segunda-feira, 24 de maio de 2010

Menor infrator tem no futebol chance para vencer Publicada em 21/5/2010 às 15:30

Após o treino, J. recebe o apoio de Zé Maria enquato é observado por Domingos Ferreira (Crédito: Tom Dib)
Parceria entre Fundação Casa e Rio Claro dá nova chance para internos se recuperarem
– Vamos, vamos. Se cair, levanta e continua – grita o técnico Danilo Silva, da base do Rio Claro. Em um campo próximo ao CT do clube, na cidade de Serra Negra (SP), cerca de quarenta garotos de 17 a 20 anos dividem espaço enquanto ouvem o treinador.Na beira do gramado, um menino levanta a mão, pedindo para participar do treinamento. Durante algum tempo ele fica com o braço para o alto. Quando é autorizado, coloca a mão no chão, faz o sinal da cruz e corre para o centro do campo. Logo em seguida, o jovem zagueiro de 17 anos é selecionado para participar do rachão, entre os reservas. Cabisbaixo e visivelmente nervoso, ele perde a bola em seu primeiro lance, deixando o adversário na cara do gol. Felizmente, o atacante rival erra o alvo, e o técnico o incentiva com gritos. Então, todos percebem que o garoto não faz parte daquele grupo.Ele é J., um interno da unidade de Rio Claro da Fundação Casa que, por meio de uma parceria entre a Fundação e o Rio Claro, terá a oportunidade de se recuperar no clube, assim como vários outros adolescentes. Detido há sete meses por roubo qualificado, é a primeira vez que J. sai do internato, depois de passar por uma série de avaliações e ser liberado para o treino pelo seu bom comportamento dentro da instituição.– Nossa ideia não é formar apenas profissionais de futebol, mas acima de tudo cidadãos para retornar à sociedade. É por isso que estamos abrindo a nossa estrutura para vários internos da Fundação CASA que quiserem se recuperar. Isso é pioneiro no país – afirma Domingos Ferreira, diretor do Rio Claro.A Fundação Casa, porém, não conta apenas com a ajuda do time do interior. Coordenada pelo ex-jogador do Corinthians Zé Maria, a instituição tem no futebol a sua maior porta para a ressocialização de menores infratores da antiga Febem.– Cria-se uma expectativa muito grande para eles estarem desenvolvendo atividades, coisas que eles praticamente não tiveram a oportunidade na infância, então, é um caminho certo – comenta Zé Maria, que também organiza a Copa CASA, um campeonato disputado entre as unidades da Fundação, cujas partidas são realizadas antes dos jogos do Paulistão.J., continua em campo, enquanto uma equipe formada por quatro pessoas da Fundação permanecem na beira do gramado, apenas observando orgulhosos o menino jogar. No fim da partida, ele chega até os supervisores cansado, mas quando é abordado pela reportagem do LANCENET!, lembra um autêntico jogador de futebol.- Nunca tinha colocado uma chuteira no pé, nunca tinha jogado em um campo. Estou aproveitando bastante para tentar alcançar meus objetivos. Vou fazer o máximo para conseguir passar por esse teste - diz, ainda com a cabeça para baixo. Depois, ele sai para receber um abraço de Zé Maria e de seu professor, Gláucio Aparecido.O resultado do teste sairá apenas nas próximas semanas, mas, independentemente de passar ou não, J. já tem um caminho a seguir para, enfim, realizar o maior sonho de sua vida: ser jogador do Santos Futebol Clube.Bate-Bola: Confira abaixo a entrevista completa com J.LANCENET!: Quem é o seu ídolo no futebol? Como você começou a jogar bola?

J.: Meu ídolo é claro que é o Neymar. Comecei a jogar futebol mais no futsal. Nunca tinha colocado uma chuteira no pé, nunca tinha jogado campo. Já tinha jogado em Ribeirão, com a (Fundação) Casa, mas agora tenho essa oportunidade no Rio Claro. Estou aproveitando bastante para tentar alcançar meus objetivos. Vou fazer o máximo para conseguir passar por esse teste.LNET!: Para que time você torce?
J.: Santos.LNET!: Você já foi na Vila Belmiro? Acompanhava os jogos?
J.: Nunca fui não, mas tenho esse sonho sim. Já acompanhava os jogos do Santos.LNET!: O que aconteceu para voce entrar na Fundação?
J.: Foi um momento ruim, mas agora estão acontecendo coisas boas. Como estar tendo essas oportunidades aí... Estar indo para lugares, conhecendo lugares novos, pessoas novas, fazendo amizades... É bom.LNET!: Você acha que isso favorece sua recuperação? O futebol está sendo a saída agora?
J.: Favorece sim, está sendo a grande saída. E muitos objetivos.. Você coloca na mente, na cabeça, para ter um futuro melhor.LNET!: Você pretende ser jogador de futebol? Tem abição de chegar a algum clube profissional?
J.: Tenho sim. Vamos ver. Tendo as oportunidades, conseguindo fazer o meu máximo... Estou fazendo o possível e o impossível para realizar esse sonho.LNET!: O que aconteceu para você entrar na Fundação? Como é que foi?
J.: Estava no lugar errado na hora errada... No momento errado, na hora errada, amizades erradas e caí lá dentro da Fundação. Estou passando por cima dessa barreira.LNET!: Há quanto tempo você está lá?
J.: 7 meses.LNET!: Como é que é a vida lá? Como é o dia-a-dia lá na Fundação Casa?
J.: Na convivência você tem que fazer o melhor possível, para ter uma convivência boa com os outros adolescentes, mas é tranquilo...LNET!: Você tem amigos lá? O que você faz durante o dia?
J.: Durante o dia tem cursos profissionalizantes, oficinas. Durante a noite, a gente vai para o esporte ou capelania, religião.LNET!: Você segue alguma religião?
J.: Não sigo nenhuma religião exata, mas creio em Deus bastante. Tenho fé sim.LNET!: Caso você não passe, o que você pretende fazer? Pretende continuar tentando?
J.: Pretendo sim. Posso passar, como posso não passar. Sei que é uma possibilidade.LNET!: Você vai ficar até quando na Fundação?
J.: Pelo meu comportamento eu não sei... Vou sair rápido, eu acho...

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