sábado, 16 de março de 2019
Meninas do Galo precisam conciliar o futebol com empregos em outras áreas
Na Arena Inconfidência, elas são goleiras, zagueiras, meio-campistas e atacantes; durante o dia, é possível encontrar quem seja cabeleireira, ajudante de van escolar, contadora e vidraceira, dentre outras profissões
Lohanna Lima
10/03/19 - 07h00
O mês de março tem sido de muita expectativa para um grupo de meninas que viu a vida mudar há aproximadamente três meses. O elenco de futebol feminino do Atlético se prepara para a estreia na Série A2 do Campeonato Brasileiro, marcada para o fim deste mês. Desde que deixaram o Prointer, para defender a camisa do Atlético, elas têm se permitido sonhar com um futuro melhor por meio de oportunidades que antes eram inimagináveis para muitas. Porém, como as coisas nunca foram fáceis para o futebol feminino no Brasil, muitas delas conciliam empregos em outras áreas com a rotina de preparação para os torneios.
Na Arena Inconfidência, onde acontecem os treinamentos da equipe, elas são goleiras, zagueiras, meio-campistas e atacantes. Durante o dia, longe do bairro Concórdia, é possível encontrar quem seja cabeleireira, ajudante de van escolar, contadora e vidraceira, dentre outras profissões.
No Prointer, as meninas treinavam uma vez por semana no campo de terra, e a escassez de materiais e demais recursos básicos eram um problema constante para o grupo. Com a ida para o Atlético, as jogadoras passaram a treinar seis vezes por semana – sendo três na grama sintética da Arena Inconfidência e outras três em uma academia conveniada ao clube – o que já é considerado uma grande evolução, como explica a coordenadora do futebol feminino do Atlético, Nina Abreu.
“Elas tiveram um excelente ganho na rotina de treino, de preparação, de tratamento e também de nutrição. Hoje, por exemplo, elas precisam seguir uma dieta de pré e pós-treino. Então, aquelas meninas que chegavam aqui antes com uma lata de refrigerante e uma coxinha nas mãos não chegam mais. Elas sabem e entendem que, agora, precisam se adaptar ao que o clube programa”, explica.
Trabalho. Com o sonho de se tornar uma atacante reconhecida e de um dia fazer parte da seleção brasileira, Rayane Pires, 22 anos, é uma das jogadoras que conciliam a rotina de treino com um trabalho em outra área. E essa situação não é nenhuma novidade para a jogadora, já que, na maioria dos times pelos quais passou, ela sempre precisou de uma atividade extra para sobreviver e ainda arcar com os custos do futebol.
“Eu já trabalhei como caseira, atendente de telefone, entregando panfletos, olhando crianças. Hoje, eu sou vidraceira, tenho meu próprio negócio. É uma rotina puxada, mas eu tento encaixar os horários da melhor maneira. Como só treinamos à noite, é pela manhã que eu me organizo e faço a maior parte do serviço. Eu corto vidro, instalo, tiro medidas, faço de tudo um pouco”, afirmou a atacante atleticana.
Jogadoras com lesão no joelho são operadas com supervisão de Rodrigo Lasmar
Pouco tempo antes do anúncio da parceria entre Prointer e Atlético, duas jogadoras sofreram sérias lesões no joelho: a volante Ramires e a zagueira Thalita. No entanto, o Atlético decidiu integrar as garotas ao grupo e ajudar na recuperação das atletas, com a colaboração do doutor Rodrigo Lasmar e do doutor Otaviano Oliveira – responsáveis pelos cuidados aos atletas da equipe masculina.
Posteriormente, outras duas jogadoras se lesionaram no treinamento. O tratamento dos quatro casos exige cirurgia, sendo que duas já foram realizadas com a supervisão de Lasmar, como explica a coordenadora Nina Abreu.
“O Otaviano me indicou vários profissionais que me atenderiam pelo plano de saúde que as meninas possuem. O doutor Rodrigo Lasmar se interessou pelos casos, e ambos supervisionaram as duas primeiras cirurgias e as demais que ainda vão ocorrer”, declarou a coordenadora de futebol.
Carteira assinada e foco no futebol são atrativos na Raposa
Uma situação que parece tão simples em comparação com o futebol masculino é uma verdadeira conquista para as meninas que sonham em jogar futebol. Principal nome da equipe feminina do Cruzeiro, a atacante Paula Vincenzo, com passagens pela seleção brasileira de base e principal, destacou que não pensou duas vezes em acertar com o Cruzeiro ao descobrir que teria sua carteira assinada.
Ela relata os problemas que já enfrentou na carreira por conta do não cumprimento dos termos contratuais e da falta de pagamento. “Ter a carteira assinada foi um dos fatores primordiais, rodei por alguns times e eu nunca tive isso. Já tive problemas de pagamento, fiquei quatro, cinco meses sem receber. Isso acaba mexendo com o emocional, o desempenho das atletas, que influenciam diretamente dentro de campo. Aqui, no Cruzeiro, vamos ter esse privilégio. O futebol feminino vem crescendo, e nós merecemos isso. A mulher merece isso”, comemora Paula.
No projeto desenvolvido pelo Cruzeiro, uma das metas estabelecidas pelo clube foi a de proporcionar às atletas concentração total no futebol, evitando trabalhos externos, por isso a carteira assinada. De acordo com a coordenação, apenas duas jogadoras fazem uma espécie de trabalho paralelos, estágios em suas respectivas graduações acadêmicas. (Josias Pereira)
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