipótese alguma. Até porque alguns companheiros do exterior também acharam que não houve pênalti.Sou o único pré-candidato brasileiro cotado para participar da Copa do Mundo de 2010. Não é um lance aqui e outro lá que vai me prejudicar. Estou treinando forte, mas não quer dizer que estou garantido. Serão sete sul-americanos dentre os 38 juízes da competição. Tenho uma possibilidade enorme. Por isso, não estou nem um pouco temeroso quanto a isso.Invasão do Caio Júnior não consta na súmula Não vou me manifestar quanto à súmula. Prefiro deixar isso para o tribunal. O STJD vai tomar uma decisão. Isso não é colocação que se faça. Quando a crítica tem consistência, faço minha reflexão. Não é o caso. Não dou bola para esse tipo de coisa. Tenho uma história na arbitragem do Brasil e do mundo. Outro dia apitei um jogo de eliminatórias entre Argentina x Paraguai. Os anfitriões estavam perdendo por 1 a 0 e eu expulsei o Tevez, sem favorecimentos. Não vou me preocupar com opiniões de pseudo-jornalistas.Comportamento da torcida Ela é apaixonada. Defende o clube acima de tudo. Xinga e elogia o técnico ao mesmo. O papel dos torcedores é esse. Eles vão ao estádio para extravasar.Peso de apitar jogos do Flamengo Trato todos os clubes da mesma forma. Não tem diferença apitar jogos do Figueirense ou do Flamengo. Do Vitória ou do São Paulo. A diferença é que o Rio de Janeiro é uma grande caixa de ressonância no país, embora não veja problema com as repercussões.Recepção nas ruas É boa. Tento conversar com todos que me param. Procuro explicar a situação. O árbitro é um ser humano, não um robô. Ele acerta e erra. Minha carreira é vitoriosa. Não é fácil, na era da comunicação, com 24 câmeras no jogo e a intensificação da preparação física, continuar apitando. Os árbitros novos têm respeito por mim. Conto com o apoio da CBF e da Conmebol que me acham um dos melhores árbitros da América do Sul.Possíveis ações dos torcedores rubros-negrosNão há respaldo no poder jurídico. A ação de um torcedor do Atlético-MG em 2007 foi arquivada. Se entrarem com ações de novo, não vai dar em nada. O Estatuto do Torcedor diz que o árbitro tem que ser correto e honesto, não fala que o juiz precisa ser infalível. Até porque infalível só o Homem lá de cima.
Já apitei alguns jogos da Série B este ano. Não vejo problema nisso. Mas quem escala é a Comissão Nacional de Arbitragem. Tem jogos da Segundona que são mais importantes que os da Série A. O cachê é o mesmo. Não faz diferença. Estarei no sorteio da próxima rodada. O Sérgio Corrêa me garantiu isso.Televisão como vilão Apitar hoje em dia é bem diferente de anos atrás. Mesmo assim, tem gente que com 24 câmeras no estádio vê um lance seis, sete, oito vezes e não chega a uma conclusão. Com certeza, a tecnologia expõe mais o árbitro. Porém, também aprendi muito assistindo à televisão. Gravo todos os jogos que apito. E, e em alguns momentos, revendo a minha atuação, percebo que poderia melhorar meu posicionamento em campo. A TV também auxilia o árbitro.Leonardo Gaciba na Copa do Mundo de 2010 Fui um dos primeiros árbitros a elogiar o Gaciba. Ele trabalhou comigo na final do Brasileiro entre Corinthians x Santos, como quarto árbitro. É um jovem (de 37 anos) de enorme potencial. Mas um árbitro faz a carreira aos poucos. Ele deve chegar a uma Copa do Mundo. Assim como o Héber Roberto Lopes, o Evandro Roman e o Paulo César Oliveira.Percentual de erro da arbitragem brasileira Os erros giram em torno de 8 a 10%. Não é o suficiente para determinar o campeão de uma competição.Tecnologia na arbitragem Precisamos adotar o ponto eletrônico. É possível e viável economicamente. Devemos utilizá-lo no próximo Campeonato Brasileiro. Não vai sanar os erros, mas minimizá-los. Já a bola com chipe foi testada no último Mundial Interclubes. Achei interessante, mas parece que o valor dela é muito alto. Não é possível utilizá-la em todas as competições.Auxílio da TV como no futebol americano Sou contra qualquer tipo de intervenção na arbitragem. Não vai ser possível colocar essa tecnologia em todos os campos. O futebol é o esporte mais jogado no mundo. Você não pode pôr um equipamento na Copa do Mundo e deixar de usá-lo num torneio regional.Mudanças no apito O sorteio é um absurdo. E é preciso profissionalizar a arbitragem. No entanto,os erros não vão acabar porque isso faz parte da falibilidade do homem.Jogos mais complicados da carreiraOs Gre-nais são os mais difíceis. Mesmo assim caminho tranqüilamente na rua no dia seguinte, sem precisar de seguranças.

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