domingo, 18 de outubro de 2015

Da bola fora ao gol de placa: como Giovanni Augusto deu a volta por cima na carreira Ídolo atleticano superou estigma de baladeiro para reabrir portas no futebol; ele ainda aposta no título do Campeonato Brasileiro pelo Atlético postado em 24/09/2015 08:00 / atualizado em 24/09/2015 08:19 Roger Dias /Estado de Minas Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press "Devo muita coisa à minha família. Sou mais quieto. Quando não estou treinando, estou em casa" Aos 26 anos, o paraense Giovanni Augusto sabe como poucos o que é dar a volta por cima. Sua carreira de jogador poderia ter terminado há quatro anos por causa de bebidas e baladas, mas graças ao apoio da família soube corrigir o rumo e voltar a se concentrar no futebol. O marco foi o nascimento do filho, Vittório, hoje com 2 anos, fruto do relacionamento com a esposa, Izabel. Revelado pelo Atlético em 2010, passou por diversos clubes de menor expressão até retornar ao alvinegro no início deste ano. “Foi difícil conseguir emprego pela fama de baladeiro, marca negativa. Foi difícil apagar tudo”, reconhece nesta entrevista ao EM o jogador, natural de Belém, que chegou à base do Galo em 2008. Os anos se passaram e ele é um dos pilares da equipe de Levir Culpi, que luta pelo título brasileiro. Livre de suspensão automática, será uma das armas contra o Joinville, domingo, às 16h. Com o fim dos problemas extracampo, ele tenta servir de exemplo aos jovens do grupo, como Carlos, Dodô e Jemerson. PERDIDO NA BALADA Subi para o profissional em 2010 com o Vanderlei Luxemburgo, mas não tive sequência de jogos. Participei do título mineiro e, em seguida, fui emprestado ao Náutico. Fiz boa Série B e voltei para o Atlético, com o Dorival Júnior. Tive muitas chances e comecei a me destacar. Apareci na mídia e tive o reconhecimento dos torcedores. Mas não me dediquei ao máximo. Não importo de falar, porque tudo foi verdade. Perdi o foco e priorizei outras coisas na minha vida, como baladas, mulheres, bebidas... Eu era muito novo, estava solteiro e morava sozinho. Fiquei perdido e meu rendimento começou a cair. Depois fui emprestado e tentei uma série de clubes para voltar ao Atlético, que sempre acreditou em mim desde a base. Sempre tive o sonho de dar volta por cima e dar um título a essa torcida maravilhosa. A FAMÍLIA ME SALVOU Só consegui chegar aonde queria graças ao meu filho, Vittório, e a minha esposa, Izabel. Eu a conheci em 2012, quando jogava no Criciúma. Ela chegou à minha vida para somar e me colocar no eixo, além de mostrar o outro lado da moeda. Mesmo com ela do meu lado, passamos dificuldades em 2013, no Náutico. Aquele ano não foi bom, porque tive séria lesão e não conseguimos fazer bom Estadual. Acabei sendo afastado, e ela estava grávida. Foi difícil conseguir emprego pela fama de baladeiro, pela marca negativa. Foi difícil apagar tudo. Meu empresário ligava nos clubes e os diretores falavam que eu era bom jogador, mas que meu extracampo atrapalhava muito. Isso foi me chateando bastante, porque já estava com a cabeça no lugar. As pessoas não queriam acreditar que eu tinha mudado. Minha responsabilidade era grande, porque já tinha um filho. Consegui dar a volta por cima quando fui para o ABC e para o Figueirense, no ano passado. Devo muita coisa à minha família. Hoje sou mais quieto. Quando não estou treinando, estou em casa com meu filho. Faço trabalho com um massoterapeuta, que me ajuda a fazer alongamentos e massagens, prevenindo lesões. Isso tem sido bem válido. Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press "Temos de acreditar, como a torcida. Por mais que seja difícil, vamos lutar até o fim" LIÇÃO PARA OS JOVENS Converso muito com o Carlos, meu companheiro de quarto, com o Dodô, com o Jemerson... Mas eles são meninos bem mais tranquilos do que eu era. Muitos moram com a família e isso ajuda bastante. Mas sempre converso para que eles tenham cuidado, porque tudo é ilusão, tudo é passageiro. Mas tenho certeza de que eles estão bem e isso não será problema na carreira. TÍTULO. EU ACREDITO O Corinthians é muito forte e vem em bom momento, mas temos de fazer nossa parte em casa. Fora, conseguimos jogar bem e vencer os jogos. Não podemos vacilar no Independência. E temos de acreditar, como a torcida fez no último jogo. É uma marca da torcida e mexe bastante com o jogador. Por mais que seja difícil, nós também acreditamos e vamos lutar até o fim. Enquanto houver esperança, vamos dar nosso máximo e torcer para que o Corinthians tropece. O confronto direto será um tira-teima RENASCIMENTO NO GALO Tive um imbróglio com o clube, porque meus procuradores conversaram comigo sobre interesses de outros clubes. Perdi o foco e deixei o Atlético de lado. Mas Deus me mostrou mais uma vez o caminho certo. Tinha quase cinco meses que eu só treinava, porque acionei o clube na Justiça. O Levir me perguntou como estava minha situação e me deu vários exemplos do que ele passou na vida. Ele mostrou algumas saídas e eu entendi. Fiquei muito feliz quando disse que queria contar comigo e não pensei duas vezes: conversei com o empresário e ele entendeu meu lado. Conversei com o Eduardo Maluf na semana da final do Campeonato Mineiro e tudo mudou de um jogo para o outro. Entrei no segundo tempo contra a Caldense e dei passe para o gol do título. Tudo mudou, porque fiz a melhor escolha, que era ficar. SELEÇÃO, POR QUE NÃO? Tenho de continuar a fazer bons jogos para mirar a Seleção. Assim como o Lucas Lima e o Renato Augusto tiveram chances, eu posso ter no futuro. Seleção é algo que todo jogador quer. OBRIGADO, LEVIR Foi um treinador que me ajudou bastante, procurou sempre conversar. Tenho carinho muito grande, porque ele tem uma conduta muito diferente de outros. Não é arrogante, não quer aparecer mais que os jogadores, e a educação é uma coisa fantástica. Ele começa as reuniões sério, mas depois solta uma piada e acaba descontraindo o grupo. É merecedor de tudo o que conquistou. Quero retribuir essa confiança. GOL HISTÓRICO Fiz um gol muito importante. O Figueirense estava na zona de rebaixamento e não vencia havia alguns jogos. A imprensa paulista publicou que éramos os adversários ideais para uma possível goleada corintiana. Entramos como se fosse uma final. Tive a felicidade de estar no lugar certo para fazer aquele gol e nos dar a vitória. Acabei entrando para a história do estádio que ia inaugurar a Copa do Mundo no Brasil. Passei três dias seguidos dando entrevistas. Não me canso de lembrar e comentar sobre aquele dia. AMIZADE COM GANSO Admiro muito o Ganso, grande amigo. Meu momento é melhor que o dele, mas o Ganso já fez muita coisa no futebol, conquistou títulos importantes e eu tenho de correr muito para chegar aonde ele chegou. Estou confiante, este é meu momento. Farei de tudo para conquistar títulos. Estou num grande clube e isso tem grande chance de acontecer. EUROPA? AGORA NÃO Tenho com 26 anos e estou tranquilo. Recebi algumas propostas de Portugal (do Sporting) na metade do ano. Chegou uma proposta, mas o Atlético não se interessou. Todo jogador busca reconhecimento, é o que todo jogador busca, mas, sinceramente, estou concentrado apenas no Atlético. Quero dar um título para esta torcida e entrar para a história. No momento, não penso em Europa e sim em evoluir aqui. Quem sabe no futuro possa ir e voltar para ter novo grande momento.

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