quinta-feira, 12 de outubro de 2017
EXCLUSIVO
Rafael Moura fala do amor e do desejo de encerrar a carreira no Galo
Em entrevista para o Super FC, atacante do Galo analisa a carreira, a temporada, fala do futuro e dos objetivos que possui com a camisa alvinegra
Relação do centroavante com o clube começou desde a sua infância
PUBLICADO EM 04/09/17 - 07h00
Bruno Trindade
@SuperFC
Atleticano de infância e de coração, Rafael Moura, o He-Man, concedeu uma entrevista exclusiva para o Super FC. O jogador falou um pouco de tudo: sobre como surgiu a sua relação de amor pelo Galo, das experiências que teve no mundo da bola, de como ficou conhecido como um super heroi e do desejo de encerrar a sua carreira pelo clube que o revelou para o futebol.
A sua torcida pelo Atlético surgiu por influência de sua família?
Sim, desde novo, meus avós, minha mãe, meu pai. Eu fui criado em um ambiente de atleticanos. Comecei nas categorias de base do Atlético, o que me fez ter mais identificação ainda. Depois, me casei com uma atleticana. Então, só foi aumentando o nível de “atleticanismo”. Por tudo que o Atlético representa na minha vida, é muito bom poder retornar.
E a sua relação como jogador? Como, onde e quando começou?
No passado, a gente começava a jogar futebol na rua. Depois, fui convidado para jogar futebol de salão no Clube Belo Horizonte. De lá, um olheiro me viu e me convidou para passar para o futebol de campo. Fui para as categorias de base do Atlético, onde passei 10 anos, de 1994 a 2004, passando por todas as categorias do clube.
O fato de ter jogado futsal te ajudou no futebol de campo?
Ajudou bastante, tenho uma história longa no salão. Ganhei campeonato estadual, campeonato brasileiro. É um futebol diferente do futebol de campo. Você tem que ter mais inteligência tática, mais velocidade de raciocínio. Por minha força física e por causa do tamanho, fazia muito o pivô, e isso me ajudou bastante no futebol de campo. Até hoje, eu me lembro de algumas jogadas e tenho a facilidade de fazer um giro ou uma finalização mais rápida.
Em 2004, fez duas partidas apenas pelo profissional do Galo. Porque não seguiu no clube?
Até hoje, a gente conversa sobre isso e não tem um entendimento claro dos motivos que me levaram a sair. Hoje, a categoria de base tem muito mais paciência com os jogadores, se lança muito mais meninos do que naquela época de 2004. O Atlético era muito bem servido de atacantes. Tinha Marques, Fábio Júnior, Alex Alves, Guilherme, muita gente de qualidade. E um menino para poder se sobressair era difícil. Mesmo assim, eu já estava jogando. Só que teve uma bola que eu perdi contra o Vitória, no nosso campo ofensivo, depois a gente tomou o gol, o que ocasionou o empate. Depois disso, eu nunca mais tive uma oportunidade. Mas acho que é uma coisa divina, porque se eu não tivesse saído, eu não ia conseguir conquistar tudo o que conquistei. Talvez, se ficasse no Atlético, eu poderia ser um jogador comum, como outros que eram da minha época foram, ou ir para clubes de menor expressão. Então, eu agradeço demais por ter saído e conquistar tantas coisas.
Dos nove clubes que passou, qual mais te marcou?
Escolher um clube só é muito difícil. Talvez o Goiás pela final da Sul-Americana e por não ter ganho. Porque nos outros clubes todos, eu ganhei títulos. E pelo nível do Goiás, conseguir vencer uma final da Sul-Americana ia ser um fato histórico, íamos todos ficar gravados na história do clube. É um campeonato muito difícil, muitos clubes grandes ainda não conquistaram, e o Goiás conseguiu chegar à final. Mas acho que fui feliz em todos os clubes que passei. Cada um na sua época, cada um com sua importância. O Paysandu foi o divisor de águas na minha carreira. Eu era um menino que não servia para jogar no Atlético. E, de repente, fui vendido para a MSI, para o campeão brasileiro, que era o Corinthians à época. O Paysandu me ajudou demais também. Cada clube, eu sou muito grato. A minha família também foi muito feliz em todas as cidades que a gente morou. Porém, nada é tão bom quanto morar em Belo Horizonte e jogar no Atlético.
Como surgiu o apelido He-Man?
Surgiu no Corinthians. O jornal na época, o Lance, achava que eu era parecido com ele, pelas características físicas, eu tinha o cabelo grande. No início, eu ficava bravo, porque eu tinha jogado aqui no Atlético e não era tão conhecido. Joguei no Paysandu, com muito destaque em campo, mas sem destaque nenhum fora por parte da mídia, nenhum reconhecimento. Quando cheguei no Corinthians, falei: ‘agora, eu vou ser conhecido’. E daí ninguém sabia o meu nome, só me chamavam de He-Man. E eu queria ser chamado de Rafael Moura. Mas depois eu entendi que o personagem era muito bacana, que eu poderia levar uma alegria para as pessoas, ter a imagem associada a mulheres, crianças, toda essa coisa boa. Depois que eu entendi isso, que o He-Man seria conhecido junto e iam associar com o Rafael Moura, eu levo da melhor forma possível e adoro o apelido.
No ano passado, você assinou com o Atlético, mas foi emprestado ao Figueirense antes. Como recebeu essa notícia e como foi a expectativa para voltar ao clube que o revelou?
Primeiro, a minha saída foi um pouco conturbada do Inter, fiquei quatro anos lá. Eu resolvi sair, em comum acordo com a diretoria, porque eu já tinha definido, com meu staff e com meu procurador, que eu queria retornar ao Atlético de qualquer maneira. Aí, o Maluf, o Daniel (Nepomuceno) entenderam tudo da melhor forma possível e que deveriam fazer esse retorno. Mas eu tinha acabado de fazer uma cirurgia no dedão do pé e eu não estava apto a voltar em grande estilo, a disputar jogos importantes. O Aguirre, na época, já me conhecendo do Inter, teve uma conversa até bacana comigo, e o próprio Atlético também, me explicando que eu não estava no nível para poder competir tão seriamente; que era melhor eu ir para o Figueirense, onde surgiu a oportunidade com a vinda do Clayton para cá; de ir para um clube onde eu ia ter mais tranquilidade por parte do torcedor, menos pressão; jogar um campeonato, o Catarinense, não tão disputado como é o Campeonato Mineiro. Foi um ano muito bom lá no Figueirense, um ano de muitos gols. Apesar do rebaixamento, foi um ano pessoal muito bom, e que possibilitou o meu retorno. Quando o Marcelo Oliveira chegou, ele já pediu o meu retorno, em junho do ano passado. Mas como eu já tinha assinado dois contratos no ano com Inter e Figueirense, eu não poderia ter um terceiro contrato. Aí, não voltei no meio do ano, mas já ficou acordado que eu voltaria no início desta temporada.
Quando voltou, o Atlético estava muito diferente desde a sua saída em 2004. Qual era a sua expectativa para este ano?
Eu joguei no Atlético na transição da Vila Olímpica para a Cidade do Galo, em 2003, 2004. Vínhamos treinar aqui algumas vezes e eu via que, a cada dia, o Atlético melhorava mais, e o sonho aumentava cada vez mais de poder retornar e utilizar toda essa estrutura. E o Atlético, de 2012 para cá, sempre monta equipes fortes. Nos últimos cinco anos, ele conquistou a vaga na Libertadores, ganhou a Copa do Brasil, a própria Libertadores. E ficou sempre próximo de poder ganhar o Brasileiro. As expectativas nossas eram as melhores possíveis. A gente queria realmente ganhar um grande título neste ano, eu principalmente, por ser da casa, no ano do meu retorno. O meu sonho era voltar e ganhar alguma coisa grande pelo Atlético. Mas, infelizmente, não foi como a gente planejou. Eu tenho certeza que o planejamento está sendo bem-feito e que temos coisas boas a colher em um médio prazo, pois é uma nova equipe que se formou depois de 2014. Tiveram muitas trocas de treinador, de alguns jogadores. A gente, agora, começa a entender o perfil do Atlético e novamente a gente tem chance de buscar os títulos.
Dá para falar porque não deu certo?
É difícil poder falar porque não deu certo. A gente tentou, lutou. A gente imagina algumas situações que poderiam ser feitas de uma forma diferente, mas se a gente realmente soubesse a receita do que não deu certo, já teríamos encontrado a regularidade e conseguido melhores partidas. A gente fez bem o papel inicial da Libertadores, nos classificamos bem na Copa do Brasil. E, de repente, tivemos um jogo ruim no mata-mata. E o mata-mata não dá chance ao erro e a gente acabou eliminado.
Você já está com 34 anos. Pensa em jogar por mais quanto tempo?
Eu, fisicamente, sou um cara que me cuido bastante. Sou um jogador que não bebe, não tenho uma vida noturna ativa. Atualmente, com ajuda da fisiologia, dos preparadores físicos, está se prolongando cada vez mais a carreira dos jogadores. Tem alguns atletas jogando próximos dos 40 anos. Antigamente, com 33, 34, já tinha que parar de jogar. Não pensei ainda em aposentadoria. Enquanto meu corpo aguentar, enquanto eu tiver prazer e sentir esse friozinho na barriga para vir treinar a cada dia, para entrar em cada jogo. Eu acho que eu ainda continuo por muito tempo. Mas eu já preciso me preparar, porque quando eu parar, eu penso em seguir uma vida na gestão, ou na comissão técnica. Então, já tenho que começar a estudar para, quando eu parar, eu já estar pronto para exercer essa nova função.
Como jogador, o que espera ganhar no Galo? Quais são os seus objetivos?
Quando eu voltei, queria ganhar muito um campeonato de expressão. Como atleticano, uma coisa que nos incomoda muito é a gozação do nosso rival de que a gente não tem bicampeonato. Isso incomoda bastante. Ganhar o Brasileiro seria maravilhoso, pois desde 1971, a gente não conquista essa competição. A Copa do Brasil e a Libertadores o clube ganhou recentemente. Não que a gente não queira ganhar essas competições. A gente quer também, mas o sonho do torcedor e do Atlético é conquistar o Brasileiro, pois tem muito tempo que estamos na fila. Então, esse é o meu grande sonho também.
O que você acha do carinho que a torcida do Galo tem com você?
Muito bacana. O torcedor fala que eu sou um torcedor em campo. Mas eu já falei várias vezes que isso não me credencia a nada, porque senão qualquer torcedor que estivesse na arquibancada poderia jogar também. É uma responsabilidade até maior porque é o time do meu coração. Então, eu tenho que medir certas coisas para não passar dos limites com os meus companheiros, não colocar a emoção na frente da razão. Por mais que eu queira fazer algumas coisas diferentes em alguns momentos, ter esse equilíbrio, essa experiência que eu tenho hoje tem dado muito certo, principalmente com o carinho do torcedor. E ele reconhece, porque sou um cara que luta, que não tem bola perdida. Mas eu não fui protegido em hora nenhuma quando teve cobrança. O torcedor me cobrou também. Eu entendi que também precisava melhorar e isso me fez crescer.
O seu objetivo é encerrar a sua carreira no Atlético?
É muito difícil você ficar fazendo lobby e pedindo por renovação, mas eu sempre deixei muito claro isso (o desejo de encerrar a carreira no Galo). Deixamos muito próximo do final do contrato para resolver isso (sobre a renovação). Eu entendo demais porque é um ano político, teve a morte do Maluf, que era um cara que ia fazer essa renovação. Mas eu estou muito tranquilo. É continuar trabalhando, me dedicando nos treinamentos e nos jogos porque essa renovação tem tudo pra acontecer naturalmente. O objetivo é parar no Atlético, poder ficar perto da minha família, conquistar os títulos. Esse é o objetivo. Seria maravilhoso. Mas o futebol muda tudo muito rápido, eu tenho que estar preparado para qualquer coisa e deixar bem à vontade o Atlético para tomar a decisão que ele quiser, mesmo sendo essa a minha maior vontade.
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