terça-feira, 14 de abril de 2020

Em velha batalha jurídica contra consórcio, Atlético-MG ainda pretende reaver até R$ 4 milhões Galo e consórcio CIE-Octagon/Koch Tavares quase firmaram parceria milionária em 2000, mas negócio deu para trás e deu início a briga judicial que completará 20 anos em 2021 Por Frederico Ribeiro — de Belo Horizonte 10/04/2020 05h10 Atualizado há 4 dias Em velha batalha jurídica contra consórcio, Atlético-MG ainda pretende reaver até R$ 4 milhões Em velha batalha jurídica contra consórcio, Atlético-MG ainda pretende reaver até R$ 4 milhões Frederico Ribeiro Uma das ações administrativas da gestão do presidente Sérgio Sette Câmara no Atlético-MG foi homologar acordo judicial com um credor (WRV) que cobrava quase R$ 80 milhões do clube desde 2000. O problema está sanado com pagamentos mensais de uma dívida reduzida para R$ 44 milhões. Há quase 20 anos, também, o Atlético discute judicialmente com um (quase) parceiro de investimentos - CIE-Octagon/Koch Tavares - e espera reaver de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões. Tudo começou no fim dos anos 1990, quando os clubes brasileiros buscavam parceria para sanar dificuldades financeiras. Enquanto o Flamengo e o Grêmio assinavam com a ISL, o Cruzeiro e o Corinthians traziam a Hicks & Muse, o Galo e o Santos fechavam um acordo de parceria com o consórcio CIE-Octagon/Koch Tavares. Na verdade, a assinatura do contrato que investiria 245 milhões de dólares em 15 anos no clube nunca ocorreu. E, desde novembro de 2001, o Atlético iniciou uma batalha para ser indenizado em 20 milhões de dólares pela desistência do pré-acordo. A parceria foi anunciada em dezembro de 1999, com promessa de assinatura - que nunca ocorreu - para os primeiros meses de 2000. Os 20 milhões de dólares eram R$ 47,3 milhões à época, que correspondem a R$ 141 milhões atuais corrigidos pelo IPCA. - Na justiça brasileira as coisas não andam de forma rápida, imagina com coronavírus. Mas isso é algo que, mais dia ou menos dia, vai acontecer, e o Atlético vai receber de volta, acredito, R$ 3 milhões ou R$ 4 milhões - disse Sérgio Sete Câmara, ao GloboEsporte.com (veja a entrevista completa sobre o tema abaixo). Na época, o Atlético não conseguiu pagar custas processuais quando entrou com a ação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, contra a Koch Tavares, o Banco Baring e a T4F Entretenimento (sucessora da mexicana CIE). Em primeira instância, a busca pelo ressarcimento de 20 milhões de dólares para o Atlético resultou em decisão desfavorável. Entretanto, iniciou-se nova discussão por conta dos honorários advocatícios que o Galo deveria pagar à empresa. O processo se arrastou ao longo dos anos, teve outras ações relacionadas - como uma movida pela Koch Tavares contra o Galo, na qual o clube mineiro foi condenado em R$ 3 milhões por má-fé. Em resumo, o Atlético ficou réu de outra outra ação movida pelo consórcio, que cobrava mais de R$ 4 milhões e chegou a conseguir penhora de bens do clube. O Galo entrou com recurso, e o caso foi parar no STJ. É neste campo que o Alvinegro pretende "descongelar" os até R$ 4 milhões que sofreram ordens judiciais de penhora. Detalhes da parceria O Atlético havia batido na trave na campanha do Campeonato Brasileiro de 1999. Montou um bom time, com Guilherme e Marques no ataque, Belletti e Robert na armação. Mas muitos jogadores precisavam de investimentos para renovar contrato - em época pré-Lei Pelé. Isso acabou gerando o imbróglio com a WRV, inclusive - no qual o Galo solucionou e já pagou R$ 14 milhões. Para manter o time forte, o jeito foi fechar parceria com a Koch Tavares e mais duas empresas internacionais. Tudo estava pronto para a assinatura do negócio. Entretanto, houve medidas provisórias que limitavam a quantidade de clubes que um fundo de investimento poderia fazer esse tipo de negócio. A Koch Tavares estava avançada com o Santos. Basicamente, o fundo injetaria dinheiro no clube e ganharia o direito de receber as receitas de venda de direitos de televisão, patrocínio e outras verbas. A grana que entrava seria para investir no futebol e no patrimônio (obras na Cidade do Galo, por exemplo). De imediato, foram disponibilizados 10 milhões de dólares em luvas pela assinatura e outros 15 milhões de dólares para contratações - dos quais 11 milhões já estavam comprometidos para manter jogadores do elenco de 1999. As contrapartidas: seria criada uma empresa (Galo Licenciamento) que cuidaria da marca do clube, da qual o Atlético teria direito a 25% do lucro líquido anual. O Galo manteria 100% dos direitos dos jogadores presentes no elenco, mas só 30% dos atletas contratados no período da parceria. Nada disso prosperou, e o que se criou foi um embate de anos e anos sobre o ressarcimento de 20 milhões de dólares. - Estava tudo encaminhado, mas depois que a parceria no Cruzeiro começou a não dar certo, eles pararam no meio do caminho e não quiseram fazer mais. Fizemos um pré-contrato, um acordo para fazer análise, saber preço de jogador... Se passou muito tempo já. O Bebeto (de Freitas) e Elena (Landau) estavam nessa fase. Mas eles (Koch Tavares) decidiram parar, e não fizemos a parceria - lembra Nélio Brant, presidente do Atlético na época, à reportagem. Entrevista com Sette Câmara sobre o tema: GloboEsporte.com: Um acordo que chamou a atenção nessa política de pagamento de contas foi da WRV. Existe, entretanto, outro "fantasma" credor que pode atacar o Galo no futuro? Sabe-se de uma ação antiga que corre entre Atlético-MG e a Koch Tavares... Sette Câmara: Aquela ação da Koch Tavares não. Porque aquela ação, o valor já foi objeto de penhora lá atrás. Não me lembro quando, não foi nem no meu mandato. O que existe ali é um valor que está em garantia. E o que pode acontecer é de nós conseguirmos uma vitória parcial, digamos assim, porque o Atlético é o réu. Mas parte só do valor que foi objeto de penhora, é que permaneceria, digamos, para que fosse paga às partes. Uma parte do valor vai para o Atlético. Mas na justiça brasileira as coisas não andam de forma rápida, imagina com coronavírus. Isso é algo que, mais dia ou menos dia, vai acontecer, e o Atlético vai receber de volta, acredito, R$ 3 milhões ou R$ 4 milhões. GloboEsporte.com: A Koch Tavares assinou um pré-contrato com o Atlético para assumir a gestão do clube em troca de uma quantia significativa. Mas deu para trás. O Galo cobra o valor da multa pela quebra do contrato, seria isso? Sette Câmara: Esse processo foi o seguinte: naquela onda de empresas fazerem patrocínios e aportes nos clubes, me lembro que o Cruzeiro fez com o Hicks & Muse. O Cruzeiro ganhou muito dinheiro naquela época, eles colocaram um dinheirão no Cruzeiro, que nunca devolveu esse dinheiro em si. Era um aporte... Igual investir num empreendimento qualquer, numa ação, e ela não acontecer. Eles fizeram isso, investimentos estruturais. Enfim... Foi grande, quase R$ 100 milhões. Lembro que o representante da Hicks & Muse foi meu colega de escola e depois trabalhou na Nike (Luis Alexandre Rodrigues, ex-jogador de vôlei, que trabalhou com a Hicks e a Koch). Nesse tempo, houve um consórcio de três empresas para fazer parceria com o Atlético. Estamos falando do fim dos anos 90, antes da minha época. Koch Tavares, a Octagon e tinha mais uma empresa, acho que um banco estrangeiro (Banco Baring). O Atlético pediu o ressarcimento da multa, e essa ação foi muito complexa, fui um dos signatários da ação. Mas existia um problema tão grande de caixa que, na época, aí eu já não participava do processo, tinham custas para serem recolhidas no valor de R$ 100 mil. E o Atlético não recolheu. Com isso, ele perdeu a ação e demandou... Teve decisão contrária e não recorreu. Mas era a discussão da multa, se era devida ou não. Em um dado momento, o Atlético perdeu, porque não pagou as custas no prazo oportuno. E aí houve penhora na época, do clube. Só que uma das partes perdeu o prazo e, por isso, parte desse valor volta ao Atlético. Mas não é fantasma, ao contrário. Não tem possibilidade de vir algum tipo penhora do clube, porque o dinheiro para garantir tudo está lá. E o Atlético pode reaver parte disso daí.

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