COPA LIBERTADORES

Marxistas que creem em Deus
Renan Damasceno - Estado de Minas
Publicação:12/07/2013 08:00
Quando o goleiro Victor pulou no canto esquerdo e espalmou o chute do argentino Maxi Rodríguez, na quarta-feira, no Independência, na última cobrança da disputa de pênaltis contra o Newell’s Old Boys, lance que valeu a classificação do Atlético para a inédita final da Copa Libertadores, até a ala marxista da torcida atleticana agradeceu a Deus.
Representados pela GaloMarx, uma das primeiras torcidas socialistas do Brasil, os simpatizantes da ideologia do filósofo alemão Karl Marx têm desde 2010 um ponto de encontro para discutir política e demonstrar seu amor pelo “time mais proletário de Minas Gerais”, como gostam de tratar o clube do coração.
A GaloMarx foi formada por estudantes da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, com o objetivo de lutar arduamente contra as mazelas do capitalismo, dentro e fora dos estádios. “O Atlético é o time da massa, que representa o povo. Nós somos apaixonados pelo Galo e, ao mesmo tempo, nos posicionamos politicamente sobre o futebol”, explicou o universitário Felipe Miranda Martins, de 28 anos, vestido com a camiseta que simboliza o grupo: uma cabeça de Marx no corpo do atacante Reinaldo.
A iniciativa, apesar de inusitada, não é pioneira. O Ferroviário-CE tem a organizada Resistência Coral, que desde 2005 levanta a bandeira anarco-comunista “nem guerra entre torcidas, nem paz entre classes”. Também são comuns entre as torcidas – entre elas a do Cruzeiro – as bandeiras e camisas do socialista argentino Che Guevara, que foi goleiro na adolescência.
CANTO
A GaloMarx, por sua vez, não fica só na dialética. Em uma sociedade baseada na concepção materialista, ela se esforça para crescer. Organizados em pouco mais de 100 integrantes no Facebook, vendem camisetas e esperam, em breve, comprar o próprio bandeirão e, quem sabe, entoar com mais força o grito “Olê, Marx”, numa referência aos cantos em homenagem ao ex-jogador Marques, um dos ídolos da torcida alvinegra nos últimas duas décadas.