domingo, 4 de setembro de 2016
Mineiro 'por acaso' e reprovado em teste do Galo, Uilson relembra passos até ouro e reviravolta
Em entrevista ao Superesportes, goleiro do Atlético comenta sobre pressão após falha em clássico, a conquista olímpica e o retorno da confiança para substituir Victor
postado em 04/09/2016 10:30 / atualizado em 04/09/2016 14:07
Gustavo Andrade /Superesportes , Roger Dias /Estado de Minas
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press Aos 22 anos, Uilson tenta aproveitar confiança gerada pelo ouro olímpico para crescer no Atlético
Único atleta mineiro campeão olímpico de futebol, Uilson nasceu em Minas quase que por um acaso. Nanuque, no norte do estado, se tornou sua terra natal em consequência da falta de uma maternidade em Mucuri, no sul da Bahia, onde ele foi criado. Porém, aos 11 anos, o goleiro estava de volta a Minas Gerais para iniciar sua trajetória no futebol. Hoje na equipe profissional do Atlético, Uilson foi reprovado em seu primeiro teste no clube alvinegro. As primeiras chances vieram no América, onde as boas atuações lhe renderam um convite para retornar ao Galo, clube que defende desde os 14 anos.
Em 2016, a vida do prata da casa alvinegro sofreu uma reviravolta com final feliz. Culpado pela falha na derrota para o Cruzeiro por 1 a 0, em abril, pelo Campeonato Mineiro, ele conquistou no mês passado a inédita medalha de ouro com a Seleção Brasileira no Rio. E aos poucos vem se livrando do descrédito da torcida atleticana depois de atuações seguras nos empates com a Ponte Preta, pela Copa do Brasil, e com o Grêmio, pelo Brasileiro. “Sei que posso crescer mais. Mas me sinto feliz. Se Deus quiser, posso chegar a novas conquistas e ser marcado no clube e onde passar”, ressalta o goleiro, que contou ao Superesportes a emoção de ganhar o ouro e as projeções para a carreira que está apenas começando.
Vida pós-ouro
"Tenho me preparado bem em todas as situações, tanto na Seleção, como no Atlético. Claro, com as experiências, a gente vai pegando confiança, pois passei por situações difíceis, em que precisei de paciência. Estou mais confiante e espero fazer meu trabalho da melhor forma possível e aproveitar meu momento. Foi muito importante essa conquista. Grande jogadores tentaram ganhá-la e não conseguiram. Estou muito feliz. Voltei para o Atlético para buscar meu espaço e cada dia trabalho mais com o professor Chiquinho. Cada dia quero subir um degrauzinho na minha história. Joguei no início do ano, mas infelizmente as coisas não saíram do jeito que eu quis. Queria tanto ver a torcida feliz comigo, naquele primeiro momento, contra o Cruzeiro, mas não foi possível. Agora estou podendo ver o torcedor feliz e me sentir abraçado com ele. Estou contente com isso"
Falha contra o Cruzeiro
"Queria tanto ter aproveitado melhor aquela oportunidade. Acho que não mostrei o que eu poderia dar. Mas foi o momento que Deus preparou para mim. A gente cresce nas dificuldades e dá valor nessas horas. Creio que era para eu refletir um pouco, trabalhar mais... Hoje, estou bem, confiante e trabalhando muito forte. Deus me ajudou muito. Na nossa vida, tudo tem um propósito"
Experiência olímpica
"A experiência é única. Estamos perto de craques, como o Neymar, que é um dos melhores do mundo. A gente se sente motivado a buscar as vitórias o tempo todo. Estamos na Seleção não por acaso. Queremos dar nosso melhor para fazer nossa história também"
Projeções na carreira
"Venho buscando meu espaço e estou aproveitando dar meu melhor, aproveitando ao máximo as chances. Não sabemos o dia de amanhã, mas estou dando meu melhor para abraçar as chances. Cada vez mais quero jogar, ganhar experiência e enriquecer meu currículo no Atlético, como fiz na Seleção"
Importância de Rogério Micale
"Trabalhamos juntos por quatro anos na base e ele sabia das minhas qualidades, me conhecia como ninguém. Fui convocado para os amistosos antes das Olimpíadas e tive boas atuações, jogando mais adiantado. Procuro me adaptar a esse estilo de jogo. Ele sempre reconheceu meu trabalho. Na Seleção, pude demonstrar meu futebol e aquilo o que ele espera de mim"
Habilidade com os pés
"Eu me adapto a todos os estilos de jogo. Cada treinador tem o seu. Quando é preciso jogar com os pés, tento fazer o melhor. Essa é uma de minhas qualidades. Mas não sei jogar apenas com os pés. Tento ser seguro também perto do gol. Quero sempre fazer meu melhor e entender o que o treinador pede"
Evolução
"A gente sempre tem que estar preparado. Costumo falar com meus companheiros que a gente treina muito, mas também sofre gols. Imagina se não treinássemos? O trabalho vem sendo bem-feito pelo Chiquinho. A gente vê o Victor e o Giovanni sendo destaques e eu também estou jogando com frequência. Eu trabalho muito, mas sei que não há goleiro perfeito. Temos que melhorar nossa habilidade, nossa velocidade e em todos os aspectos. O treinamento é essencial na posição"
Relação com Victor
"O Victor é um goleiro consagrado, foi campeão várias vezes e já passou por situações boas e ruins, como lesões e falhas. A gente aprende com isso e ganha experiência. Victor é sensacional e eu me espelho nele. Espero que cada vez mais eu possa construir minha história. Ele já fez a dele, com muita luta e garra, é um grande goleiro e pessoa. Pretendo ter minha história na Seleção e onde eu jogo. Quero ser feliz"
Nanuque ou Mucuri?
"Nasceria em Mucuri, no sul da Bahia, uma cidade pequena, e lá não tem maternidade. Quando as mulheres vão ter bebê, têm de ir para Minas ou para o Espírito Santo. Nanuque era mais perto e fui registrado lá, apesar de nunca tê-la conhecido. Minha família é baiana, tenho amigos em Nanuque, mas eu sou de Mucuri. Tenho muito orgulho de minha cidade, pois o interior é bom. Sempre que vou lá vejo meus amigos e minha família"
Chegada ao Galo
"Tinha um treinador em Mucuri na época chamado Bitata, que arrumou um ônibus, juntou um grupo de meninos e nos trouxe para cá. O primeiro clube que fui fazer teste foi o Atlético e fui reprovado. Passou um tempo depois, fui para o América, depois segui para o Espírito Santo ficar com minha irmã mais velha, que estava grávida. No América, fiz alguns jogos e o Atlético me convidou novamente para fazer testes. Estou até hoje aqui"
Período longe da família
"Cheguei em Belo Horizonte com 11 anos e estou até hoje. Quando tiver meu filho, penso que vai ser difícil ficar longe dele. Deus tem um propósito nas nossas vidas. O Atlético me ajudou muito. A estrutura é muito boa. Quando cheguei aqui, fiquei encantado. Algumas coisas melhoraram, mas desde sempre o clube valorizou a base, dando suporte, escola, alimentação..."
Obstáculos superados
"Como a maioria dos jogadores, meus pais não tiveram boa vida financeira. Meu pai era pescador e minha mãe trabalhava de faxineira na Bahia. Mas isso não me impediu que eu conquistasse meus sonhos e buscasse o que eu queria. Teve um período difícil quando eu fiz cirurgia no joelho ligamento cruzamento, aos 18 anos, e fiquei um ano parado. Também tive saudade dos amigos e da família. Mas não me arrependo das minhas escolhas. Hoje posso realizar meu sonho, jogando com grandes atletas e sendo titular de um clube como o Atlético. Tenho que agradecer muito por tudo. Sei que posso crescer mais. Mas me sinto feliz. Se Deus quiser, posso chegar a novas conquistas e ser marcado no clube e onde passar"
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