terça-feira, 14 de abril de 2020

Há 80 anos... Dondinho, pai de Pelé, atuava pelo Atlético-MG; lesão fechou "porta da fama" Goleador do Sul de Minas, Dondinho aguardava nascimento de Pelé quando, em abril de 1940, era testado pelo Galo em amistoso em Belo Horizonte; lesão no menisco impediu contratação Por Frederico Ribeiro — Belo Horizonte 08/04/2020 03h10 Atualizado 2020-04-08T13:34:40.932Z Há 80 anos... Dondinho, pai de Pelé, atuava pelo Atlético-MG; lesão fechou Há 80 anos... Dondinho, pai de Pelé, atuava pelo Atlético-MG; lesão fechou Reprodução Foi há 80 anos que o progenitor do Rei do Futebol chegou a Belo Horizonte para a grande oportunidade da carreira de jogador. A fama de artilheiro - principalmente no jogo aéreo - no Sul de Minas chegou até a capital. Mas a "porta da fama", como ele disse, se fechou rapidamente. Em 7 de abril de 1940, João Ramos do Nascimento, Dondinho, pai de Pelé, atuava em amistoso pelo Atlético-MG, em passagem meteórica marcada por lesão no joelho. O maior jogador da história do futebol ainda estava na barriga da mãe. Dondinho nasceu em 1917 na cidade mineira de Campos Gerais. Foi para Três Corações por conta do alistamento militar. Já era jogador e com grande potencial. Como centroavante, vivia fazendo gols. Em 1939, jornais do Rio de Janeiro como Jornal dos Sports, Correio da Manhã e O Jornal relatavam as façanhas de Dondinho pelo Atlético de Três Corações, onde nasceria Pelé. "Dondinho, a maravilha negra do Athletico, apesar de não estar num grande dia, marcou quatro belíssimos tentos de cabeça" - O Jornal em 20 de agosto de 1939. Não era raro ver Dondinho marcar mais de dois gols em jogos amistosos que ferviam no sul mineiro. Fez fama local, e o Atlético-MG o contratou para uma vaga especial. Desde o segundo semestre de 1939 que o Galo havia perdido Guará, o quarto maior artilheiro da história do clube. A direção alvinegra procurava sem parar um centroavante. Dondinho, chamado de Leônidas do Sul de Minas, foi testado em um jogo amigável contra o São Cristóvão do Rio de Janeiro, no antigo estádio Antônio Carlos. Ele tinha apenas 22 anos. - Naquele tempo, os jogadores de frente jogavam plantados. Dondinho fazia diferente. Ele vinha de trás, com a bola dominada e, por isso, chamava a atenção - Gerson Sabino, ex-goleiro do América-MG, jornalista e irmão de Fernando Sabino, à Placar de 1994. A partida terminou em 1 a 1, com Dondinho sofrendo uma lesão no menisco do joelho direito após dividida com o zagueiro Augusto, que faria parte da seleção brasileira do Maracanazo na Copa de 1950. Veja o relato do jogo no Jornal dos Sports de 9 de abril de 1940: "Em Bello Horizonte, o São Christovão mediu-se com o Athletico Mineiro e alcançou um expressivo empate de um goal. O match ainda que apresentando falhas technicas, agradou pelas ações equilibradas e pelo enthusiasmo com que se apregaram os adversários. Os dois tentos da disputa foram obtidos no primeiro período. Sellado fez o gola do Athletico aos 28 minutos e Mathias empatou aos 31. Os quadros formara assim S. Christovao - Magdalena; Hernandez e Augusto; Oscarino, Dodô e Picabéa; Vicente, Joãozinho (depois Nena), Quinha (depois Joaquim), Nestor e Mathias Athletico - Kafunga, Quirino (depois Linthon) e Evandro; Cafifa, Jayme e Bala (depois Quirino); Manja, Sellado, Dondinho (depois Hamilton), Nicola (depois Palista) e Rezende". Recordações Em novembro de 1971, a extinta revista O Cruzeiro trazia uma reportagem com conversa entre Pelé e Dondinho. O Rei lembra que seu pai poderia ter sido um centroavante de ponta do futebol brasileiro se não fosse a "água no joelho" naquele amistoso pelo Galo. Dondinho conta a versão do que aconteceu no amistoso com a camisa atleticana: - Modéstia à parte, o destino só me abriu as portas da fama uma vez. Foi em Belo Horizonte. Havia um amistoso entre meu time, o Atlético Mineiro, e o São Cristóvão, do Rio. O meu futuro iria depender daquele jogo. Até parece que estou vendo a cena na frente de meus olhos. Numa bola dividida, que estava mais para mim, Augusto, o 'becão' que me marcava dentro da área, pegou meu joelho torto no carrinho, e lá se foram todas as esperanças de conseguir o contrato que precisava. Como operação de meniscos era negócio só para rezadeira curar, o remédio foi me fazer de durão e continuar a minha lida, vagando pelo interior acanhado, de onde tinha saído, para não deixar a mulher e os meninos sem comida. Na mesma reportagem, Pelé lembra que reencontrou o algoz do pai, em 1957. Com a camisa do Vasco, em um combinado entre o time carioca e o Santos, Pelé jogou sob o comando do já aposentado e treinador Augusto. - O senhor (Dodinho) não sabe, mas muitos anos depois, jogando por um combinado Santos-Vasco, fui apresentado ao Augusto, que não se lembrava de nada. O nosso técnico, no combinado, era ele mesmo. Goleamos o Belenenses por 6 a 1. Fiz três, o Álvaro marcou dois, e o Pepe fechou a rosca. Augusto não conteve a emoção, me encheu de abraços e muitas palavras de estímulo - disse Pelé, para o pai. A história de Dondinho, craque da bola e primeiro ídolo do Rei do Futebol A história de Dondinho, craque da bola e primeiro ídolo do Rei do Futebol Dondinho foi substituído ainda no primeiro tempo na única partida realizada em Belo Horizonte. Lesionado e ainda fora da época do tratamento adequado de menisco, a chance de fazer contrato com o Atlético foi para o espaço. Ele voltou para Três Corações e, ainda O Jornal do Rio, noticiava que o artilheiro estava em má fase: "Não é o mesmo de 1939". João Ramos do Nascimento teria a alegria da paternidade em outubro daquele 1940. Nasceria o primogênito Edson, que ganhou o apelido de Pelé por não saber pronunciar corretamente o nome do goleiro Bilé, do Vasco de São Lourenço-MG, outro time que Dondinho serviria. O centroavante mudaria com a família de Três Corações para Bauru, onde seria destaque do BAC (Bauru Atlético Clube). Seria na equipe azul e branca que Pelé daria os primeiros passos com a bola, até chegar ao Santos aos 16 anos e virar lenda. Maior artilheiro da história do futebol, teve a quem puxar. Dondinho poderia ter virado goleador no Galo, participado da inauguração do Pacaembu em maio de 1940, e Pelé fatalmente nasceria em Belo Horizonte, cidade que ele, segundo a Revista Placar, conheceu ainda na barriga de Dona Celeste, hospedada no velho e demolido Antônio Carlos enquanto Dondinho tentava a sorte com o Atlético. A herança desse episódio, entretanto, foi Pelé afirmar, em 1999, também na Revista Placar, que era torcedor do Galo na infância. "Na verdade eu torcia para o Atlético Mineiro porque meu pai, seu 'Dondinho', jogou lá" - Pelé.

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