quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


Do luxo às especiarias
Dividida em Cidade Nova e a Medina, construída na Idade Média, Marrakesh exibe contrastes entre o polo moderno e o velho, onde comércio típico impera
Publicação:
11/12/2013 09:03
Atualização:
11/12/2013 09:26
Roger Dias
Enviado especial ao Marrocos
De uma lado, uma cidade exageradamente luxuosa e com todos os confortos possíveis para viver com tranquilidade e segurança. Do outro, um espaço marcado pelo grande comércio de especiarias e produtos locais, característica marcante do Marrocos. A polarização e o antagonismo saltam aos olhos em Marrakesh, cuja população é de cerca de 1 milhão de habitantes. Enquanto a Medina representa a parte velha, construída por muçulmanos na Idade Média, a Cidade Nova é o marco do avanço da civilização, das artes, da arquitetura, dos hotéis luxuosos, em que os detalhes nas formas dos casarões são tidos como fundamentais. Apesar dos contrastes, as duas partes da cidade se conectam, já que os marroquinos transitam de uma para a outra a trabalho, lazer e compras e têm de se adaptar às suas enormes diferenças.
As muralhas avermelhadas que cercam a Medina de Marrakesh, de 19 quilômetros e com espaço para 350 mil habitantes, foram construídas no século 12. O lugar mais parece um labirinto fascinante. Ali se concentra o comércio, fonte de renda da maioria da população local. Nos mercados, chamados souks, são encontradas diversas especiarias tradicionais no Marrocos e frequentemente procuradas por turistas de várias partes do mundo. A mais cobiçada é o óleo de Argan, vendido pelo equivalente a cerca de R$ 30 (a cotação do real diante do dirham marroquinho é favorável: 3,5 por 1). Ele atua basicamente em tratamento de pele, evitando rugas, cicatrizes e o ressecamento natural.
“Aqui temos especiarias de todos os tipos, principalmente itens da cozinha. São temperos para carne, verduras, que dão o gosto na comida”, enumera o vendedor Abdele Jalil. Em seu pequeno estabelecimento, numa rua apertada de Marrakesh, ele também vende sândalo, cuja madeira é ideal para perfumar ambientes; pedra pomiche, usada no tratamento de pés e mãos; e o óleo tisane, para aliviar o estresse. Há também pimentas picantes.
Entre objetos tradicionais à venda há peças em argila, trajes típicos, lenços, gorros e até roupas de cama. Mas existe espaço para o convencional, como CDs, sucos naturais, revistas, jornais e materiais esportivos. Mamet Yousself, vendedor de camisas de futebol, consegue sustentar seu negócio comercializando cerca de 15 peças diariamente. A mais procurada tem sido a do craque brasileiro Neymar, do Barcelona: “Ele tem feito sucesso”, diz Mamet.
TRADIÇÃO Pelas ruas, o que mais chama a atenção são os encantadores de serpentes. Ao toque de flauta doce, eles hipnotizam os répteis, que se erguem de forma sincronizada à música. Para que os turistas façam fotos ou acompanhem, normalmente é cobrada uma taxa. O valor é escolhido pelo cliente. Em geral, pago em moedas. “Trabalho todos os dias das 9h às 19h. Gosto muito do que faço”, conta Abdou Nouiti, um dos flautistas que atuam na Gema, grande praça da Medina.
Maior mesquita de Marrakesh, a Koutoubia, construída no século 12, só pode ser visitada por muçulmanos. Com um minarete de 69 metros, ela é uma das referências da Cidade Antiga.
O local, porém, não escapa de males modernos, como os engarrafamentos. Nos horários de pico o movimento de carros é intenso. O número de táxis dobra, formando enormes fileiras em busca de passageiros, combinadas com uma gigantesca aglomeração de pessoas saindo do trabalho.Hotéis que lembram palácios
A distância da Medina é de apenas um quilômetro, mas os traços já são totalmente diferentes quando o turista chega à Cidade Nova. As ruas são mais largas e limpas, as construções exageram no glamour, e no trânsito o fluxo é menor. Os hotéis se diferenciam pelo acabamento nas paredes, quase todos se parecendo com um palácio real. É na parte moderna que se localiza o centro financeiro e econômico e grande parte das multinacionais, como o McDonald’s e as lojas Zara, de artigos de roupa.
A maioria dos prédios tem característica horizontal em lugar da vertical. O novo polo começou a ser erguido depois da independência da França, em 2 de março de 1956.
Na parte luxuosa predomina o francês. Mas todas as crianças são alfabetizadas no idioma local, o árabe. “Gostamos muito de fazer as coisas benfeitas”, afirma um trabalhador, enquanto se esforçava para desmontar uma estrutura que serviu de apoio para o Festival Internacional de Cinema, que ocorreu em Marrakesh de 27 de novembro a 7 de dezembro, no Palácio de Congres, usado para festividades de maior porte.
É na Cidade Nova que se localizam o centro de treinamento e o Estádio do Kawkab, clube de Marrakesh que disputa a Primeira Divisão do Campeonato Marroquino. Outras atrações são a galeria de lojas na ferrovia que liga a exótica cidade a Casablanca e o grande shopping. Há também a universidade particular de tecnologia de ponta.
O hotel Selman, onde está hospedada toda a delegação do Atlético, é um dos mais completos do Marrocos, mas há uma grande diversidade de locais de hospedagem. Os valores cobrados pelas diárias são próximos do equivalente a R$ 400.
O monarca Mohamed VI, muito respeitado pela população – a forma de governo é a monarquia parlamentarista –, tem planos de ampliar o ingresso de turistas no país, esperando alcançar 20 milhões em 2020.
MODA Ainda que de tradição muçulmana, os marroquinos são menos ortodoxos que em outros países. Em vez da tradicional burca, muitas mulheres usam até calça jeans e óculos escuros. Os homens abandonam o traje típico – a djellaba, túnica longa, larga e de mangas cumpridas – para entrar na moda das jaquetas de couro e dos sapatos sociais.

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